Por que o Nubank perdeu R$ 51 bilhões em valor de mercado?

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O Nubank perdeu cerca de R$ 51,8 bilhões em valor de mercado desde que divulgou, no dia 20 de fevereiro, os resultados de 2024. Para analistas, os números mostraram que o banco entra em uma nova fase, na qual garantir o crescimento e a rentabilidade dos últimos anos será mais desafiador.
Uma semana após a divulgação, o valor de mercado do banco despencou quase 14% e sua ação fechou ontem cotada em US$ 11,48. Também chamou atenção do mercado e analistas que o diretor financeiro do Nubank, Guilherme Lago, vendeu US$ 20 milhões (R$ 116 milhões na cotação de 26/02) a US$ 14, poucos dias antes da divulgação de resultados. Isto teria sido mal interpretado por alguns investidores, dado que os resultados vieram abaixo do esperado e a ação perdeu valor desde então.
Apesar de manter o ritmo de crescimento da sua base de clientes, o crescimento do banco está desacelerando. O mercado já estava começando a se preocupar com isso e, daqui para frente, esse vai ser o tom das divulgações. O crescimento relativo tende a ser cada vez menor.
Rafael Ragazi, sócio e analista de ações da Nord Investimentos
Inadimplência e rentabilidade
Inadimplência dobrou nos últimos anos. Outro ponto que chamou a atenção dos investidores e analistas foi o avanço da inadimplência. A inadimplência medida pelos créditos em atraso há mais de 90 dias foi de 7% no quarto trimestre de 2024. Houve queda na comparação com o trimestre anterior, quando o índice chegou a 7,2%. Ainda assim há uma alta significativa nos últimos anos. Em 2021, o indicador estava na casa dos 3%.
O banco não ampliou suas provisões na mesma proporção. Segundo Ragazi, da Nord, a instituição não ampliou suas provisões para perdas na medida necessária para fazer frente ao aumento da inadimplência. "Isso não faz nenhum sentido e é um sinal de alerta. O banco observar sua inadimplência subir e não lançar provisões na mesma proporção pode gerar um problema lá na frente", diz.
Desaceleração do crescimento da carteira pode elevar ainda mais a inadimplência no futuro. O momento de crescimento menos acelerado da companhia pode levar a um crescimento da inadimplência, o que também preocupa o investidor. "Com a desaceleração, há uma preocupação com a inadimplência futura e esse ponto pegou bastante. É um efeito matemático: quando se coloca pouca carteira nova para dentro você começa a sentir mais o efeito da carteira que já existe", diz Larissa Quaresma, analista do setor bancário da Empiricus.
Os números também indicam dificuldade em manter a rentabilidade. A receita média mensal por cliente ativo caiu e a margem financeira líquida (NIM, na sigla em inglês) também teve baixa. "Isso mostra uma dificuldade em aumentar a monetização do cliente e em manter a rentabilidade", diz Ragazi, da Nord.
Produtos com maior potencial de crescimento têm rentabilidade menor. Para Quaresma, da Empiricus, o banco chegou em um patamar no qual o crescimento da base de clientes, hoje na casa dos 100 milhões, chegou a um pico, ou seja, o crescimento da base de clientes agora tende a ser menor. Com isso, o que deve puxar os resultados da empresa são principalmente novos produtos aos clientes já existentes. E esses novos produtos, como crédito consignado, têm uma rentabilidade menor que a do cartão de crédito.
O Nubank começou pelos produtos mais rentáveis no setor financeiro, que são o cartão de crédito e o crédito pessoal. Agora, começamos a ver o crédito consignado, ou mesmo financiamentos de alto valor. Isso tem um efeito de um retorno menor de forma estrutural, embora o discurso da companhia não seja esse.
Larissa Quaresma, analista do setor bancário da Empiricus
Venda de ações
Diretor financeiro vendeu ações dias antes da divulgação de resultados. Um ponto que chamou a atenção de investidores foi o fato de que Guilherme Lago, CFO do banco, embolsou cerca de US$ 20 milhões (R$ 116 milhões na cotação de 26/02) com duas vendas de ações da empresa em fevereiro, poucos dias antes da divulgação do balanço da companhia. As operações ocorreram com o papel a US$ 14. Hoje eles valem cerca de US$ 11,50.
Venda havia sido planejada meses atrás. Em nota, o Nubank esclareceu que as operações foram definidas meses atrás, com base na regra 10b5, criada pela SEC (a CVM dos Estados Unidos) para permitir que executivos de empresas listadas nas bolsas americanas possam vender ações sem sofrerem acusações de uso de informação privilegiada. Por esse procedimento, a venda das ações acontece de forma automática, quando os papéis chegam nos valores estipulados pelo executivo no planejamento.
Banco entra em nova fase, de crescimento mais desafiador. Para analistas, os números de 2024 indicam que o Nubank entra em uma nova fase, em que a empresa deve encontrar maior dificuldade para crescer.
Bancos mantêm recomendação. Depois da divulgação do balanço, o BTG Pactual e a XP Investimentos mantiveram a recomendação neutra para as ações do Nubank, segundo relatórios distribuídos a clientes. O BTG tem um preço-alvo de 12 meses para o papel de US$ 11,50 — o que significa que vê espaço para uma alta de cerca de 4% à frente depois da alta de quase 21% nos últimos 12 meses.
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