Alckmin diz que Brasil importa mais que exporta: como é relação com os EUA?

O vice-presidente Geraldo Alckmin disse que o Brasil não é um problema para os Estados Unidos, já que a balança comercial entre os dois países é favorável para os EUA. Mas é isso mesmo?

No ano passado, 12% nas exportações brasileiras foram para o país, e 15,5% das importações feitas pelo Brasil vieram de lá. A frase de Alckmin é uma resposta à declaração dada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de que o brasileiro "depende do americano".

O que aconteceu

Vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) disse que o Brasil não é um problema para os Estados Unidos. Ele garantiu que é possível buscar uma boa relação comercial, mesmo com as taxas impostas por Donald Trump. As afirmações foram dadas hoje em entrevista ao Jornal da CBN.

Trump disse que os brasileiros precisam dos norte-americanos, mas especialistas ouvidos pelo UOL avaliam que a importância do Brasil não deve ser relativizada. Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM, salienta que o Brasil é um aliado histórico e tem papel importante para empresas americanas devido à integração das cadeias produtivas. "Os Estados Unidos poderia encontrar isso em outro lugar, mas pagaria mais caro e abriria mão de décadas de relacionamento. Seria um incômodo significativo", explica Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM.

"Desequilíbrio" em taxação, porém, marca o comércio dos dois países. Apontamento é feito por Marcelo Godke, especialista em Direito Internacional Empresarial e sócio do Godke Advogados. "A questão não é a balança comercial, mas a discrepância nas tarifas praticadas pelos dois países. Isso, ao meu ver, é realmente um problema, porque não parece haver uma reciprocidade entre os dois países", afirma.

Trump precisa escoar produção local, entende especialista. "A relação entre Brasil e Estados Unidos não é principal para nenhuma das duas. Avalio que temos uma relação balanceada. Quando Trump fala do mercado internacional, ele também precisa que os outros comprem os produtos produzidos lá", afirma Stefânia Ladeira, especialista em Comércio Exterior e líder das áreas de operação de Comércio Exterior e Novas Soluções da Saygo Comex

Em 2024, os EUA tiveram uma participação de 12% nas exportações brasileiras e de 15,5% nas importações feitas pelo Brasil. Foram cerca de US$ 40,3 bilhões em exportações e US$ 40,5 bilhões em importações dos Estados Unidos no ano passado, segundo dados do governo brasileiro. Os números representam altas de 9,2% e 6,9%, respectivamente, em relação a 2023.

Governo brasileiro diz ainda fazer negociações para tentar barrar as tarifas. Vice-presidente afirmou que conversas com representantes dos Estados Unidos levam à criação de um grupo de trabalho para "cooperação econômica" entre os dois países. "O Brasil comemora 200 anos de relações diplomáticas com os Estados Unidos. Nós temos mais de 4.000 empresas americanas no Brasil, crescendo e gerando emprego", disse Alckmin.

Indicativo de que conversas estão em andamento é um bom sinal para manutenção das relações. "Tudo tem que ser negociado. Não dá para ficar apenas em bravatas, é de sentar e negociar como se faz em uma boa diplomacia. Trump deixou clara a metodologia dele. Ele dá um choque, põe o problema em cima da mesa para que ele seja discutido e resolvido", afirma Godke.

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Em números

Brasil exporta petróleo bruto e importa máquinas. O principal produto exportado pelo Brasil para os Estados Unidos é petróleo bruto (14% das exportações em 2024). Seguido por produtos semiacabados de ferro e aço (8,8%), aeronaves (6,7%) e café não torrado (4,7%).

Balança EUA X Brasil
Balança EUA X Brasil Imagem: Arte/UOL

País importa motores, máquinas e gás natural. No ano passado, o Brasil trouxe principalmente motores e máquinas (15%), óleos combustíveis de petróleo (9,7%), aeronaves e suas partes (4,9%) e gás natural (4,1%).

Estados Unidos são o principal investidor estrangeiro no Brasil. Em 2022, os americanos respondiam por quase 30% do total de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, com um estoque de mais de US$ 228 bilhões. Já em 2023 o número de investimentos de empresas americanas anunciados no Brasil foi 50% maior que o anunciado em 2022, o que mostra que o interesse dos americanos no país vem crescendo. Os dados são de um estudo da Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) em parceria com a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

Brasil é o quinto país que mais envia turistas aos Estados Unidos. A conta não inclui Canadá e México. O Brasil fica atrás de Reino Unido, Índia, Alemanha e Japão.

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Estados Unidos são o segundo país que mais envia turistas ao Brasil. Ainda assim, o número absoluto é um terço do número de brasileiros que visitaram os EUA.

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