Alarme em picanha chama atenção em SC: carne bovina ficou mais cara?
Maurício Businari
Colaboração para o UOL
23/01/2025 05h30
Um supermercado em Florianópolis, no bairro Ponta das Canas, chamou atenção ao implementar lacres antifurto em cortes nobres de carne, como a picanha, a preferida dos brasileiros.
O que aconteceu
A medida, adotada pelo Forte Supermercados, busca impedir furtos e perdas num cenário de inflação crescente nos últimos cinco anos. Durante a alta temporada, quando o fluxo de clientes aumenta, os casos de tentativa de furto também crescem e o estabelecimento afirma estar sempre buscando novas tecnologias para prevenir furtos e otimizar a segurança.
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Os lacres, utilizados tanto na unidade da Cachoeira do Bom Jesus quanto na de Ponta das Canas, procuram dificultar as ações criminosas e reduzir o percentual de perdas.
Forte Supermercados
A alta nos preços da carne foi um dos principais fatores que pressionaram a inflação no ano passado. Segundo André Almeida, economista do IBGE, o preço da carne bovina subiu 20,8%, marcando a maior alta desde 2019.
Esse aumento foi atribuído a fatores como a seca, que prejudicou pastagens; o ciclo pecuário, que reduziu a oferta de bois para abate; e à desvalorização do real frente ao dólar. "A seca intensa e as ondas de calor agravaram as condições das pastagens, reduzindo a oferta e pressionando os preços no mercado interno. A entressafra contribuiu para tornar o cenário ainda mais desfavorável", explicou Almeida à Agência Brasil.
Tcharla Bragantin, economista, destacou que a estiagem que atingiu grande parte do país em 2024 forçou os produtores a suplementar a alimentação do gado, aumentando o custo de produção. Ela também observou que, apesar de uma maior disponibilidade de gado pronto para abate, o aumento das exportações e o crescimento da renda dos brasileiros contribuíram para a redução da oferta interna e elevação dos preços ao consumidor final.
Exportações em alta também contribuíram para a elevação dos preços internos. Em 2024, o Brasil exportou 2,87 milhões de toneladas de carne bovina, um aumento de 25,5% em relação ao ano anterior, conforme relatório do Deral (Departamento de Economia Rural), vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná.
A preferência de produtores por exportar devido ao dólar valorizado limitou a oferta no mercado interno, influenciando o preço da carne. Os consumidores também sentiram o impacto no bolso. Cortes como o acém e o patinho tiveram aumentos superiores a 20%, enquanto os custos gerais com alimentos e bebidas subiram 7,69%, segundo o IBGE.
A economista ressaltou que a tendência de alta nos preços da carne bovina deve levar ao aumento do consumo de bens substitutos, como carne de frango e porco. Para aliviar a pressão sobre essas famílias, ela recomenda "menor taxação e fomento à produção como formas de reduzir o preço dos alimentos e garantir acesso a proteínas essenciais".
Como possíveis soluções, Bragantin sugeriu que o governo ofereça "linhas de crédito aos produtores, especialmente aos pequenos e médios, além de reduzir a taxação sobre esse produto". Essas medidas, segundo ela, poderiam mitigar os impactos de eventos climáticos e ajudar a estabilizar o mercado interno.
Governo anterior
Durante o governo de Jair Bolsonaro, práticas semelhantes já chamavam atenção em São Paulo. Em 2019, o aumento no preço da carne foi superior ao de 2024, 32,4%. Em 2021, uma unidade do supermercado Extra no Jardim Ângela, periferia da zona sul, chegou a entregar bandejas vazias com os preços aos clientes que compravam cortes nobres, como patinho. O produto só era entregue após o pagamento no caixa.
A prática foi implementada devido ao aumento de furtos durante a pandemia, em que pessoas pegavam a carne e descartavam a embalagem. A situação gerou denúncias ao Procon-SP, cujo presidente à época, Fernando Capez, classificou a ação como "abusiva e inaceitável".
Após as denúncias, o órgão iniciou uma ampla fiscalização em supermercados, especialmente nas regiões periféricas, para verificar possíveis irregularidades e garantir o cumprimento do Código de Defesa do Consumidor. A rede Extra alegou que a prática não fazia parte de sua política e que a situação seria corrigida.