Brasil fornece pouco etanol aos EUA e setor vê baixo impacto com tarifas

Menos de 20% do etanol exportado pelo Brasil nos últimos três anos teve os Estados Unidos como destino. Com um biocombustível de elevada qualidade, o setor avalia que a efetividade da "taxação recíproca" proposta por Donald Trump terá baixo impacto na produção e consumo nacional.

O que aconteceu

Estados Unidos querem elevar tarifa sobre o etanol brasileiro. Em mais uma etapa da guerra comercial, Donald Trump coloca o biocombustível originado no Brasil na mira do governo norte-americano. "O 'Plano Justo e Recíproco' buscará corrigir desequilíbrios de longa data no comércio internacional", destaca comunicado divulgado na última quinta-feira (13).

Donald Trump defende a imposição de "taxação recíproca". Ao citar o Brasil como alvo da medida, o presidente norte-americano afirma que os EUA cobram "apenas" 2,5% sobre a importação do etanol brasileiro, enquanto o Brasil impõe uma tarifa de 18% ao receber o biocombustível de origem nos EUA.

EUA são o segundo principal destino do etanol brasileiro. Principal importador do biocombustível brasileiro até 2020, os Estados Unidos perderam o posto para a Coreia do Sul a partir de 2021. As compras norte-americanas são focadas no etanol anidro, tipo mais puro, comumente misturado na gasolina.

Venda de etanol para os EUA caiu nos últimos cinco anos. A exportação de 313,3 milhões de m³ do biocombustível em 2024 confirma a tendência de queda iniciada em 2020 e marca a menor comercialização de etanol para os norte-americanos desde 2010 (313,4 milhões de m³). Os dados integram o observatório da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

EUA receberam 16,5% do biocombustível nacional em 2024. Com essa queda, o volume comprado ficou muito abaixo do total de 1,9 bilhão de m³ exportados pelo Brasil no ano anterior. O ápice da venda aos norte-americanos aconteceu em 2017, quando mais de dois terços (68,2%) das exportações foram destinadas ao país.

Importação de etanol dos EUA aumentou no ano passado. Após comprar mais de 1,8 bilhão de m³ do biocombustível norte-americano, o total importado encolheu até 2023, quando apenas 480 milhões de m³ foram adquiridos. Em 2024, no entanto, o volume aumentou 23%, para 110,7 milhão de m³.

Casa Branca atribui resultados recentes à taxação do etanol. "Os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto as exportações americanas de etanol para o Brasil foram de apenas US$ 52 milhões", destaca comunicado do governo norte-americano.

Tarifas para importação de etanol dos EUA já foram zeradas. A alíquota zero valeu até o atingimento da cota de 600 milhões de litros do biocombustível por ano. O volume foi ampliado em 2019 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para 750 milhões de litros. Ao superar a cota, a tarifa subia para 20%. A medida, no entanto, foi revogada e a cobrança restabelecida a partir de 2023.

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Impacto irrisório

Especialistas dizem que taxação traz pouco efeito ao Brasil. Mesmo com a safra menor de cana-de-açúcar nos últimos anos, a percepção do setor é que o mercado doméstico continua resiliente com o uso do etanol como combustível veicular e matéria-prima para a indústria.

Certamente, representantes do governo brasileiro vão tentar negociar com os norte-americanos para manter a situação como está. Se houver essas tarifas, realmente acredito que o impacto vai ser pequeno.
Alê Delara, diretor da Pine Agronegócios

Qualidade do etanol brasileiro é vista como grande diferencial. Em meio à disputa comercial, a esperança por dar da efetividade das tarifas está na pureza do etanol brasileiro, produzido a partir de biomassa. Nos Estados Unidos, o biocombustível é gerado com o uso de combustível fóssil para gerar eletricidade, a exemplo do carvão e do gás natural, que são mais danosos ao meio ambiente.

Eles compram o etanol brasileiro porque ele é mais limpo, com menores emissões de carbono. As tarifas podem gerar um aumento de custo para essas soluções, porque eles não conseguem substituir o nosso etanol pelo deles para cumprir as metas ambientais.
Evandro Gussi, presidente da Unica

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Compromisso com o meio ambiente pode ser fiel da balança. Como alguns estados norte-americanos estão comprometidos com a redução das emissões de carbono, espera-se que a demanda pelo etanol brasileiro persista, mesmo com a imposição das tarifas. de importação. "Esperamos que esses estados e a iniciativa privada com compromissos ambientais possam fazer uma pressão contra a imposição dessas tarifas", diz Gussi.

Acredito que, mesmo com as tarifas, a Califórnia continua comprando etanol do Brasil, porque eles têm uma meta de descarbonização bem agressiva, e o etanol brasileiro ajuda nesse processo.
Alê Delara, diretor da Pine Agronegócios

Volta atrás de Trump após efetividade da taxação é improvável. O recém-empossado presidente dos EUA já evidenciou seu distanciamento das políticas ambientais ao abandonar o Acordo de Paris. Agora, a pressão dos governadores e das instituições com compromisso ambiental não devem surtir efeito. "Ele [Trump] está mais interessado na reindustrialização dos Estados Unidos e na proteção do mercado doméstico do que com questões ambientais", avalia Delara.

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