Fed diz que 'insegurança aumentou' com governo Trump
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O Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) justificou a manutenção da taxa de juros americana afirmando que "a incerteza em torno da perspectiva econômica aumentou". O comunicado foi feito pelo Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto). Na Bolsa brasileira e na cotação do dólar nesta tarde, não houve grandes oscilações.
Ao comentar o comunicado, o presidente do FED, Jerome Powell disse ainda que as tarifas de importação impostas pelo novo presidente dos EUA, Donald Trump, podem aumentar a inflação. "É difícil dizer o quanto do aumento de inflação esperado será causado pelas tarifas. Mas certamente será uma boa parte", disse Powell. Ele manteve a expectativa de mais dois cortes de juros este ano, mas tudo vai depender dos dados "No começo da uma administração há sempre mais turbulência. Isso pode melhorar ainda", afirmou.
O que está acontecendo?
Com a manutenção, os percentuais das taxas dos EUA permanecem novamente entre entre 4,25% e 4,50% ao ano. Foi a segunda vez que o Fed manteve a taxa, a mesma desde o final de 2024.
"Indicadores recentes sugerem que a atividade econômica continuou a se expandir em um ritmo sólido", diz o comunicado do Fomc. "A taxa de desemprego se estabilizou em um nível baixo nos últimos meses, e as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas. A inflação continua um pouco elevada."
No comunicado, o comitê diz que "estaria preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado se surgirem riscos que possam impedir a obtenção das metas do Fomc". "As avaliações do Comitê levarão em conta uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, e desenvolvimentos financeiros e internacionais".
O banco ainda deixou a porta aberta para novos ajustes nas taxas. "O Fed adotou uma postura cautelosa diante das incertezas econômicas geradas pelas políticas do governo de Donald Trump (presidente dos EUA), como tarifas comerciais e alterações no gasto público", diz José Cassiolato, sócio da RGW Investimentos. "Ele evita ajustes imediatos e deixa a porta aberta para eventuais cortes dependentes do cenário econômico para 2025."
No que diz respeito à inflação, os membros do comitê revisaram suas projeções para cima. "Essa sinalização reforça a dificuldade do Fed em trazer a inflação de volta à meta de 2%, o que pode limitar o espaço para cortes de juros ao longo do ano", analisou Daniela Lopes, planejadora financeira e assessora de investimento da Ébano Investimentos. "A dúvida quanto às políticas comerciais do governo americano e seus impactos sobre a atividade econômica devem contribuir para que o Fed mantenha essa postura cautelosa nos próximos meses", completou Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank.
Por que os juros dos EUA importam?
Se confirmando uma diminuição no ritmo do crescimento da economia americana, as taxas no Brasil podem cair também. "Se isso acontecer e houver uma consequente queda na taxa de juros americana nas próximas reuniões deste ano, abre-se espaço para que o ritmo de aperto monetário no Brasil chegue ao fim este ano", disse Tiago Feitosa, fundador da T2 educação financeira.
E daqui para frente?
Embora a perspectiva do Federal Reserve aponte para dois cortes de taxas ainda este ano, isso pode não acontecer. "Vamos esperar por mais claridade para decidir o que faremos", disse Powell. "Olhando para o futuro, o novo presidente está no processo de implementar mudanças políticas significativas em quatro áreas distintas: comércio, imigração, política fiscal e desregulamentação. É o efeito líquido dessas políticas que importará para a economia e para o caminho da política monetária", acrescentou.
O mercado agora vai acompanhar as projeções do comitê. "Apesar de uma economia ainda resiliente, o Fed sinalizou que reduzirá o ritmo de enxugamento do seu balanço de ativos, demonstrando cautela diante da persistência da inflação elevada", avaliou Willian Andrade, da gestora Kaya Asset Management.
Em geral, o mercado, gostou da manutenção. "Não vejo mais de dois cortes, como previsto, acontecendo este ano", disse Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos. Embora estejam cautelosos, a confiança é de que a economia americana continua forte, sem riscos de inflação, acrescentou Fernando Bresciani, analista de investimentos do AndBank. "O mercado de trabalho americano continua forte", acrescentou Davi Lelis, sócio e economista da Valor Investimento. "A vida dos membros do Fomc ficou mais difícil com o governo Trump. mas até o momento os ajustes nas perspectivas para a política monetária foram bastante parcimoniosas. Até a próxima reunião muita coisa pode mudar", pondera Danilo Igliori economista-chefe da Nomad.
O Fed também vai fazer uma redução no resgate de títulos públicos americanos. "Isso favorece o mercado de crédito a médio e longo prazo, dando um suporte indireto para o mercado de crédito!", afirma Lelis.