Com renda ainda muito baixa, inadimplência deve subir em janeiro

A inadimplência deve aumentar no Brasil em janeiro. De acordo com a projeção elaborada pelo Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo) e FIA, a taxa de inadimplência para recursos livres deve ficar, em média, em 5,37% para janeiro de 2025. Isso significa um aumento de 0,01 ponto percentual em relação ao valor real de novembro de 2024 (resultado mais recente disponível).

Entenda os dados

O que são os tais recursos livres? Esses valores são utilizados em operações de crédito como empréstimos pessoais, crédito rotativo do cartão de crédito, financiamento de veículos e bens de consumo. "Os juros e condições desses créditos variam de acordo com o mercado, a análise de risco do cliente e a concorrência entre bancos", explicou Claudio Felisoni, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School.

O endividamento faz parte da vida de grande parte dos brasileiros. Mais de 43% da população adulta é inadimplente, ou mais de 73 milhões de pessoas, de acordo com dados do Serasa. Para uma parte da população, o endividamento é um problema crônico, que não é resolvido com educação financeira: "Embora a renda do trabalho venha subindo, ela ainda é muito baixa", explicou Jorge Félix, mestre em economia e pesquisador da Fapesp.

Com renda baixa, inadimplência é inevitável. Este ano o salário mínimo subiu para R$ 1.518,00, valor R$ 106,00 maior que em 2024, ou um reajuste de 7,5%. Mas ainda está longe de ser o suficiente para manter uma família. De acordo com o Dieese, em dezembro de 2024 o salário mínimo necessário para sustentar uma família seria de R$ R$ 7.067,68.

Em outubro de 2024, o Brasil atingiu 73,10 milhões de endividados. O mês teve a segunda maior marca do ano, atrás apenas do volume registrado em abril (73,4 milhões). Os dados são do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas, do Serasa.

Número de inadimplentes pode ser ainda maior. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, elaborada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio), o percentual de famílias endividadas foi de 77,0% em novembro de 2024

Como o endividamento está dividido entre a população

Famílias mais pobres passam situação alarmante no Brasil. Artigo de Jorge Félix e Guita Grin Debert, pesquisadora da Unicamp, compilou dados de pesquisas e investigou o perfil dos endividados. O estudo aponta que as camadas mais baixas em renda estão em uma situação crônica de endividamento, e mesmo um programa de negociação como o Desenrola, encerrado em maio do ano passado, não consegue alcançar esse público.

Entre os idosos, a porcentagem de endividados é maior. Pouco mais de um terço (35,1%) dos brasileiros com idades entre 41 e 60 anos têm problemas com dívidas. Considerando toda a população idosa (de 60 anos ou mais), aproximadamente 40% estão inadimplentes. Eles também são os que menos conseguem negociar suas dívidas: entre os vários grupos etários, apenas 2,18% foram beneficiados por programas como o Serasa Limpa Nome.

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Cartão de crédito ainda tem o maior número de devedores

A maior parte dos endividados no Brasil (mais de 27%) está devendo para o banco ou tem dívida no cartão de crédito. A dívida no cartão de crédito é a mais cara, com taxas de juros que podem chegar a 22% ao mês, de acordo com dados do Banco Central. Já as taxas de empréstimo pessoal tendem a ser menores na maioria das instituições, e o crédito consignado tem juros ainda mais baixos.

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