Após curso no Sebrae, anfitriões do Airbnb cobram 10 vezes mais para COP30

Sob orientação de um curso do Sebrae, ministrado em parceria com o Airbnb, moradores de Belém estão cobrando dez vezes mais no aluguel temporário de seus imóveis para novembro, quando a cidade vai abrigar a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas).

O que aconteceu

Airbnb teve alta de 54% de cadastro de anfitriões. Belém deve receber cerca de 60 mil visitantes para a COP30, mas só há cerca de 18 mil vagas nos hotéis da cidade. Isso fez aumentar o mercado de aluguel por temporada, tanto que foram firmadas parcerias entre o Airbnb, o governo do Pará e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

Sebrae e Airbnb deram cursos para anfitriões. Cerca de 500 moradores de Belém participaram de capacitações, inclusive para aprender quanto cobrar de aluguel durante a COP30. A organização precisou abrir novas turmas e há 300 interessados na lista de espera para os cursos, diz a analista do Sebrae no Pará, Anuska Prado.

US$ 130 por hóspede. Um dos slides do curso, ao qual o UOL teve acesso, cita como bom exemplo de precificação na COP30 uma reserva realizada por um usuário de Nova York custando R$ 13.296. O curso "ensina a calcular o preço ideal para sua hospedagem no Airbnb, levando em consideração diversos fatores como custos fixos, custos variáveis e preços praticados no mercado", diz o site oficial do Sebrae. "Também apresenta um panorama do mercado de hospedagem para a COP 30, ajudando você a definir preços competitivos e maximizar seus ganhos."

R$ 1.700 por dia. Suelene Correia, 40, participou de aulas do Sebrae e conta que, durante os cursos, aprendeu o básico de hospitalidade e de precificação. Após a consultoria, decidiu disponibilizar seu apartamento de 100 m² no bairro de Marco, a 4 km do centro de Belém, por US$ 300 a diária, por pessoa, valor dez vezes maior que o normal.

Preço foi inspirado nas últimas COP. Suelene conta que nas capacitações foram citados como base os aluguéis de imóveis de outras cidades que receberam a conferência das Nações Unidas. Ela diz que vai investir até R$ 15 mil em melhorias no seu apartamento (como ar-condicionado), e espera que o aluguel por 15 dias deve lhe render mais de R$ 25 mil.

Roseane Dias já alugou um dos quartos de sua casa por R$ 16 mil durante os dez dias de conferência
Roseane Dias já alugou um dos quartos de sua casa por R$ 16 mil durante os dez dias de conferência Imagem: Talyta Vespa/UOL

5 mil novos anúncios no Airbnb. O número de acomodações aumentou após a parceria com o governo do Pará. Uma das demandas que explodiu foi o de "coanfitriã", como são chamados os usuários do Airbnb que ajudam a administrar reservas de outros proprietários, conta Roseane Dias, 44.

'É a COP da Amazônia'. Roseane está habituada a alugar um dos quartos de seu próprio apartamento e hoje administra outros cinco imóveis: dá dicas de hospitalidade, precificação e publicidade: "Belém fica a 30 minutos da floresta amazônica. É preciso levar a floresta ao anúncio - e levar um toque da Amazônia pra dentro de casa".

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Preço absurdo atrapalha mercado. Embora a alta nos aluguéis seja esperada, hospedagens por até R$ 2 milhões em sites como Airbnb e Booking, como já foi noticiado, são "fora da realidade", diz Roseane, que analisou o histórico da COP29 e alugou um quarto de seu apartamento por R$ 16 mil por dez dias. "Alguém pode botar R$ 2 milhões no anúncio de uma casa. Isso quer dizer que vai ser alugado? Não, né?"

Governo diz que não terá déficit de hospedagens. A assessoria de imprensa do governador Helder Barbalho (MDB-PA) anunciou a construção de quatro novos hotéis e a disponibilização de hotéis "flutuantes" em navios de cruzeiro e 17 "hostels" montados em 17 colégios da cidade.

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