Análise: Itaú, Bradesco ou Santander -- qual banco se saiu melhor em 2024?

Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil, os três maiores grupos financeiros privados do país, divulgaram na última semana o balanço do quarto trimestre de 2024. Juntos, registraram um lucro líquido de R$ 74,8 bilhões no ano todo, 22% mais do que em 2023.

Esse avanço é resultado de boas estratégias na concessão de empréstimos, a atividade fundamental dos bancos tradicionais. No ano passado, os três gigantes buscaram ampliar o crédito com garantias — como o imobiliário e o voltado à compra de veículos —, que é mais seguro. No entanto, manter o apetite pelo risco no mercado de alta renda, que apresenta maior capacidade de pagamento, ajudou o Itaú a conseguir o melhor resultado do setor na história.

Veja a seguir sete indicadores para entender o desempenho dos bancos em 2024. Cada instituição financeira tem sua história; então, apesar de exatos, os números precisam ser relativizados e analisados em conjunto.

Qual banco emprestou mais?

A principal atividade de um banco tradicional é "alugar" dinheiro: emprestar com a cobrança de um valor, que são os juros. O crescimento dos recursos concedidos aos clientes mostra o sucesso da estratégia comercial básica da instituição financeira. No ano passado, a ampliação dos montantes emprestados foi o principal fator a alavancar a lucratividade dos maiores bancos privados brasileiros.

Destaque Bradesco: Depois de alguns trimestres pisando no freio, acelerou um pouco as concessões nos três primeiros trimestres de 2024. Porém, de olho na previsão de piora das condições econômicas com o aumento dos juros neste ano, o banco passou a moderar seu apetite novamente no quarto trimestre, privilegiando linhas com mais garantias. O financiamento imobiliário, por exemplo, cresceu 14,9% na comparação anual.

Destaque Itaú: Chamou atenção o avanço do cartão de crédito nos segmentos de alta renda, Uniclass e Personnalité, em 2024. O aumento de 11,1% no crédito imobiliário e de 9,9% em veículos mostra um esforço do banco em crescer nas linhas com risco reduzido ao mesmo tempo em que mantém interesse nos produtos de maior lucratividade, como o cartão.

Destaque Santander: Os financiamentos para compra de veículos saltaram 62,2% na comparação anual e são um ponto central da estratégia, porque ajudam na venda de produtos relacionados, como seguros. O banco está privilegiando a rentabilidade da carteira em vez do volume.

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Qual banco levou mais calote?

Ampliar a carteira de crédito sem tomar mais calotes é uma arte. Os bancos têm investido cada vez mais em coleta de dados e tecnologia para fazer avaliações mais sofisticadas de risco e manter sob controle as perdas com quem não paga os empréstimos.

Destaque Bradesco: O banco conseguiu reverter a tendência de aumento da inadimplência que contribuiu para piorar o seu balanço dois anos atrás, levando à criação de um plano de reestruturação que começou com a troca do presidente-executivo Octavio de Lazari Junior por Marcelo Noronha em novembro de 2023.

Destaque Itaú: Seus índices são historicamente bons porque o banco tem uma política de concessão de crédito aprimorada e um público de maior capacidade de pagamento, ou seja, menos suscetível às instabilidades da economia.

Destaque Santander: A estabilidade da inadimplência foi resultado do cuidado na concessão de crédito, provando o acerto da tática.

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Qual banco faturou mais?

Além dos juros dos empréstimos, os bancos faturam com tarifas de serviços — como manutenção da conta corrente e transferências — e vendas de outros produtos — por exemplo, seguros e consórcios. Sendo o Brasil um país de taxa básica de juros (definida pelo Banco Central) historicamente alta, dinheiro é uma das "mercadorias" que dão os maiores retornos para o empresário local. Não é à toa que companhias de outros setores também buscam ter negócios financeiros: carnezinhos e cartões de crédito são fontes importantes de renda para as grandes redes varejistas de roupas e de móveis e eletrodomésticos. O aumento de 1,75 ponto percentual da Selic, que terminou 2024 em 12,25% ao ano, ajudou a impulsionar essa fatia da receita em um momento em que o fortalecimento do Pix e o aumento da concorrência com bancos digitais dificultam cobrar mais tarifas. Para 2025, a expectativa é de um mercado mais duro, pois a continuidade da elevação da Selic e a desaceleração da economia, com alta do desemprego, tendem a desencorajar os clientes de pegar empréstimos. As receitas com outros serviços e tarifas variam menos com esse tipo de mudança conjuntural.

Destaque Bradesco: As receitas com outros serviços que não sejam crédito tiveram um forte crescimento, puxadas pelas rendas de cartão, as quais subiram 16,2% ano a ano. Em 2024, o Bradesco ampliou sua participação na Cielo de 30,06% para 50,1% após o fechamento do capital da empresa de maquininhas de pagamento em agosto.

Destaque Itaú: Além de o volume de crédito ter inflado o faturamento com juros, o maior volume de transações com cartões e o aumento das receitas com gestão de ativos se destacaram.

