Entenda prejuízo da Petrobras e o que esperar para 2025

O prejuízo de R$ 17,04 bilhões reportado pela Petrobras no quarto trimestre do ano passado não deve ser visto com preocupação, e o pagamento de dividendos era algo plausível considerando o cenário do ano de 2024. É o que afirmam professores e analistas ouvidos pelo UOL para entender o que aconteceu com a estatal de petróleo, que anunciou nesta quarta-feira (26) prejuízo de R$ 17,04 bilhões no quarto trimestre do ano passado.

O que aconteceu

Segundo a companhia, o prejuízo de R$ 17 bilhões do último trimestre do ano passado está relacionado à valorização do dólar frente ao real. Com o resultado, o lucro líquido da estatal recuou 70,6% em comparação com 2023, fechando 2024 em R$ 36,6 bilhões. Em 2023, a petroleira marcou o segundo maior lucro líquido da história: R$ 124,6 bilhões.

Prejuízo aconteceu por razões que não devem se repetir, e é "compreensível" devido ao momento da empresa. A análise é do professor do curso de Finanças do Insper, em São Paulo, Ricardo José de Almeida. Ele aponta dois exemplos de despesas consideradas extraordinárias que impactaram: os custos com desmantelamento de áreas de produção de petróleo com previsão de abandono — quando a Petrobras deixa de operar um poço, por exemplo —, totalizando R$ 10 bilhões; e a revisão dos valores do plano de saúde de funcionários, com custo de R$ 3 bilhões.

Petrobras estava vendendo muitas atividades desde 2016, quando passou a focar exclusivamente na produção de petróleo. Só que chega um momento essa venda acaba, e isso está acontecendo, conforme o próprio relatório. Em 2023, esse desmantelamento gerou lucro de R$ 6,5 bilhões. No ano passado, R$ 1,2 bilhão.
Ricardo José de Almeida, professor do curso de Finanças do Insper

"Não perdemos dinheiro", disse presidente da estatal, Magda Chambriard. Professor do Insper não acredita que empresa enfrente instabilidade. "Não dá para esperar lucros iguais de 2023 porque a empresa decidiu focar em uma atividade específica, mas, pelo relatório, não há nenhum indicativo de perigo, ou que a administração tenha furos significativos. A liquidez ainda é relevante", pondera.

Desvalorização do real em 2024 também impactou no balanço. Dólar atingiu valores acima de R$ 6 no final do ano, atingindo diretamente as dívidas que a empresa tem no exterior. Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos, afirma que só o câmbio poderia reduzir o déficit em US$ 5,5 bilhões. "Fora isso, a redução de 2% no preço do barril do petróleo e a redução de 39% nas margens de lucro do diesel também foram responsáveis pelo resultado mais negativo", avalia.

Em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (27), a presidente da Petrobras falou sobre relação do câmbio. Se o dólar fechar no patamar de R$ 5,80, segundo Magda Chambriard, é possível que todo o "prejuízo" seja revertido em lucro já no primeiro trimestre de 2025.

Distribuição de dividendos é plausível

Petrobras aprovou pagamento de R$ 9,1 bilhões em dividendos. A petroleira informou que o Conselho aprovou o pagamento de dividendos e JCP (juros sobre capital próprio). A proposta foi encaminhada para AGO (Assembleia Geral Ordinária), que se reunirá em 16 de abril de 2025. Os pagamentos deverão acontecer em duas parcelas, nos meses de maio e junho deste ano. O repasse aos acionistas deve totalizar R$ 75,8 bilhões em todo exercício de 2024.

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Situação gerou dúvida: se a empresa teve prejuízo, por que está pagando dividendos? "Assim como na maioria das empresas, a Petrobras tem uma política de dividendos, que prevê a distribuição de 45% do fluxo de caixa livre. Então mesmo com o prejuízo, a empresa gerou fluxo de caixa livre suficiente para distribuir dividendos", explica Marcelo.

Levantamento da consultoria Elos Ayta aponta que a Petrobras desembolsou R$ 100,7 bilhões aos acionistas em 2024. O volume é 2,56% superior ao de 2023. "E? Importante destacar que os dividendos desembolsados não são apenas deste ano, mas também de anos anteriores", afirma Einar Rivero, sócio-fundador da consultoria. Petrobras ainda tem cerca de R$ 96 bilhões de dividendos a pagar aos acionistas, conforme o balanço.

Futuro com pontos de observação

Petrobras é uma empresa sólida. Apesar do prejuízo registrado no quarto trimestre e a redução nos dividendos, especialistas ouvidos pela reportagem não acreditam em um "problema administrativo grave", e consideram que Petrobras ainda é sólida. "Mesmo diante de um lucro reduzido, a Petrobras segue como uma das companhias mais relevantes do mercado brasileiro em termos de retorno ao investidor", acredita Einar.

"Petrobras tem condições de pagar dívidas em aberto", afirma Ricardo. O professor do Insper diz que o prejuízo registrado no quarto trimestre é mais contábil, e não deve se refletir nos próximos balanços. "Levando em consideração que, agora, a empresa vai ter lucros menores devido às mudanças de operações, mas não vai deixar de lucrar", reforça.

Investimentos em locais considerados não estratégicos, porém, levantam ponto de observação. A visão é de Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital. "Notamos que o governo prevê alguns investimentos em etanol e fertilizantes, que não são exatamente o principal foco da Petrobras. O presidente Lula (PT) diz que a empresa vai ser uma das financiadoras de uma nova política naval, o que também deixa o mercado um tanto apreensivo", afirma.

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Na segunda-feira (24), Lula assinou um contrato do Programa de Ampliação da Frota da Petrobras e Transpetro no Rio Grande do Sul, no valor de R$ 69,5 milhões. A presidente da Petrobras também estava no evento, e disse que a intenção é que a empresa opere uma frota própria de embarcações, para reduzir o custo com "alugueis" de barcos para exportação.

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