Quem é Tania Bulhões, dona de império de luxo alvo de polêmica nas redes

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A empresária Tania Bulhões está envolvida em um escândalo que questiona a autenticidade de suas louças de luxo nas redes nas últimas semanas, depois que uma turista encontrou uma xícara idêntica às comercializadas em seu site na Tailândia, em um café simples, mas sem o logo da brasileira.
O que aconteceu
Izadora Palmeira, uma influenciadora de viagem com pouco mais de 100 mil seguidores no TikTok, compartilhou em um vídeo a sua surpresa ao ser servida com uma xícara de chá semelhante à da coleção Marquesa, de Tania Bulhões, em Phi Phi, na Tailândia. Nas imagens postadas na plataforma no dia 14 de janeiro, ela compara as duas peças — uma com o logo e o seu exemplar pessoal, comprado no Brasil com o logo da marca.
A jovem se espanta com o fato de as duas xícaras serem idênticas. "Para quem paga uma fortuna, tá aí ó...", insinua, a respeito do valor da peça brasileira, que custa R$ 210 a unidade no site da marca. Ela não aponta, contudo, se acredita que a brasileira teria sido plagiada ou se ela estaria vendendo como originais no Brasil peças já comercializadas no exterior. Há diversos itens bastante semelhantes ao catálogo da empresária na plataforma AliExpress.
@izapalmeira Descobri o segredo da Tânia Bulhoes ! Pra quem paga uma fortuna nas louças! #segredoTâniaBulhoes #taniabulhoes #thailand #taniabulhões ? original sound - Izadorapalmeira
Desde a "coincidência", internautas passaram a pesquisar mais sobre as origens da marca brasileira e seus produtos. Outra influenciadora, Isa Rangel, que possui mais de 340 mil seguidores no Instagram, apontou que a descrição da peça alega que Tania Bulhões criou a estampa de suas louças, inspirada em sua vivência nas fazendas de Minas Gerais. No entanto, o design conta com limões-sicilianos, que não são frutas nativas do Brasil, mas da Ásia.
Isa Rangel ainda mostra imagens feitas por outras supostas clientes de Tania Bulhões, que rasparam o logo em suas xícaras e encontraram o selo de um fabricante na Turquia. O país tem parte de seu território na Europa e outra parte na Ásia, continente de que a Tailândia também faz parte. Ela ainda mostra jogos inteiros de louças com a mesma estamparia vendidos por R$ 100 no AliExpress.
A empresária enviou uma notificação extrajudicial à Isa Rangel. À coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, a influenciadora afirmou que recebeu o documento na terça (4) que pede que ela apague a postagem porque o conteúdo seria "calunioso", e que compartilhe um comunicado da marca em até sete dias. Isa Rangel não tem pretensões de excluir o vídeo e entende que não caluniou a marca, segundo o jornal. "Se eu der para trás, o que as outras pessoas vão fazer? Marca nenhuma é intocável ou livre de questionamentos. Eu apenas dou voz ao que meus seguidores me enviam", garantiu.
Há cinco dias, a marca voltou a garantir que a estampa com os limões foi mesmo criada pela brasileira. No Instagram, ela afirma que seus produtos são frequentemente copiados e que, no caso da coleção Marquesa, um parceiro da produção descumpriu acordos contratuais e comercializou sobras de produção que não passaram pelo controle de qualidade da Tania Bulhões.
Tania Bulhões não fabricava todos os seus produtos. Segundo a empresa, todas as suas criações são originais, mas até a aquisição da fábrica na França, a Royal Limoges, 100% dos produtos eram fabricados por parceiros externos.
No fim de semana, a marca anunciou a decisão de descontinuar os produtos da coleção Marquesa, Mediterrâneo e Entre Rios e Lírio. A postura gerou mais críticas, como a de uma cliente que comentou: "Nunca vi a Louis Vuitton ou qualquer outra marca de luxo descontinuar um produto icônico e tradicional porque há desvios ou falsificações. Se o produto fosse criação própria o ideal era processar os falsificadores e desviadores e não descontinuar o produto. E quem precisar de reposição? Estranha essa postura". No entanto, o UOL apurou nesta segunda (10) que a xícara Marquesa segue à venda.
Quem é Tania Bulhões?
Tania é nascida em Uberaba (MG), onde abriu seu primeiro negócio em 1989. Toda a identidade da marca é baseada em sua biografia pessoal e, no seu próprio site, onde ressalta que sua atual rede de perfumaria e produtos para casa é consequência daquela primeira lojinha mineira, onde vendia o que pintava: quadros, pratos e móveis. Em 1991, mudou-se para São Paulo, onde inaugurou a grife no seu primeiro endereço, no bairro de luxo dos Jardins.
A designer aponta os fins de semana e as férias da infância na fazenda da avó como uma inspiração. "Minha avó cozinhava muito bem e, em ocasiões especiais, servia a comida com afeto em louça de Limoges", contou à revista Forbes em 2024, destacando sua ligação com a tradicional fábrica francesa de porcelana, fundada há 227 anos no centro-oeste da França, e da qual Tania hoje é dona.
A brasileira já era parceira comercial da fábrica há 25 anos antes de firmar a compra em 2023. Antes do negócio, a grife Tania Bulhões já representava 50% da produção da Royal Limoges, o que teria despertado o interesse da empresária mineira em incorporar toda a operação estrangeira, ainda de acordo com a revista.
Tania "vende" o Brasil em seus produtos. Consolidada há 35 anos no mercado, a grife baseia seu marketing na ligação entre as peças e elementos da natureza ou da cultura brasileira como parte da identidade ou da inspiração para a sua criação. No entanto, à Forbes, Tânia disse ter aprendido técnicas de porcelana e perfumaria na França, onde fica a sua fábrica, e cita Coco Chanel como sua inspiração. Hoje, a Tania Bulhões tem 44 lojas no Brasil, uma em Nova York, as linhas Tania Bulhões Perfumes, Tania Bulhões Pele e o Leila Restaurante, em São Paulo.
Em 2010, Tania e sua marca foram acusadas de importação fraudulenta. Ela foi acusada por este crime, assim como por crimes contra o sistema financeiro nacional, formação de quadrilha e falsidade ideológica em operações de câmbio, já que sua operação subfaturava mercadorias importadas, utilizando uma empresa laranja, para reduzir o pagamento de impostos à Receita Federal. A condenação foi de quatro anos de reclusão e pagamento de multa.
No entanto, ela não foi presa por recorrer à delação premiada, em que confessou à Justiça sobre o esquema de fraude em troca de redução de pena. Ela então prestou serviço à comunidade junto à Fundação Dorina Nowill para cegos pelo período de sua condenação, e também foi proibida de viajar ao exterior por mais de 10 dias sem autorização judicial. O processo foi encerrado em dezembro de 2010, quando ela afirmou tratar-se de um "caso pontual".
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