Destaque Santander: Surpreendeu positivamente na rapidez com que aumentou o valor que cobra nos empréstimos, esticando o spread (diferença entre os juros pagos na captação de recursos e os cobrados dos clientes) conforme a Selic subia em 2024. Por isso, conseguiu registrar bom crescimento da receita com juros apesar de ter sido comedido na concessão de crédito.

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Qual banco gastou mais?

Além dos juros que pagam ao captar o dinheiro que emprestam, as instituições financeiras têm custos operacionais e administrativos, que vão desde salários de funcionários à conta de luz das agências. Em 2024, todas registraram notáveis altas de gastos com pessoal — os bancários do país tiveram reajuste de 4,64% no contracheque e nos benefícios, o que significa um aumento real de 0,9%. Por causa da esperada piora do cenário econômico, que deve elevar a inadimplência, Bradesco, Itaú e Santander já sinalizaram que serão menos agressivos na concessão de empréstimos em 2025.

Destaque Bradesco: Os recursos aplicados em tecnologia, os gastos com a reestruturação da operação e os investimentos em novos projetos estratégicos, como o lançamento de um novo segmento de alta renda, o Bradesco Principal, pesaram nas contas.

Destaque Itaú: Além do dissídio dos bancários, os gastos com tecnologia foram os mais chamativos. Todas as instituições financeiras estão investindo bastante em ampliar os canais digitais para agilizar e baratear o atendimento aos clientes.

Destaque Santander: A variação dos custos abaixo da inflação anual, mesmo com o reajuste dos bancários, foi um dos pontos positivos de mais destaque, evidenciando a disciplina dos gestores.

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Qual banco foi mais competente?

Assim como qualquer empresa, os bancos tentam sempre maximizar a renda com o mínimo possível de custos. O índice de eficiência mede a relação entre despesas e receitas totais — quanto menor, melhor. Esse indicador também permite comparar o desempenho de cada instituição financeira na gestão do faturamento e dos gastos independentemente do seu tamanho.

Destaque Bradesco: Em meio à reestruturação, o banco demitiu 2.200 funcionários em 2024, terminando o ano com 84.022 colaboradores, e fechou 390 agências, ficando com 2.305. Por ora, os gastos com a dispensa de empregados e o encerramento de atividades de pontos de atendimento estão pesando nas contas sem levar a melhora da eficiência.

Destaque Itaú: O banco atingiu o maior patamar de eficiência da história e é tido como referência entre as instituições tradicionais.

Destaque Santander: A melhora do indicador reflete o ritmo baixo de crescimento das despesas, para o qual o fechamento de pontos de atendimento vem colaborando bastante. Entre 2023 e 2024, o número de pontos caiu de 2.677 para 2.264.

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Afinal, qual banco ganhou mais dinheiro?

Existem dois indicadores bem objetivos que mostram qual é a rentabilidade de um banco. Um é o lucro líquido: receitas menos despesas.

Outro é o ROAE (retorno sobre o patrimônio médio), que mede os ganhos que o banco está proporcionando aos donos de acordo com a sua estrutura. O objetivo do negócio é ampliar essa relação ao longo do tempo, fazendo mais dinheiro para cada real investido pelos acionistas na operação.

Destaque Bradesco: O maior aumento de retorno entre os três bancos é resultado do plano de reestruturação. No entanto, a notável melhora observada em 2024 é vista como uma volta à normalidade, e não um salto operacional.

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Apesar das dificuldades, acreditamos que o banco vai conseguir completar sua reestruturação. A recuperação da rentabilidade segue em ritmo lento, mas alinhada ao consenso de mercado. Projetamos um 2025 desafiador para o Bradesco, com um apetite ao risco mais conservador e uma reversão da ambição de expandir novamente no segmento massificado e nas pequenas empresas.
Eduardo Nishio, diretor de pesquisa da plataforma de investimentos Genial

Destaque Itaú: Teve o maior lucro da história dos bancos brasileiros. Apresenta uma evolução sólida, apoiada em crescimento firme dos produtos de crédito com risco bem administrado.

O banco reportou números em linha com o esperado -- lembrando que as expectativas eram elevadas. Cumpriu seu guidance [projeção] em todas as linhas, e uma surpresa positiva foi a queda da inadimplência. Em 2025, acreditamos que a companhia deve continuar liderando em termos de rentabilidade, embora com alguma pressão devido à menor velocidade de reajuste das taxas de empréstimos.
Larissa Quaresma, analista de ações da consultoria de investimentos Empiricus Research

Destaque Santander: Surpreendeu positivamente por conseguir aumentar a rentabilidade mesmo com uma postura mais cautelosa na ampliação da carteira de crédito.

Receitas fortes constroem um resultado favorável. O Santander entra em 2025 -- um ano que promete uma miríade de desafios -- de forma confiante. Devemos esperar que o banco continue focando nas linhas que representam maior rentabilidade dado o seu perfil, como financiamento de automóveis e pequenas e médias empresas, enquanto continua promovendo a disciplina de custos, que vem permitindo com que o banco não apenas expanda sua alavancagem operacional mas evolua tecnológica e digitalmente para continuar se adaptando ao contexto mercadológico e conquistando a principalidade [ser o principal banco] de novos clientes.
Rafael Reis, analista do BB Investimentos

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