'Não perdemos dinheiro', diz presidente da Petrobras após balanço negativo

A imprensa noticiou pela manhã o prejuízo de R$ 17,04 bilhões no quarto trimestre de 2024. Mas quero esclarecer que isso não tem efeito no caixa, não é dinheiro que a empresa está perdendo. É efeito cambial porque a empresa teve que pagar a variação cambial de dívidas de subsidiárias da Petrobras no exterior.

Magda Chambriard, presidente da Petrobras

Com a queda do dólar que ocorreu em janeiro e parte de fevereiro, o resultado em reais no próximo balanço deve voltar a ser positivo, disse Magda. "Na divulgação do primeiro trimestre de 2025, devemos ter lucro em reais", afirmou ela. "Se no quarto trimestre do ano passado o dólar estivesse como está agora, em torno de R$ 5,75, teríamos um lucro de R$ 11 bilhões, afirmou ela mais tarde, em coletiva de imprensa. Mesmo assim, o número estaria abaixo do total do quarto trimestre de 2023, quando a Petrobras havia lucrado R$ 31 bilhões.

Para a presidente, o mercado está reagindo mal por conta da menor distribuição de dividendos. A estatal aprovou pagamento de R$ 9,1 bilhões em dividendos. O repasse aos acionistas deve totalizar R$ 75,8 bilhões em todo exercício de 2024. "São dividendos de 45% a 50% menores do que o mercado esperava", diz Análise de Tales Barros, líder de renda variável na W1 Capital.

A executiva disse que os dividendos estão menores porque os investimentos da empresa cresceram 31%. A companhia adiantou no ano de 2024 investimentos que só faria este ano na bacia de Búzios, no Rio de Janeiro. "É óleo novo e de alto potencial. Se pudesse, investiria todo o capex da empresa ali", afirmou ela. O capex é a "despesa de capital", na sigla em inglês, ou o valor dos investimentos em aquisições ou atualização de ativos.

O capex total do ano foi de US$ 16,6 bilhões, US$ 2,1 bilhões acima do limite superior da orientação. A previsão era de US$ 14,5 bilhões, cifra que havia sido revisada para baixo (de US$ 18,5 bilhão) em agosto de 2024.

Magda disse que o mercado deveria ficar feliz com o investimento em Búzios. "Esse campo é tudo que uma empresa de petróleo pode querer porque é o ativo dos sonhos de qualquer país e nós tivemos a fortuna de desenvolvê-lo", declarou ela.

Paridade de preços

A executiva da petroleira também rebateu críticas de que a Petrobras teria perdido dinheiro ao não reajustar os preços de combustíveis no fim do ano passado. "Não adianta cobrar mais pelo combustível se ninguém vai comprar e a companhia perder participação de mercado", afirmou ela. Magda também disse que um aumento de combustíveis no último trimestre do ano passado poderia ter causado instabilidade e insegurança à economia, para a companhia e para o mercado como um todo. "Trabalhamos pelo lado mais seguro, acompanhando a paridade minuciosamente", disse ela.

O que o mercado diz?

Para Malek Zein, analista de ações na Eleven Financial, "o efeito cambial realmente impactou a empresa". Se não fosse a queda do valor do real, segundo o diretor-executivo financeiro da estatal, Fernando Melgarejo, o resultado teria sido positivo. Ainda assim, entretanto, haveria uma queda na lucratividade em relação ao ano anterior, diz Daniela Lopes, assessora da Ébano Investimentos.

É por conta desse lucro que a empresa terá dinheiro para pagar dividendos. A empresa tem receita e dívida em dólares, mas o balanço é divulgado em reais. "Então, quando a cotação do dólar sobe, o balanço precisa ser atualizado para nova cotação do dólar. Mas a conversão não é apenas uma conta simples. Como o real desvalorizou, a empresa precisa reportar um prejuízo, ou seja, na verdade, um aumento de despesa financeira para que a conta no balanço seja atualizada para nova cotação do dólar", explica o analista.

Mas isso não significa, em termos de fluxo de caixa, que a empresa teve perda de dinheiro. "É apenas uma atualização, objetivamente, não muda absolutamente nada essa questão da variação cambial. Então, sim, a empresa pode pagar dividendos porque ela tem fluxo de caixa livre positivo", diz Malek Zein.

E os investimentos?

Para o Itaú, os investimentos em Búzios são positivos. "Consideramos que investir no desenvolvimento da produção do campo de Búzios é a melhor alocação de capital possível e respeitamos a avaliação técnica da empresa sobre o potencial de mitigação desta medida em relação aos riscos de atraso. Portanto, não vemos a decisão de antecipar o capex como negativa em si", publicou o banco. Daniela, da Ébano, concorda. "Historicamente, companhias que focam apenas no curto prazo, priorizando distribuição de dividendos sem reforçar sua capacidade produtiva e inovação, podem perder competitividade", acrescenta a assessora.