Taxação de Trump pode tornar 'negócio da China' para o agro brasileiro
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Após a imposição de tarifas e barreiras comerciais pelos EUA, a China decidiu retaliar as medidas de Donald Trump tornando mais caros os produtos agrícolas norte-americanos que entram no país. A tensão entre os dois países, contudo, pode sinalizar bons negócios para o agro brasileiro, que deve absorver parte da nova demanda chinesa e também de outros países afetados pela política norte-americana, como México e Canadá.
A taxa de juros e a defasagem da produção, porém, são fatores de preocupação para os produtores e industriais do agronegócio.
Negócio com a China
Resposta da China a taxação de Trump. Desde o último dia 10, a China tarifou em 15% o valor de carne de frango, trigo, milho e algodão norte-americanos. Soja, sorgo e carne bovina foram sobretaxados em 10%.
Expectativa de alta das commodities. Para a tributarista Priscila Ziada Camargo Fernandes, sócia do escritório Ernesto Borges Advogados, especializada em recuperação de ativos no setor agro, há uma expectativa de alta das commodities brasileiras, mas o impacto real da tensão entre norte-americanos e chineses ainda precisa ser acompanhado e aguardar o término da colheita da safra.
Sem dúvida, deve haver um impacto positivo do ponto de vista de preço, porque a depender, [a importação chinesa] deve deprimir os preços de commodities nos Estados Unidos e fortalecer os do Brasil.
Priscila Ziada Camargo Fernandes, sócia do escritório Ernesto Borges Advogados
Preço da carne também pode aumentar. Mariana Inocente P. Guimarães, gerente de exportação para a Ásia da Ramax Group, empresa do setor de proteína animal, destaca que no mercado chinês, a carne bovina brasileira não compete com a americana, mas ainda assim há possibilidade de alta.
"É diferente o nicho de cada carne [americana e brasileira], porém a gente vai ver uma diminuição no volume. Com certeza vai aumentar a procura dos chineses pela carne bovina [brasileira]", diz Guimarães.
Carne brasileira é usada pela indústria chinesa. A gerente explica que a carne bovina brasileira, originada em gado de pastagem, é usada pela China para a industrialização, enquanto a americana, feita com animais em confinamento, vai direto para o catering, como restaurantes, hotéis e mesmo supermercados.
A oportunidade de mercado do momento, portanto, deve estar em outras proteínas. "Diminuindo as ofertas dos Estados Unidos, a procura por porco e frango vai ser ainda maior e a empresa completa no mercado de proteínas deve aumentar as vendas [desses itens] e, consequentemente, o preço negociado", avalia Guimarães.
Expectativa e desafios
"Ainda é muito prematuro para a gente informar o volume desse impacto. A China já é uma das grandes demandantes do Brasil, diferente, por exemplo, de quando a gente teve esse mesmo episódio em 2018, mas sem dúvida a gente deve ter um aumento desses percentuais", afirma Fernandes.
Algodão, milho, soja e carne devem crescer. Para a especialista, os setores com chance de maior crescimento devem ser os de algodão, milho e, soja e carnes. "A tendência é que isso também leve para um cenário de redução de custo [de insumos, como ração] em alguns segmentos, como carne [bovina] e frango", destaca a tributarista.
Rebanho limitado
Pecuária não é tão competitiva. Apesar das oportunidades, o setor pecuário no Brasil ainda não é tão competitivo no mercado internacional chinês quanto outras commodities agrícolas. "O maior desafio é ter animais disponíveis dentro da qualificação chinesa, que são bovinos até 30 meses prontos para o abate", afirma Guimarães.
Margem de lucro menor. Além disso, o equilíbrio entre o preço do boi e o preço da carne também é um ponto crítico, já que tanto os produtores quanto a indústria têm visto suas margens diminuírem.
Menos pasto. Outro fator que preocupa o setor é a redução do rebanho bovino, impulsionada pela substituição de pastagens por outros plantios mais rentáveis. "Hoje em dia, você vê pouquíssimas fazendas de cria de bovinos, porque as pessoas preferem colocar outras culturas nesse espaço", diz Guimarães.
Maior parte da produção é consumida no Brasil. Segundo a gerente da Ramax, estas limitações de produção hoje fazem com que apenas 30% da produção nacional bovina seja destinada à exportação.
Amendoim
O segmento de amendoim está otimista com a possível expansão do mercado. Para além da China, o segmento mira em outros países taxados ou barrados pela nova política econômica dos EUA.
Setor mira Canadá e México. É o caso de Canadá e México, grandes importadores de amendoim que também devem restringir produtos dos Estados Unidos após sofrerem com as medidas protecionistas norte-americanas.
Mesmo com a seca, expectativa é de uma supersafra. "Pode ser que seja direcionada uma demanda [mexicana e/ou canadense] aqui para Brasil e Argentina", afirma Rodrigo Chitarelli, CEO da CRAS Brasil. Mesmo com um período de seca que pode prejudicar a colheita, a expectativa do setor é de uma supersafra de amendoim este ano, pois houve aumento de 40% na área plantada.