Ser offline é o luxo: exclusividade vale mais que ostentar para novos ricos

Ostentar a riqueza tem sido feito de formas diferentes nos últimos anos: em vez de compartilhar itens de luxo e serviços caros, os milionários estão optando pela discrição. Uma reportagem do portal norte-americano Fortune avalia como os milionários estão "sinalizando" suas riquezas atualmente, demonstrando uma mudança no padrão até então visto especialmente nas redes sociais.

'Aparentar' ser rico não adianta mais

O acesso do público em geral a produtos anteriormente exclusivos fez com que muitos ricos mudassem sua postura em relação a itens caros. As imitações de produtos de marcas de grife, como Louis Vuitton e Balenciaga, são amplamente consumidas ao redor do mundo, inclusive no mercado brasileiro.

Segundo a Fortune, nos Estados Unidos uma bolsa Birkin, da francesa Hermès, custa cerca de US$ 25 mil (mais de R$ 140 mil, conforme cotação atual). A rede de supermercados Walmart, então, passou a vender uma "versão esteticamente idêntica" por US$ 80 (menos de R$ 460). Nas redes sociais, a réplica dividiu opiniões entre os que concordam com o modelo, alegando que consumidores de diferentes classes sociais merecem "ter o estilo" da marca, e aqueles contrários à versão vendida no supermercado.

No post abaixo (em inglês), com mais de 220 mil visualizações, uma usuária mostra a bolsa comprada no Walmart e diz: "80 dólares e você pode fingir que tem uma Birkin".

A réplica de bolsas de grife é apenas uma das imitações que enchem o mercado. Tênis, perfumes e relógios também são amplamente copiados e comercializados. O uso de artigos de luxo ainda que falsificados por uma parcela maior da população fez com que o setor perdesse milhões de consumidores nos últimos anos.

Segundo a Fortune, 50 milhões de compradores de luxo abandonaram o mercado entre 2022 e 2024. "Marcas como Dior, Estée Lauder, Louis Vuitton e Burberry sofreram um grande golpe à medida que os clientes se cansaram de itens caros que consideraram sem inspiração", relata a reportagem.

Para frear a perda de consumidores, marcas de luxo têm adotado medidas que buscam retomar e fidelizar novamente os clientes. Segundo a Fortune, a marca Burberry elaborou um centro de personalização para inserir as iniciais do comprador em seus itens de luxo. Já a Louis Vuitton passou a apostar em modelos mais coloridos do que o visual clássico de couro marrom.

No entanto, a diminuição da exclusividade não se limita a produtos: outras aquisições comuns em uma vida luxuosa vêm se tornando mais acessíveis. É o caso dos medicamentos para perda de peso e dos procedimentos estéticos, que estão ficando gradativamente mais disponíveis para um número maior de pessoas.

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Ter uma aparência "saudável" ou esteticamente agradável —com pele limpa, rosto simétrico e corpo esbelto - tornou-se o novo símbolo de riqueza. Mas com o surgimento do Ozempic e dos procedimentos cosméticos de baixo custo, isso também não está mais fora do alcance de pessoas em diferentes faixas de renda Fortune

A nova forma de ostentar a riqueza

Parte das pessoas mais ricas está usando seu dinheiro de formas 'mais criativas'. Indo contra os antigos padrões para mostrar seu poder aquisitivo, muitas vezes a ostentação do luxo atualmente não está relacionada ao ato de evidenciar o valor de determinado produto ou serviço. Manter a discrição e a privacidade, investir em atividades de lazer, garantir as eventuais novidades do mercado e saber se expressar têm se tornado as novas formas para ostentar.

Em um mundo cada vez mais conectado, os ricos estão indo na direção contrária. "A privacidade e o distanciamento da internet se tornarão um símbolo de status", diz a Fortune. Neste cenário, o luxo seria justamente a possibilidade de se desconectar das redes sociais e não depender da validação externa que aplicativos como Instagram e TikTok oferecem.

Quando alguém ainda conhece todos os restaurantes legais e as marcas elegantes, mas não os encontrou online, então [a pessoa] mostra sua proximidade genuína com a riqueza. Ela não precisa procurar os melhores bares de coquetéis; porque ela está em uma faixa de renda que já frequenta os lugares da moda Fortune

Além de se desconectar, um novo luxo adquirido pelos ricos é poder escolher como passar o próprio tempo livre. "A classe alta que desfruta do seu tempo de lazer contrasta fortemente com os muitos trabalhadores da classe média que mantêm vários empregos", explica a Fortune. Não ter a preocupação de eventuais restrições financeiras e ter a oportunidade de aproveitar as atividades de lazer sem culpa é um luxo para poucos. Viagens para lugares exóticos também podem estar no cardápio atual da riqueza.

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Em seu tempo livre, as pessoas ricas tendem a focar sua energia física ou mental para buscar o bem-estar, a saúde e o desenvolvimento pessoal. "Isso pode envolver jogar pickleball [modalidade semelhante ao tênis] em um clube de campo, ler livros sobre empreendedorismo e autoajuda, ou fazer pão fresco sem conservantes", explica o Fortune.

Os símbolos de status normalmente giram em torno da aparência. Mas com a democratização da beleza, dos cuidados com a pele, dos aprimoramentos cosméticos e da moda, os novos emblemas de sucesso são um pouco mais comportamentais Fortune