Possível acordo de paz entre Rússia e Ucrânia anima mercados

Há três anos a guerra entre a Ucrânia e a Rússia começou. Desde então, a economia mundial vem sofrendo com a escalada do preço da energia, do petróleo e do dólar. O risco e a insegurança que o conflito gera faz os investidores procurarem aplicações como ouro e a moeda americana, que são mais estáveis.

No entanto, as negociações por um acordo de paz já vêm sendo recebidas com entusiasmo pelos mercados do mundo, principalmente os emergentes, como o Brasil. A possibilidade de a guerra acabar já mexe com a cotação do dólar no mundo todo e anima investidores a assumir riscos. Isso faz o dinheiro circular mais pelo mundo, o que é bom. Não se sabe, porém, quanto tempo esse acordo pode levar para sair, se vingar.

O que está acontecendo?

No Brasil, um dos reflexos dessas negociações de paz se traduz na cotação do dólar, que segue em queda desde o início do ano. Desde janeiro, acumula queda de 7,9%. "A simples expectativa de um acordo já tem gerado oscilações importantes no dólar e nas bolsas internacionais", diz Daniela Lopes, planejadora financeira e assessora de investimento da Ébano Investimentos.

Habitualmente, o dólar se valoriza em momentos de instabilidade global. Isso acontece também com o ouro, que está em sua máxima histórica. "Mas a sinalização de paz entre Ucrânia e Rússia reduz o risco geopolítico, provocando uma leve desvalorização da moeda americana e fortalecendo moedas de mercados emergentes, como o real", diz ela. Um acordo consolidado pode ampliar ainda mais essa valorização, atraindo fluxo estrangeiro para países emergentes e impulsionando suas Bolsas de valores.

Por que o dólar cai?

Quando a guerra começou, as nações do ocidente realizaram um embargo aos produtos exportados pela Rússia. Isso pode mudar agora. "Com o acordo, pode haver o restabelecimento das cadeias globais de abastecimentos com a Rússia novamente exportando óleo e gás e a Ucrânia retornando a produção de grãos", diz André Barbosa, especialista e consultor autônomo de investimentos, com experiência de oito anos na Toro Investimentos. Assim, a Europa passa a ter um fornecimento de energia mais constante e sua inflação cai. Isso por si só já fortalece o euro contra o dólar. Também acaba fortalecendo o real.

Aqui, a questão é mais ligada aos custos da produção agrícola. "O Brasil é grande exportador de grãos, por exemplo. Com o final do conflito, o fornecimento de fertilizantes da Rússia deve se normalizar e os custos de produção caem. Consequentemente, os produtores passam a ter uma margem de lucro melhor nas exportações", explica André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferência internacional, Remessa Online.

Com custo de produção agrícola menor, a inflação de alimentos no Brasil também pode ceder. É o que diz Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. Com os preços mais controlados, os juros também podem voltar a cair e isso ajuda empresas a se financiarem, o que melhora sua situação em Bolsa.

Todo esse restabelecimento leva tempo, se o acordo sair. Mas o mercado — tanto as moedas quanto as Bolsas — já começam a reagir com antecedência. "No Brasil, o Ibovespa pode se beneficiar diretamente dessa movimentação, principalmente em setores como varejo e construção civil, mais sensíveis à queda do dólar e à entrada de capital externo", diz Daniela.

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Tem lado ruim?

Sim, pode ter. Como a Rússia é grande produtora de petróleo e a Ucrânia de grãos, a normalização dos fluxos comerciais pode pressionar os preços desses produtos para baixo. "Então, pode haver uma queda no preço das ações da Petrobras (PETR3 e PETR4), pelo menos temporariamente", diz Saadia. Por isso, mesmo que o mercado reaja positivamente à possibilidade de paz, os investidores ainda prestam muita atenção ao assunto, com cautela. "O cenário permanece volátil até a definição do acordo", diz a especialista da Ébano.

Os benefícios de um acordo, entretanto, são bem maiores. "A expectativa e provável fim do conflito pode reduzir a aversão ao risco", diz Elson Gusmão, diretor de operações da Ourominas. Ou seja, os investidores deixam suas aplicações em ouro e dólar (Tesouro americano) para caçar lucros maiores em mercados mais arriscados, como o Brasil. Aqui, as ações estão baratas. Tanto que o Ibovespa, este ano, já valorizou 5,8%, com a entrada de R$ 8 bilhões em capital estrangeiro desde o início do ano (até 21 de fevereiro).

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