Empresa que alugou objetos para 'Ainda Estou Aqui' vê faturamento disparar

Dos móveis e objetos da família Paiva em "Ainda Estou Aqui", filme que concorre a três categorias do Oscar neste domingo (2), aos cenários em que vimos Ayrton Senna se transformar no maior piloto de fórmula 1 na minissérie "Senna" (Netflix, 2024), o inventário do Acervo Utimura já ajudou a contar histórias brasileiras que conquistaram o mundo nos últimos meses.

A empresa paulistana de objetos cenográficos, fundada em 2015, consolidou décadas de experiência da mesma família no audiovisual. Com a profissionalização das operações, expansão do catálogo e criação de parcerias estratégicas, o acervo viu seu faturamento aumentar de R$ 347 mil em 2018 para R$ 6,6 milhões no ano passado.

O que aconteceu

Empresa, referência no audiovisual, não para de crescer. O Utimura se tornou o maior espaço para acervo de objetos da América Latina, criou estúdio próprio para facilitar a produção de conteúdo de seus clientes e quer se transformar em um ecossistema de fomento para o audiovisual brasileiro.

Arthur Yamada, 27, é quem comanda a transformação da empresa. Ele cresceu entre quadros, mesas, sofás e tapetes que compunham as cenas de outras histórias - seja na publicidade ou na dramaturgia. Os objetos disputavam espaço no corredor da casa onde cresceu. Sua mãe, Viviane Utimura, a Vica, é produtora de objetos há mais de 20 anos, assim como as tias Vanessa e Paula Utimura.

Há dez anos, elas decidiram unificar em um lugar só os milhares de itens que garimparam ao longo de suas trajetórias e somar forças na expertise em produção de cenários. Foi quando surgiu o Acervo Utimura. O negócio começou de improviso, na sala da casa dos avós de Arthur. Ainda adolescente, ele ajudava como podia no dia a dia, mas não tinha pretensão de permanecer na empresa da família.

Acervo Utimura é tocado por Arthur
Acervo Utimura é tocado por Arthur Imagem: Acervo pessoal

Era muita correria. Me formei em administração de empresas e fui para o mercado financeiro. Trabalhei em banco e em uma gestora de venture capital, aprendi as teses de negócios bem sucedidos. Percebi que a figura do fundador faz toda a diferença. E me perguntava: 'como eu posso avaliar o futuro de empresas sem nunca ter colocado em prática toda a teoria?'
Arthur Yamada, presidente do Acervo Utimura

Arthur já cogitava empreender, mas não sabia em que área. Na pandemia de Covid-19, os impactos da paralisação das produções de audiovisual chegaram ao acervo, que faturou R$ 820 mil naquele ano. Enquanto ainda estava na gestora, começou a repensar o posicionamento do negócio familiar para o mercado. Não demorou muito para ele deixar o venture capital e investir todo o seu tempo na tese de negócios que criou. "Cresci vendo os cenários ganhando forma e contribuindo para contar histórias. É a magia do cinema. O primeiro Utimura do audiovisual foi meu tio-avô, Domingos Utimura, um mestre em efeitos especiais. Ficou como legado".

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O trabalho em "Ainda Estou Aqui"

Quem capitaneou a cenografia do filme produzido pela Conspiração foi Tatiana Stepanenko, veterana do setor. Ela apresentou à Utimura o que precisava para compor a casa da família Paiva, ambiente que concentra a maioria das cenas do longa-metragem. "Tínhamos o desafio logístico, pois a gravação no casarão aconteceu in loco, no Rio. A equipe levou alguns itens menores para lá, mas é quando se mudam para São Paulo [na narrativa] que nossa participação aumenta", diz Arthur.

O acervo ajudou a recriar o apartamento em que Eunice, interpretada por Fernanda Torres no longa de Walter Salles, vivia nos anos 1990. A residência mesclava móveis utilizados na casa com itens mais modernos e objetos que representavam aquele momento de vida da personagem, quando se tornou advogada de referência na defesa dos Direitos dos Povos Indígenas. "Quando trabalhamos com uma profissional do quilate que é Tatiana Stepanenko, nosso papel é muito mais viabilizar a visão criativa do produtor e facilitar suas demandas."

Acervo é usado em várias produções brasileiras
Acervo é usado em várias produções brasileiras Imagem: Acervo pessoal

Profissionalização de dentro para fora

Foi no mesmo ano da parceria com "Ainda Estou Aqui", em 2023, que a profissionalização do acervo se intensificou. Já com Arthur na empresa, tia Vanessa deixou a sociedade. Na nova configuração, ele assumiu a condução do negócio, acumulando funções típicas de presidente e do departamento financeiro. Paula ficou responsável por expedição, devolução, reposição dos objetos. Vica se voltou para a curadoria dos produtos, catalogação e fotografia para o site. "Juntamos o timing da minha geração, o anseio por colocar em prática rapidamente, com o primor de entrega que minha mãe e minha tia sempre prezaram", diz Arthur.

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Site virou ferramenta de trabalho para produtores. O site, que antes se restringia a uma vitrine de objetos, passou a fornecer orçamentos em poucos cliques e deu ferramentas para os clientes separarem os itens para diferentes projetos que estivessem em produção. "Fomos os primeiros com preços públicos para cada item. Queremos facilitar o dia do produtor. Poupá-lo de mais uma visita presencial", explica o presidente da empresa.

O acervo triplicou de tamanho nos últimos três anos. Saltou de cerca de 12 mil itens para mais de 40 mil objetos, incluindo móveis, obras de arte e artigos de decoração. Quase 60% do catálogo pertence a acervos menores, lojas de mobiliário ou até de produtoras, como Gullane, que optaram por repassar à Utimura a gestão de seus inventários.

O espaço físico precisou crescer quase 10 vezes. Em 2023, trocaram um galpão de mil metros por um de 9 mil metros quadrados, também no Ipiranga.

A expectativa é de fechar 2025 com R$ 9 milhões em faturamento e ampliar o leque de serviços prestados. No novo endereço, construíram um pequeno estúdio para que produções menores - geralmente voltadas para as redes sociais de marcas e influenciadores - possam ser feitas ali mesmo, sem a necessidade de transportar objetos e mobília.

A locação é o cerne da empresa, mas queremos ser o melhor parceiro que a equipe de produção pode precisar. Colocamos à disposição nosso conhecimento técnico, nosso inventário, nosso estúdio. Quem sabe não passamos a emprestar equipamento, também? Tem muita coisa para fazer ainda.
Arthur Yamada, presidente do Acervo Utimura

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