Ibovespa fecha 2024 com queda de mais de 10%, pior desempenho desde 2021
Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)
30/12/2024 18h37Atualizada em 31/12/2024 04h18
O índice referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa, encerrou o pregão desta segunda-feira (30), o último de 2024, em estabilidade de 0,01% aos 120.283,40 pontos.
No ano, o índice teve queda de 10,36%, o pior desempenho desde 2021, quando caiu 11,93%. Só em dezembro, a queda foi de 4,28%,
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Em 2023, o Ibovespa teve alta de 22,28%.
A bolsa em queda é só um reflexo da desvalorização e deterioração da percepção do 'risco Brasil'", diz Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos. "Muito disso se deve a falta de clareza e falha na condução de termas relevantes que pareciam estar endereçados, como reforma tributaria e marco fiscal."
Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, diz que a política de gastos do governo federal teve influência decisiva na queda do Ibovespa. "No início do ano casas davam Selic em torno de 8% a 9% e no final das contas tivemos uma inflação bem resiliente, gastos do governo muito forte, tudo isso contribuiu para índices no final do ano no patamar negativo", destaca. "Do meio do ano para cá começou a se enxergar que a atitude do Banco Central de corte de juros não era adequada para o momento que o país vivia diante dos gastos do governo federal."
Para Thaunahy, professor de finanças da Strong Business School, o desempenho do Ibovespa em 2024 foi moldado por um conjunto de fatores internos e externos. "Podemos destacar o cenário macroeconômico, principalmente as decisões de política monetária do Banco Central", avalia Thaunahy. "Além disso, a inflação global, a guerra na Ucrânia e as incertezas geopolíticas foram os principais drivers externos que impactam o mercado brasileiro."
"Também tiveram influência o cenário político, com as eleições presidenciais nos Estados Unidos e as reformas propostas pelo governo federal que geraram incertezas e afetaram a confiança dos investidores e nas análises setoriais, com a variação dos preços das commodities, principalmente do petróleo e minério de ferro, influenciando diretamente as empresas brasileiras ligadas a esses setores. Além disso, a alta dos juros impactou setores mais sensíveis à taxa de juros, como o setor financeiro, por exemplo."
Segundo o especialista, também se destaca o ajuste fiscal anunciado pelo Ministro da economia e analisado recentemente pelo Congresso Nacional que impactou em uma variação do dólar muito acima das expectativas do mercado para 2024.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, destaca que o resultado teve influencia mais por fatores internos do que externos. "Tivemos uma mudança clara na política fiscal no primeiro semestre, com o governo propondo metas ambiciosas.
Ele lembra que foi um bom ano para as empresas. "Muitas registraram resultados interessantes. Não foi por conta das empresas em si."
Índices Ibovespa a cada ano
- 1994: +21,59%
- 1995: -1,26%
- 1996: +63,76%
- 1997: +44,83%
- 1998: -33,46%
- 1999: +151,93%
- 2000: -10,72%
- 2001: -11,02%
- 2002: -17,01%
- 2003: +97,34%
- 2004: +17,81%
- 2005: +27,71%
- 2006: +32,93%
- 2007: +43,65%
- 2008: -41,22%
- 2009: +82,66
- 2010: +1,04%
- 2011: -18,11%
- 2012: +7,40%
- 2013: -15,50%
- 2014: -2,91%
- 2015: -13,31%
- 2016: +38,93%
- 2017: +26.86%
- 2018: +15,03%
- 2019: +31,58%
- 2020: +2,92%
- 2021: -11,93%
- 2022: +4,69
- 2023: +22,28%
- 2024: -10,35%
O mês de 2024 em que o índice teve sua maior alta acumulada foi agosto, com ganho de 6,54%. Também tiveram ganhos positivos os meses de julho (3,02%), junho (1,48%) e fevereiro (0,99%).
