Da chuva forte a estiagem, clima extremo prejudica agricultura no RS

Três estiagens seguidas, enchente avassaladora e, nos últimos meses, mais seca severa, com termômetros alcançando altas temperaturas no campo. Muitas cidades gaúchas estão sendo atingidas pelo calor excessivo das últimas semanas, em especial na região central do Rio Grande do Sul. O período de pouca precipitação acabou comprometendo o abastecimento de água, a produção agropecuária e a subsistência de muitas famílias agricultoras.

O que aconteceu

Após enchentes, culturas sofrem com a estiagem. Segundo Guilherme Passamani, engenheiro agrônomo e gerente regional da Emater-RS, as culturas vinham sofrendo atrasos em função das fortes enchentes de maio do ano passado. A do arroz, plantada mais tarde, acabou sofrendo mais com as estiagens, além da soja e do milho. "Os prejuízos são bastante variáveis, com perdas de 5% a 90%. Isto pode se intensificar se as condições climáticas não forem favoráveis, é claro", diz ele.

Cultura do arroz precisa da irrigação. Na cultura do arroz, uma das grandes preocupações, confirma Guilherme, da Emater, é a indisponibilidade de água para fazer a manutenção por irrigação. Os rios, açudes e barragens estão com os níveis baixos, com pouca capacidade de armazenamento.

Agricultores estão preocupados com a falta de chuva. Renato Freitas, de 69 anos, agricultor de Santa Maria, com a mulher, filho e mais três funcionários, plantam soja em 584 hectares de terra. Na atividade há mais de 50 anos, ele não esconde a preocupação com a falta de chuva. "São 60 dias nesta onda de calor. Está tudo queimado. Em determinados dias, o termômetro chegou a marcar 60ºC no solo. Nunca passei por isto antes", diz.

Produtor rural relata os desafios causados pelo calor. "Estava conduzindo a lavoura muito bem até dezembro do ano passado. Daí veio a estiagem. Eu não consigo sequer passar a colheitadeira. É como se tivessem colocado gasolina e depois ateado fogo no chão", revela.

Produção de baixa qualidade e cara. Renato afirma que, com a seca, está tirando de 5 a 10 sacos de soja por hectare, sendo bem otimista, conforme suas palavras. Reforça que terá uma produção ruim, pequena e de alto custo, agravando os problemas com endividamento. "O óleo diesel está caro e o frete também. Não sei sobre o futuro, a nossa sobrevivência".

Estamos falando de investimentos caríssimos, na média de R$ 2,5 milhões, que demandam equipamentos e gasto de energia elétrica. Sem falar nos juros impraticáveis e nos roubos. O pequeno não tem como arcar com tudo isso. Outro aspecto é que esta tecnologia precisa estar adaptada à questão geográfica, a um solo plano. Além destas despesas, alguns precisam arcar com o valor do arrendamento, fornecedores, compra de ração, insumos e adubos, o que tem preocupado as entidades.
Renato Freitas, produtor rural

Emanter também aponta prejuízos com as frutas e hortaliças. "Frutas e hortaliças também foram afetadas, como alface, rúcula, couve, morango e tomate", afirma Guilherme.

Salsinha queimada com o calor e falta de chuva
Salsinha queimada com o calor e falta de chuva Imagem: Thaisa Marquesan/Arquivo Pessoal

Produção de alface parada. Thaisa Marquesan, também de Santa Maria, planta hortaliças em 5 hectares de terra. Devido à estiagem, aderiu a dois programas de incentivo, um municipal e outro estadual. Mas, mesmo com dois açudes, se viu obrigada a parar a produção de alface. A rúcula e a salsa também sofreram. "Estas verduras não atingem o tamanho ideal, com o calor não se desenvolvem", explica a produtora.

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Vacas magras e menos produção de leite

Animais quase sem água. Criador de bovinos, suínos e aves em um assentamento da reforma agrária no município de Capão do Cipó, Samir Pereira relata a realidade de integrantes de famílias assentadas, que estão praticamente sem água para dar aos animais.

Pasto seco. Com as pastagens, literalmente, torradas pelo sol, a solução foi a compra de ração, grãos e silagem, uma forma de suplementar a alimentação. "Tivemos um aumento no custo de produção ao ter de adquirir os insumos. Todos os esforços para não deixar os animais perderem peso". Situação também tem impacto na produção de leite.

Investimentos vão para a irrigação. Giovani Facco, de Pinhal Grande, cidade a 80 Km de Santa Maria, relata a mesma situação. Técnico agrônomo e produtor rural, ele planta soja, milho, trigo e cria bois. Para manter a propriedade, todos os investimentos têm sido direcionados para a irrigação.

Possíveis soluções

Chuva artificial e açudes como possíveis caminhos. Uma das soluções apontadas por especialistas e autoridades governamentais é a irrigação com pivô (uma maneira de aplicar, com precisão, a quantidade de água e fertilizantes exatos em cada cultura) — uma espécie de chuva artificial. Outra é a abertura de açudes.

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Pivô pode ampliar a colheita. Fazendo uma comparação, a produtividade da terra que depende apenas de chuvas naturais fica na média de 22 a 25 sacos de soja por hectare. "Com o pivô, eu consigo de 65 a 70 sacos, a diferença é de 3 por 1", revela Facco.

Apesar da preocupação, há esperança para o futuro. "Nós podemos captar água de barragens e construir açudes. Mas, para que a gente possa servir de exemplo para outros Estados, sermos um polo produtivo em termos de irrigação, é preciso fomento de políticas públicas. Queremos ser sustentáveis, respeitando os recursos ambientais e cumprindo as legislações", completa o produtor.

Programas de irrigação

Subsídio estadual para irrigação. Como alternativas a estas situações climáticas, a Emater e o governo do Estado estão investindo na divulgação do incentivo em programas de irrigação, entre eles está o Supera Estiagem, que subsidia com recursos públicos estaduais a aquisição de sistemas de irrigação.

Construção de açudes e perfuração de poços. A Seapi (Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação) tem iniciativas como a construção de açudes, a instalação de cisternas, a perfuração de poços e o benefício financeiro para projetos de irrigação direto ao produtor rural.

Recursos para combate a seca. Além disso, o governo do Estado publicou um edital aberto do Programa de Irrigação para que os produtores possam aderir e receber até R$ 100 mil de incentivo. A Seapi já investiu em outras ações que beneficiam diretamente os produtores e as comunidades rurais.

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