'Beira o ridículo': falência da Teka expõe briga de sócio e administrador
O pedido de falência da Teka, tradicional fabricante de itens de cama, mesa e banho, trouxe à tona uma disputa entre o administrador judicial da empresa e um de seus principais acionistas, o fundo de investimentos Alumni. Em pedido enviado à Justiça, o Alumni refuta o processo de falência e questiona os motivos do administrador.
Entenda
O escritório Leiria & Cascaes, administrador judicial da Teka, pediu a falência da empresa. Na petição, enviada à Justiça no dia 5 de fevereiro, o administrador pede a falência com continuidade das operações. Por essa modalidade, as atividades da empresa continuariam até que ocorresse a venda dos ativos, a fim de pagar os credores.
Administrador diz que a empresa está em "colapso operacional". No pedido enviado à Justiça, o administrador diz que a Teka vive "um cenário de inviabilidade da superação da crise econômico-financeira que motivou a recuperação judicial".
A empresa não apenas descumpriu reiteradamente os compromissos assumidos no plano homologado, como também se encontra em evidente colapso operacional, sem capital de giro e sujeita a sucessivas constrições judiciais que inviabilizam a continuidade da atividade empresarial.
Leiria & Cascaes, em pedido de falência da Teka
Administrador afirma que há "beligerância" entre os acionistas. Ele cita ações judiciais e medidas liminares para dizer que o quadro societário da empresa é instável e que "sequer há segurança quanto a quem comandará os desígnios da sociedade quando encerrado o período de intervenção judicial".
Pedido fala ainda em divergências em relação a uma auditoria a ser realizada na empresa. A Justiça determinou que seja feita uma auditoria na empresa pela consultoria PwC. Mas a auditoria ainda não foi iniciada, e o administrador judicial sugere que um dos acionistas da empresa, o fundo Alumni, "tem atuado e interferido ativamente na execução dos trabalhos da PwC" e estaria "direcionando os rumos da perícia".
Acionista questiona administrador
Acionista diz que administrador faz "ilações fantasiosas". Em petição apresentada à Justiça, o fundo Alumni FIP, acionista da Teka, diz que "as alegações do administrador judicial são baseadas em ilações fantasiosas, completamente dissociadas da realidade e muito soam como uma represália pelo fato de o Alumni FIP ter angariado investidores e ter um envolvimento ativo no soerguimento da companhia".
Auditoria da PwC ainda aguarda envio de documentos pela empresa. O fundo argumenta que a auditoria determinada pela Justiça não se iniciou porque a empresa não enviou os documentos necessários à PwC.
Fundo contesta que o fluxo de caixa da empresa esteja comprometido. Segundo o fundo, o administrador judicial não apresentou documentação que mostre a dificuldade no fluxo de caixa e diz que um acordo feito com o governo de São Paulo a respeito de dívidas de ICMS vai auxiliar a empresa.
Acionistas querem colocar mais dinheiro no negócio. O fundo diz ainda que existem cartas de intenção de quatro investidores interessados em aportar até R$ 100 milhões na empresa. O administrador questiona a modalidade do aporte, que seria feito via DIP, um tipo de financiamento específico para empresas em dificuldade financeira. Para o acionista, a argumentação do administrador contrária a esse aporte "beira a má-fé e, com todo o respeito, o ridículo".
Pedido atende aos interesses do próprio administrador, diz acionista. Na petição, o fundo Alumni diz ainda que o pedido de falência "só atende aos interesses do próprio AJ, que receberia uma remuneração extravagante de 5% sobre a venda dos ativos totais da companhia, com prioridade de pagamento", diz.
Gestão problemática e dívida bilionária
Empresa está em recuperação judicial desde 2012 e tem R$ 3,5 bilhões em dívidas. O processo de recuperação da Teka já se arrasta há 12 anos. A dívida está na casa dos R$ 3,5 bilhões conforme relatório publicado em janeiro pela da administração judicial. Boa parte da dívida é em débitos tributários.
O faturamento da empresa tem crescido. A receita bruta em 2024 foi de R$ 404 milhões (até novembro). Maior que a de 2023, que ficou em R$ 387 milhões, e que a de 2022, que foi de R$ 344 milhões.
Administração judicial anterior também foi questionada. A atual administração judicial assumiu a empresa em 2024. Antes disso, a empresa ficou sob outra administração por seis anos. A atuação da administração anterior também é questionada pelo fundo Alumni. Para o fundo, ela deixou "o que estava ruim, ainda pior".
Ações despencaram 40% após o pedido de falência. A Teka tem capital aberto e suas ações despencaram após o pedido de falência. O fundo Alumni detém hoje cerca de 24% das ações da empresa. A empresa vale hoje cerca de R$ 11 milhões na B3.
A empresa foi fundada em 1926, em Blumenau (SC), por Paul Fritz Kuehnrich. Ao longo dos anos, se consolidou como importante fornecedora de produtos de cama, mesa e banho, em especial para a hotelaria.