Agro teme dívidas e redução da safra com atraso na votação do Orçamento
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O bloqueio de parte dos financiamentos pelo do Plano Safra 2025 na última semana, liberados em parte na noite de ontem com a publicação de uma Medida Provisória, gerou preocupação entre agricultores, sobretudo pelo risco de endividamento e de perdas na segunda safra, que já começou.
O que aconteceu
O montante havia sido comprometido pelo atraso na votação do PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) apresentado pelo governo federal ao Congresso Nacional. A votação era prevista para dezembro do ano passado, mas sairá apenas em março, após o Carnaval.
As altas das taxas de juros, determinadas pelo Banco Central, também atrapalharam o programa. Quando a proposta foi inserida na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentária), em abril de 2024, a taxa Selic era de 10,75% ao ano e, hoje, está em 13,25% a.a.
A MP 1.289/2025 disponibilizou R$ 4,178 bilhões em créditos extras, para a garantir as operações oficiais de crédito rural equalizadas pelo Tesouro Nacional. O Plano Safra 2024/25, anunciado em julho do ano passado, é o maior da história, com R$ 476 bilhões destinados ao agro, dos quais R$ 133,6 bilhões poderiam ser acessados em linhas como as que foram suspensas.
O governo federal justificou a abertura do crédito extraordinário via MP em função da urgência da situação, que poderia ter impacto direto na produção de alimentos e na segurança alimentar nacional. Os recursos, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, devem ficar dentro dos limites do arcabouço fiscal permitido. Enquanto o orçamento não é aprovado, o governo só pode gastar o equivalente a 1/12 do previsto para o ano inteiro na LDO.
O que acha o setor
Falta de previsibilidade acaba com planejamento do agro. Luiz Antonio Vizeu, coordenador do Núcleo de Promoção e Pesquisa da Abex-BR, entidade da cadeia produtiva do amendoim, diz que interrupções como esta comprometem o planejamento e a viabilidade financeira dos produtores, dificultando investimentos essenciais para garantir produtividade e competitividade global. "No caso do amendoim, a suspensão ocorreu em um momento particularmente delicado. A safra 2023/2024 já sofreu perdas significativas devido à escassez hídrica e ao aumento da taxa Selic", afirma Vizeu.
Pavor e indecisão. A produtora rural e técnica em agropecuária Stefani Barbosa, que cultiva soja, milho, trigo, aveia, feijão e canola no Rio Grande do Sul, diz que a suspensão do Safra gerou medo, sobretudo em quem foi afetado pelo clima nas colheitas anteriores. "Muitos produtores precisam desse crédito para comprar os insumos. É uma época em que a maioria está encaminhando os custeios da safra de inverno. Pegou muita gente de surpresa, causando um certo apavoramento de não terem recursos disponíveis para subsidiar a implantação das lavouras", relata Barbosa.
A técnica afirma que o crédito do Safra é de fundamental importância para recuperação das fazendas e recuperação do cultivo no Sul do país. "Passamos por uma catástrofe climática em maio de 2024 em função do alto volume de chuva, comprometeu muitas lavouras, muitos produtores perderam toda a sua estrutura produtiva (máquinas, galpões, sem falar no solo que foi perdido)", lembra a produtora.
Investimentos já estão comprometidos. Roberta Guimarães Batistela, produtora de citrus no Interior de São Paulo, também vive um momento de incerteza. "Está bem preocupante para os produtores de citrus aqui da região. Todos dependemos desse financiamento para manter a produção, investir em novas tecnologias", detalha Batistela.
Pecuária pode perder ração para os animais. Lucas Costa Beber, produtor e presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) de Mato Grosso (MT), declarou nas redes sociais da entidade que bloqueios assim podem impactar a produção de alimentos, incluindo a de origem animal. Isso porque o corte de verba ocorre em meio a semeadura da segunda Safra, afetando sobretudo o plantio de milho, ingrediente base da rações.
Em nota, 50 entidades ligadas ao agro cobraram nesta terça-feira (21) empenho para garantir os créditos. "A previsibilidade e as condições dos recursos do Plano Safra são essenciais para o planejamento das atividades agropecuárias. A interrupção inesperada das linhas de financiamento gera incertezas que impactam negativamente na produção e na economia do país", diz o texto.
Leia a nota das entidades do agro na íntegra:
As entidades signatárias vêm a público manifestar sua preocupação e reforçar a relevância do Plano Safra para o crescimento sustentável do agronegócio brasileiro. A recente suspensão das linhas de crédito, com juros equalizados do Plano Safra 2024/2025, expôs a urgência de aprimoramentos estruturais para assegurarrecursos suficientes para o setor. A previsibilidade e as condições dos recursos do Plano Safra são essenciais para o planejamento das atividades agropecuárias. A interrupção inesperada das linhas de financiamento gera incertezas que impactam negativamente na produção e na economia do país.
É crucial que o Plano Safra disponha de recursos suficientes para atender às necessidades de pequenos, médios e grandes produtores. O volume de recursos deve estar à altura da importância do agronegócio brasileiro que representa importante parcela do PIB e desempenha papel essencial no abastecimento alimentar do país e do mundo. A escassez
de crédito ou a oferta com juros elevados inviabilizam investimentos fundamentais para a modernização e sustentabilidade do setor.
A construção do Plano Safra 2025/2026 deve começar com antecedência e contar com a participação ativa de representantes do setor agropecuário. O novo plano precisa estar alinhado ao tamanho e às demandas do agro brasileiro, incorporando políticas que estimulem a inovação, a sustentabilidade e a ampliação dos mercados. Definir diretrizes claras e assegurar recursos adequados são passos essenciais para garantir a continuidade e o crescimento do setor.
Destacamos o importante papel da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) que, diante da suspensão das linhas de crédito e do cenário de inflação de alimentos, especialmente da cesta básica, pressionou o governo federal por uma solução, resultando em aporte adicional de R$ R$ 4,17 bilhões para a subvenção econômica de juros nas operações de
custeio, comercialização e investimento, por meio da publicação da MP 1289/2025.
Reafirmamos a importância de um Plano Safra robusto, previsível e ajustado às demandas do setor agropecuário. A cooperação entre governo, parlamento e entidades representativas é essencial para garantir que o setor agropecuário continue sendo um dos pilares da economia nacional e um dos principais responsáveis pela segurança alimentar.
Estamos comprometidos em colaborar na formulação de políticas que fortaleçam o agro e promovam o desenvolvimento sustentável do Brasil.
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