OEB: o que é a entidade brasileira que escolheu Milei economista do ano

O presidente da Argentina, Javier Milei, foi premiado pela OEB (Ordem dos Economistas do Brasil) pelas medidas econômicas que adotou no país desde que assumiu o cargo, no final de 2023.

A condecoração foi criticada pelo Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo, que afirmou estar "surpreso" com a escolha.

O que é a OEB

A Ordem dos Economistas do Brasil é uma entidade civil composta por especialistas do setor. Segundo o perfil da OEB no LinkedIn, a entidade tem como objetivo zelar pelo "prestígio" da profissão.

Fundada em 1935, a OEB é atualmente presidida por Manuel Enriquez García. A entidade também premia outros nomes que trabalham no setor como, por exemplo, os jornalistas econômicos.

O prêmio dado a Milei é proposto pela OEB desde 1959. Em 2024, o prêmio foi concedido a Roberto de Oliveira Campos Neto, presidente do Banco Central entre 2019 e 2024, nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Além de Neto, outros ex-presidentes do BC foram escolhidos pela OEB: Ilan Goldfajn, em 2017, e Gustavo Loyola em 2014.

O economista Antônio Delfim Netto foi condecorado pela OEB duas vezes. Netto recebeu o prêmio de Economista do Ano em 1996 e em 2009. Já o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi premiado em 2011.

Javier Milei é o segundo argentino a ganhar o prêmio. Em 1960, Raúl Prebisch foi escolhido pela OEB, que afirma que Prebisch "entrou para a história" por sua teoria da dependência —em que países centrais eram abastecidos com matérias-primas por países periféricos.

Segundo a OEB, a escolha é livre de opiniões pessoais e convicções dos envolvidos na votação. "Nossa tradição é a de, sem nenhuma ideologia, premiar economistas que ganham destaque por sua contribuição em postos do governo e à sociedade", afirmou García ao jornal Folha de S. Paulo.

O que aconteceu

Milei foi eleito pela OEB como Economista do Ano de 2025. Segundo a carta entregue pela entidade em reunião na Casa Rosada na última terça-feira (25), a votação que o elegeu ao prêmio foi "unânime". Os especialistas da OEB alegam que a "visão estratégica" e o "compromisso com a estabilidade econômica" que Milei vem apresentando foram fundamentais para orientar a economia local.

Continua após a publicidade

A eleição não poderia ter sido mais certeira, pois, desde que assumiu o cargo de Presidente da República Argentina, Vossa Excelência agiu com sabedoria e determinação nas políticas monetárias e regulatórias que desempenharam um papel crucial na estabilização da economia argentina em meio a desafios significativos Documento da OEB concedido a Javier Milei

De acordo com a OEB, o prêmio tem o objetivo de reconhecer o profissional cuja atuação valoriza e 'dignifica' a imagem da profissão. Além de um diploma, Milei receberá um troféu em uma cerimônia prevista para meados de agosto no Brasil. Segundo a Folha de S. Paulo, Milei aceitou o convite para vir ao Brasil, onde teria uma agenda de três dias.

Milei é investigado pelo Ministério Público argentino

Desde que assumiu o cargo, Javier Milei instaurou uma drástica política de austeridade orçamentária. O governo argentino teve seu primeiro superávit anual em 14 anos, e a inflação anual caiu de 211% em 2023 para 117% no ano seguinte. Em dezembro de 2024, a economia local cresceu 5,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior e 0,5% em comparação com novembro.

As medidas de Milei têm provocado forte reação contrárias na Argentina e na comunidade internacional. Cortes de mais de 45% em programas sociais e em benefícios a aposentados, pensionistas e servidores públicos aumentaram a taxa de pobreza no país — atualmente, 53% da população se enquadra neste indicador. Nestes cortes, estão políticas alimentares (redução de 18%) e na chamada bolsa Progressar, ofertada a estudantes (redução de 64%). Milei reduziu, ainda, as verbas para a secretaria de Educação em 95%.

Continua após a publicidade

Milei tem enfrentado também polêmica envolvendo uma criptomoeda. Na última semana, o presidente divulgou em suas redes sociais que um projeto privado a partir da $Libra incentivaria "o crescimento da economia argentina". Após repercussão negativa, Milei apagou a publicação. O Ministério Público do país entrou no caso e investiga se foram cometidos os crimes de abuso de autoridade, fraude, tráfico de influência e corrupção passiva por parte do presidente.

Conselho se manifestou sobre o caso

Em seu portal oficial, o Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo publicou uma nota em que contesta o prêmio. O texto, assinado por Odilon Guedes, presidente do Conselho Regional de Economia da 2ª Região, afirma que a escolha não foi feita pela entidade que representa a classe no Brasil e ressalta que a OEB representa somente os associados que dela fazem parte. Leia abaixo a nota na íntegra:

O Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo vem a público - e em particular aos Economistas - mostrar sua surpresa diante da notícia veiculada em 25/02/2025 de que a Ordem dos Economistas do Brasil, através de seu Presidente, Manuel Enriquez Garcia, condecorou o Presidente da Argentina, Javier Milei, como "Economista do Ano".

Diante deste fato, esclarecemos que o prêmio ao Presidente da Argentina não foi entregue pela entidade que representa os Economistas brasileiros. A referida Ordem é uma organização da sociedade civil com pouquíssimos associados com suas contribuições em dia e representa somente esse restrito público.

As únicas entidades com representação legal dos Economistas brasileiros são o Conselho Federal de Economia [Cofecon], uma autarquia federal que regulamenta e fiscaliza o exercício da profissão (Lei nº 1411/1951) e o Sindicato dos Economistas, que atua na defesa da categoria [...]

Continua após a publicidade

Cabe destacar que o Sr. Manuel Enriquez Garcia teve o seu registro de Economista suspenso pelo Cofecon por questões éticas, tendo o Tribunal de Contas da União (TCU) considerado procedentes as denúncias de irregularidades cometidas em sua gestão quando foi Presidente do Corecon-SP, na década passada.

*Com informações da AFP

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.