Indústria do AM deve gastar R$ 1,3 bi em 2024 com taxa da seca e estoques

A seca na região da Zona Franca de Manaus deve custar R$ 1,3 bilhão às empresas do polo industrial. A projeção é do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas) e considera os custos efetivos que as empresas tiveram com adiantamento de estoque (R$ 846 milhões) e uma projeção do impacto da taxa da seca (R$ 500 milhões), valor cobrado pelas companhias de transporte de contêineres.

No ano passado, o custo foi de R$ 1,4 bilhão. Especialistas do setor ouvidos pelo UOL afirmam que o prejuízo não foi maior, porque terminais privados das empresas Grupo Chibatão e Super Terminais garantiram a continuidade do escoamento das mercadorias mesmo com os rios com níveis mais baixos, impedindo que o transporte fosse suspenso pela seca.

Transporte mais caro e lento

Transporte está sendo feito de outra forma devido à seca. Normalmente os produtos saem do porto em Manaus diretamente para os seus destinos. Com o baixo nível da água nos rios, os barcos não conseguem trafegar em todos os trechos do rio e as cargas precisam ser transportadas via balsas.

Balsas transportam menos mercadoria. Estas embarcações saem mais caro para as empresas, pela taxa da seca, pela capacidade ser menor do que a dos navios e por serem mais demoradas. Os navios têm capacidade de levar de 3.000 a 4.800 contêineres cada, enquanto as balsas maiores levam no máximo 400 por vez.

Empresas menores foram mais impactadas pela taxa da seca. Este valor é um adicional cobrado para o transporte de cargas nos rios em momentos de seca. Serafim Corrêa, secretário de estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas, afirma que algumas empresas conseguiram negociar os valores pedidos, isentando os pagamentos ou conseguindo valores menores. As companhias com menor poder de negociação foram as mais impactadas, precisando bancar com os valores pedidos pelas empresas de transporte.

A taxa parte de US$ 3.000 por container. Há casos em que foram cobrados US$ 5.000. No ano passado, o valor começou a ser praticado apenas após o início da seca, enquanto em 2024, as cobranças foram implementadas em agosto, após a Defesa Civil do estado informar que a seca seria ainda mais severa do que a do ano anterior — antes mesmo da seca impedir a navegação nos rios.

As balsas estão indo em direção ao porto de Belém. As cargas navegam por sete dias e, de Belém, seguem para o transporte rodoviário. Outra solução para a seca foi o deslocamento de dois terminais flutuantes para Itacoatiara, a 270 quilômetros de distância de Manaus, onde há profundidade suficiente para os navios atuarem. As indústrias da Zona Franca de Manaus enviam os contêineres em balsas e, ao chegarem no local, há o transbordo da carga para um navio.

Isso resolve o problema, não do ponto de vista de eficiência, mas a carga chega. Mas não há um tratamento de longo prazo.
Augusto Cesar Rocha, coordenador da Comissão de Logística do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas).

Em 2023, indústrias deram férias coletivas devido à seca. Sem produção, as companhias dispensaram os funcionários antecipadamente. Neste ano, os terminais garantiram o funcionamento das fábricas, que não relataram paradas pela seca até o momento. A Moto Honda, por exemplo, está fazendo o transporte de cargas via balsa até Belém e depois enviando as mercadorias pelas estradas aos seus centros de distribuição.

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Aviões também são usados, mas em menor escala. Tanto pela questão do custo alto como por especificidades de cada indústria. Itens menores como notebooks, relógios e celulares podem ser mais transportados pela via aérea. Manaus tem o terceiro maior aeroporto de cargas do Brasil, perdendo apenas para Guarulhos (SP) e Viracopos, em Campinas (SP).

Impacto em comunidades ribeirinhas

Em períodos de cheia, toda faixa de areia é coberta pelas águas do Rio Negro
Em períodos de cheia, toda faixa de areia é coberta pelas águas do Rio Negro Imagem: Giuliana Saringer/UOL

Não é só a indústria que sente os impactos da seca no Amazonas. As comunidades ribeirinhas também precisam enfrentar mudanças no dia a dia. A reportagem visitou Três Unidos, uma comunidade indígena da etnia Kambeba, localizada dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Puranga Conquista. O acesso ao local se dá de barco.

O trajeto demora 1h30 de barco saindo de Manaus. Em tempos de cheia, os barcos param na entrada da comunidade, que possui um portal com uma escada para acessar. Na sexta-feira (21), dia da visita do UOL ao local, o barco precisou parar há cerca de 15 minutos da entrada, que era até onde o barco conseguia chegar devido ao baixo nível de água do Rio Negro.

Comunidade depende dos rios para receber produtos de outras regiões. Um dos principais itens que chegam via barco é o diesel, combustível usado para abastecer o gerador responsável por toda energia elétrica do local.

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Pela distância das escolas, estudantes aprendem na comunidade. Há salas de aula com televisões responsáveis pelo ensino mediado. Um professor mediador fica no local com os alunos, mas não é especializado nas disciplinas, ele funciona como um apoio.

As aulas são transmitidas ao vivo por uma televisão instalada na sala. Os alunos conseguem fazer perguntas ao professor, que leciona de Manaus e é ligado ao governo estadual. Para que a aula seja transmitida, há duas antenas instaladas na comunidade pela Seduc-AM (Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar do Amazonas).

Apesar do ensino à distância, as aulas estão suspensas desde agosto. Isto porque nem todas as comunidades têm acesso ao sistema de ensino. Alguns jovens vão de outras regiões para assistir às aulas em Três Unidos, mas não conseguem chegar devido ao baixo nível dos rios.

*A repórter viajou a Manaus a convite do Cieam.

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