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Ideias para baixar comida geram briga de mercado, farmácia e empresa de VR

Supermercado: propostas para redução do preço dos alimentos geram disputa entre setores Imagem: iStock/Getty

Do UOL, em São Paulo (SP)

23/01/2025 18h19

As sugestões feitas ao governo pelo setor de supermercados para baixar o preço dos alimentos colocaram o segmento em rota de colisão com as farmácias e as administradoras de benefícios de vale-refeição, que se veem ameaçadas pelas propostas apresentadas.

Mudança na venda de remédios

Associação apresentou sugestões ao governo para baixar os preços dos alimentos. As propostas foram apresentadas pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados) no final do ano passado, em reunião que teve a presença do presidente Lula (PT). As medidas estão em análise pela equipe econômica de sua administração.

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Uma das medidas prevê liberar a venda nos supermercados de medicamentos isentos de prescrição. Dentre esses remédios estão analgésicos, remédios para tosse e gripe, digestivos e medicamentos de auxílio para o sono.

Medida poderia gerar redução de preços de 35% nesses medicamentos, diz entidade. Segundo a Abras, os supermercados foram liberados para vender esse tipo de remédio durante um ano na década de 1990. Na época, a medida gerou redução de 35% no preço desses medicamentos, diz. A expectativa é que a redução de preços se repetiria se a medida fosse novamente adotada. A economia nesses remédios ajudaria a população a absorver o aumento de custos nos alimentos.

O que dizem as farmácias

Remédios sem receita são 30% do faturamento das farmácias. Sendo assim, a liberação para a venda desses remédios nos supermercados teria um impacto econômico "desastroso" para as farmácias, diz a Abrafarma (Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias). Pelas contas da Abras, só a venda de analgésicos gera uma receita anual de R$ 9 bilhões.

Farmácias dizem que redução de preços é "falaciosa". Em nota, o presidente da Abrafarma, Sergio Mena Barreto, diz que "é falacioso o argumento que os supermercados venderiam medicamentos com preços até 35% mais baixos". Segundo ele, a entidade monitora mais de mil itens comuns a farmácias e supermercados, e os mercados vendem esses itens mais caro em 50% das vezes. "Por que então já não vendem mais barato itens como fraldas, cotonetes, tinturas e outros?", questiona.

Medida poderia elevar preços de outros remédios. A associação argumenta ainda que a venda desses remédios pelos supermercados pode gerar um desequilíbrio econômico para o setor de farmácias. Uma consequência possível seria o aumento de preços dos medicamentos com prescrição, a fim de dar conta dos custos da operação da farmácia.

Consumidor ficaria sem orientação do farmacêutico. Caso a venda desses medicamentos nos supermercados fosse liberada, o consumidor não teria a possibilidade de tirar dúvidas com o farmacêutico, como ocorre nas farmácias. Segundo a Abrafarma, o cliente esclarece dúvidas com o farmacêutico nas farmácias em 68% das vezes. "Quem vai responder a essas perguntas no supermercado? O açougueiro? O padeiro? O caixa?", questiona Barreto.

A réplica dos supermercados

Supermercados dizem que farmácias estão preocupadas com reserva de mercado. Em nota, a Abras disse que seu objetivo é reduzir os preços dos remédios e que a Abrafarma "está preocupada em manter a reserva de mercado e, consequentemente, o lucro das farmácias".

Ideia é contratar farmacêutico. A entidade diz que incluiu no projeto sobre o tema "a proposta de contratação de farmacêuticos para esclarecer quaisquer dúvidas dos consumidores, seguindo o mesmo formato já utilizado pelas farmácias nas vendas online".

Entidade reclama de "tom agressivo". A associação de supermercados diz ainda que "a nota da Abrafarma causa estranheza, especialmente pelo tom agressivo em relação ao mercado, considerando que hoje a maioria das farmácias comercializa de tudo, inclusive remédios". Também afirma que as farmácias já vendem remédios sem receita pela internet. "Por que as farmácias podem vender remédios sem receita via online e os supermercados não podem vender remédios sem receita de forma presencial?", questiona.

Mudanças no vale-refeição

Outra proposta da associação de supermercados que gerou polêmica envolve mudanças no funcionamento do vale-refeição e do vale-alimentação, que fazem parte do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador). A Abras propõe que o governo federal passe a gerenciar a circulação do dinheiro que as empresas destinam para esse tipo de benefício, com a ajuda da Caixa Econômica Federal e da Receita Federal. Essa verba gera descontos em impostos, por isso precisa ser controlada e não pode ser dada ao trabalhador em dinheiro, sem nenhuma diferenciação do salário regular. Atualmente, é paga por meio de cartões administrados por empresas privadas, que repassam à Receita os dados para a contabilização dos impostos. Quatro grandes companhias dominam o mercado: Alelo, Ticket, VR e Pluxee, antiga Sodexo. Pela proposta da associação supermercadista, o funcionário teria três novas opções para receber e usar o montante do VR ou o VA: Pix, Drex (o real digital) e cartão de débito da Caixa. A movimentação do dinheiro seria registrada na plataforma eSocial, do governo federal.

Atuação do governo e da Caixa estimularia a competição e geraria custos mais baixos, diz Abras. "Com isso, os preços e práticas abusivas das operadoras privadas seriam ajustados, reduzindo a atual complexidade e os altos custos do sistema", argumenta a entidade em um texto em que defende as sugestões.

Mudança elevaria poder de compra do trabalhador em R$ 10 bilhões, diz associação. Segundo a Abras, a margem de lucro das administradoras de benefícios é alta (cerca de 30%).

O que dizem as administradoras de benefício

Economia de R$ 10 bilhões é "enviesada", diz entidade. Em nota, a ABBT (Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador) diz que "a estimativa apresentada é fictícia, enviesada, e, mesmo que fosse correta, irrelevante frente ao faturamento total anual do setor supermercadista, em montante superior a R$ 1 trilhão".

Mudança poderia desestabilizar programa de alimentação do trabalhador, diz associação. A ABBT diz ainda que a transferência do programa para uma instituição financeira como a Caixa poderia "desestabilizar o programa com consequências nefastas". Isso porque a instituição não tem experiência na operacionalização do programa, em especial no relacionamento com as empresas beneficiárias e com os estabelecimentos comerciais parceiros, argumenta a entidade.

Empresas do setor dizem que fazem esforço para reduzir custos. A entidade diz ainda que "as taxas cobradas pelas empresas facilitadoras do PAT jamais poderiam justificar a alta dos preços dos alimentos" e que as empresas do setor "têm empreendido inúmeros esforços de modernização, inovação e aperfeiçoamento tecnológico que resultaram em significativas diminuições nos custos nas operações e consequentes reduções nas taxas cobradas aos estabelecimentos comerciais credenciados".

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