Os meses com maiores registros de índices negativos foram janeiro (-4,79%), dezembro (-4,28%), novembro (-3,12%) e maio (-3,08%).
O Ibovespa é o principal indicador de desempenho das ações negociadas na B3 e reúne as empresas mais importantes do mercado de capitais brasileiro. A composição do índice é reavaliada a cada quatro meses, com as ações mais negociadas e com maior volume financeiro do mercado de capitais.
Dez ações que mais valorizaram (até 27/12)
- EMBR3 (Embraer) - Material aeronáutico e de defesa: 151,59%
- MRFG3 (Marfrig) - Carnes e derivados: 99,70%
- BRFS3 (BRF SA) - Carnes e derivados: 84,58%
- STBP3 (Santos BRP) - Serviços de apoio e armazenagem: 69,04%
- JBSS3 (JBS) - Carnes e derivados: 57,83%
- WEGE3 (Weg) - Motores compressores e outros: 48,03%
- CMIG4 (Cemig) - Energia elétrica: 41,28%
- KLBN11 (Klabin S/A) - Papel e celulose: 22,36%
- CXSE3 (Caixa Seguridade) = Seguradoras: 21,00%
- PETR3 (Petrobras) - Exploração refino e distribuição: 20,49%
Dez ações que mais caíram (até 27/12)
AZUL4 (Azul) - Transporte aéreo: -79,01%
MGLU3 (Magazine Luiza) - Eletrodomésticos: -69,67%
COGN3 (Cogna ON) - Serviços educacionais: -69,63%
YDUQ3 (Yduqs Part) - Serviços educacionais: -62,23%
CVCB3 (CVC Brasil) - Viagens e turismo: -60,00%
ASAI3 (Assai) - Alimentos: -57,65%
CSAN3 (Cosan) - Exploração de refino e distribuição: -56,37%
CRFB3 (Carrefour BR) - Alimentos: -56,14%
AZZA3 (Azzas 2154) - Tecidos vestuários e calçados: -53,60%
MRVE3 (MRV) - Incorporações: -52,36%
O que esperar para 2025?
Para o ano que se inicia nesta quarta-feira (1°), o cenário é de incerteza. No entanto, alguns fatores devem ser considerados. "As perspectivas para 2025 são complexas", avalia Alexandre Pletes. "A questão do contingenciamento de gastos segue no radar. Vamos ver como o governo vai agir diante do corte de gastos. Acaba apagando incêndio com copinho de água. O custo do dinheiro está bem mais alto. Precisará ter uma atitude adequada do governo para que as coisas acabem mudando."
Para Thaunahy, a taxa de crescimento do PIB, a inflação e a geração de empregos serão cruciais para determinar o apetite por risco dos investidores. "Também a política monetária terá um caráter decisivo com a postura do Banco Central sob um novo presidente em relação à taxa de juros será um fator determinante para o desempenho do mercado", avalia.
No cenário internacional, a evolução da guerra na Ucrânia, as políticas monetárias dos principais bancos centrais e o preço das commodities continuarão a influenciar o mercado brasileiro.
Recomendações para os investidores
O economista diz que com uma visão de longo prazo e uma estratégia de investimento bem definida, é possível aproveitar as oportunidades que o mercado oferece. Por isso, os investidores devem buscar diversificação: distribuindo os investimentos em diferentes ativos, setores e regiões geográficas. A longo prazo, manter uma visão de longo prazo e evitar decisões impulsivas baseadas em oscilações de curto prazo.
"E não esquecer de fazer um acompanhamento constante, monitorando de perto os mercados e ajustar a carteira de investimentos conforme necessário", ressalta .Thaunahy.
Para 2025 haverá ainda mais interesse por renda fixa, segundo Gustavo Cruz. "Não vemos tanta vontade dos investidores de voltar para a Bolsa", diz. "Vamos também uma ascensão das criptomoedas tirando a atenção da pessoa física. São muitos elementos jogando contra o Ibovespa."