De R$ 6,16 a R$ 5,79: o que fez o dólar desvalorizar mais de 6% este ano
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Apesar da alta registrada nesta quarta-feira (5), interrompendo uma sequência de 12 dias seguidos de queda, o dólar segue desvalorizado frente ao real em 2025.
O movimento não é exclusivo do Brasil: moedas como o peso chileno e o zloty polonês também se fortaleceram em relação à divisa estadunidense.
A desvalorização do dólar é atribuída, entre outros fatores, à eleição de Donald Trump e à guerra comercial que ele tem intensificado. O cenário influencia o comportamento da moeda no Brasil e em outros mercados emergentes.
O que aconteceu
Dólar atinge pico em 2024. No segundo semestre daquele ano, a moeda americana ultrapassou a marca de R$ 6, um patamar que poucos especialistas previam. No dia 18 de dezembro, alcançou o valor recorde de R$ 6,267, refletindo um período de forte valorização frente ao real.
Cenário muda em 2025. Desde o início do novo ano, o dólar vem perdendo força frente à moeda brasileira. Até o momento, a desvalorização acumulada é de 6,24%, indicando uma inversão na tendência observada no período anterior.
Fatores internos e externos influenciam a queda. A desvalorização do dólar não pode ser atribuída a um único fator. Tanto a política externa quanto medidas adotadas internamente impactam a taxa de câmbio, demonstrando a complexidade das dinâmicas econômicas que determinam a valorização ou desvalorização das moedas, algo que torna difícil prever os próximos movimentos do câmbio.
Fatores externos
Eleição de Donald Trump. Segundo cálculos do economista e pesquisador da FGVIbre Samuel Pessoa, esse fator é responsável por 80% da desvalorização da moeda. A eleição de Trump gerou temor nos mercados globais diante da possibilidade de uma política protecionista nos Estados Unidos, com tarifas elevadas sobre produtos estrangeiros. A expectativa era de que tais medidas aumentassem a inflação, levando a uma elevação dos juros nos EUA e tornando o mercado americano mais atrativo. No entanto, o cenário observado foi mais ameno até o momento.
Tarifas como estratégia de negociação. Apesar dos anúncios de tarifas, Trump tem recuado em algumas decisões, como a não taxação de produtos mexicanos após negociações com a presidente do país, Claudia Sheinbaum. Segundo Pessoa, essa postura indica que a imposição de tarifas tem sido utilizada como ferramenta de barganha.
O mercado esperava que fosse uma subida de tom mais exagerada. Essa abertura para negociação surpreendeu. O governo mexicano conseguiu um acordo muito rapidamente.
José Ronaldo Souza Jr., professor de economia do Ibmec-RJ
A taxa de juros nos EUA segue inalterada. O Federal Reserve (FED) decidiu manter a taxa entre 4,25% e 4,50%, o que sugere que os impactos da política inflacionária de Trump não serão imediatos.
Brasil não foi atingido diretamente pela política tarifária. De acordo com José Ronaldo Souza Jr., professor de economia do Ibmec-RJ, a não inclusão do Brasil nessas tarifas até o momento também contribui para a perda de força do dólar no país.
Fatores internos
Grande desvalorização em 2024. De acordo com Souza, a grande perda de valor que o real sofreu no ano passado frente ao dólar ajuda para que o inverso aconteça no início deste ano. Os ativos no país ficaram mais atrativos para o investidor, o que trouxe mais da moeda americana para o Brasil.
Para o mercado, desvalorização é resultado de política fiscal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é visto com maus olhos pelo mercado financeiro desde que assumiu seu terceiro mandato. Uma das justificativas é que o petista não passa confiança para os investidores, uma vez que parece não se preocupar com a política fiscal do país. O governo federal encerrou 2024 com um déficit primário de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB), valor que foi considerado praticamente nulo por Lula, diferentemente do mercado, que vê o dado com preocupação.
Diminuição de percepção de risco. Um dos motivos que, segundo Pessoa, pode ter colaborado para a desvalorização do dólar é, então, a recente perda de popularidade de Lula. A avaliação negativa do presidente cresceu e chegou a 37%, de acordo com a pesquisa Quaest. Esse fator foi visto como algo positivo para o país pelo mercado financeiro, valorizando o real.
Troca na presidência do Banco Central gerou preocupação. Outra preocupação que o mercado externou em 2024 e que foi tida como um dos motivos para a valorização do dólar foi a mudança no comando do Banco Central. A saída de Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e bastante criticado por Lula, para a entrada de Gabriel Galípolo, que chegou a trabalhar no Ministério da Fazenda com Fernando Haddad, foi vista com desconfiança. No entanto, a postura de aumentar a taxa básica de juros em um ponto percentual, para 13,25% ao ano, foi interpretada como um sinal de que o novo presidente do BC fará uma política monetária independente do presidente da República. Esse fator também contribuiu para a diminuição da percepção de risco.
O que esperar do dólar
Incertezas futuras. Não é possível prever se o dólar permanecerá caindo ou se voltará a subir novamente, como ocorreu no segundo semestre do ano passado. Isso porque não é possível prever, também, como serão as políticas adotadas por Trump nos Estados Unidos e nem como os outros países reagirão a elas.
Impacto de propostas no Brasil. No Brasil, há algumas propostas que serão analisadas pelo Congresso, como a isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil, que podem gerar desconfiança no mercado nacional e fazer com que o real se desvalorize novamente.
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