Guerra de lobby entre montadoras tem reclamação de favorecimento a chineses
Uma alteração de última hora no relatório da reforma tributária favorece as montadoras chinesas. A reclamação é das fábricas tradicionais, que tentam derrubar as mudanças.
O que aconteceu
O alegado favorecimento ocorreu no imposto seletivo, aplicado a produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente. O episódio consiste no novo capítulo da guerra de lobby que montadoras tradicionais e as recém-chegadas chinesas travam nos bastidores do Congresso.
A alíquota do imposto seletivo varia conforme enquadramento em critérios técnicos. As montadoras tradicionais alegam que a alteração destes requisitos permitirá às marcas chinesas poluir mais sem penalização em forma de tributo.
A BYD foi procurada e não se pronunciou. A montadora é o principal alvo das queixas das marcas estabelecidas há décadas no Brasil.
Argumentos das montadoras tradicionais
O UOL teve acesso a uma nota técnica entregue aos senadores. O texto é da associação das montadoras tradicionais (Anfavea). Executivos falam em dificuldades de trazer investimentos ao Brasil se a situação não mudar.
As alterações na reforma tributária teriam efeito secundário de ajudar marcas de luxo. Abaixo, os três pontos que beneficiariam os chineses e os argumentos das montadoras tradicionais.
- Etapa fabril: O lugar de fabricação foi liberado e está autorizado produzir na China, que usa energia mais poluidora. Também haveria emissão de CO2 no transporte dos carros até o Brasil.
- Potência dos veículos: O consumo de combustível está vinculado à capacidade do motor. As montadoras tradicionais alegam que os motores elétricos têm mais potência, mas isto deixou de ser levado em conta no enquadramento do imposto seletivo.
- Categoria do veículo: Um SUV e um modelo compacto pagam o mesmo imposto após a mudança. Além de consumir mais combustível, o carro maior tem mais opcionais. As chinesas têm um portfólio com muitos SUVs e poucos veículos pequenos.
O lobby para tentar derrubar as mudanças está em curso. Montadoras tradicionais conversam com senadores, mas já adiantam que vão conversar com deputados, porque a próxima etapa da reforma tributária é na Câmara.
O governo federal também será procurado. As montadoras tradicionais vão cobrar coerência porque o programa de incentivo ao setor automotivo elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços tinha critérios semelhantes aos que foram retirados da reforma.
A guerra entre chineses e montadoras tradicionais ocorre desde o começo da tramitação da reforma tributária. Ambas se revezam em sucessos e, a cada votação no Congresso, levas de executivos invadem os corredores e gabinetes do Senado e Câmara.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.