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Estoque baixo e consumo internacional aquecido disparam preço do milho

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Imagem: Couleur/ Pixabay

Danielle Castro

Colaboração para o UOL, de Ribeirão Preto

26/03/2025 17h00

A crescente demanda internacional por soja e milho têm impactado os preços dessas commodities no Brasil, com reflexos diretos na inflação e no custo de vida do consumidor. Enquanto a soja enfrenta oscilações devido a fatores climáticos e logísticos, o milho registra altas consecutivas e bateu o maior valor desde abril de 2022.

Milho em alta

O milho vive um cenário de estoques reduzidos. Apenas 2,04 milhões de toneladas estavam disponíveis no início da temporada 2024/2025, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), empresa pública responsável pelo levantamento das safras e do hortigranjeiro no Brasil.

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O montante representa apenas 2,4% do consumo anual de milho pelo mercado interno. Nesta safra, conforme estimativa da Conab, chegaria a 86,97 milhões de toneladas.

Demanda em alta. De acordo com nota da equipe de especialistas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), a demanda pelo cereal está forte, mas a logística e a prioridade à soja limitam a oferta. A entidade aponta que a quantidade disponível do grão é inferior às 2,1 milhões de toneladas apontadas em fevereiro deste ano e está bem abaixo dos 7,2 milhões de toneladas da safra anterior (2023/2024).

Esse cenário mantém os preços em alta na maior parte das regiões acompanhadas pelo Cepea. "Na praça de Campinas (SP), o Indicador ESALQ/BM&FBovespa se aproxima de R$ 90/saca de 60 kg, patamar nominal verificado pela última vez em abril de 2022", destaca a entidade.

No mercado nacional, a procura pelo produto segue ativa, mas vem esbarrando "nos maiores valores pedidos por vendedores e nas dificuldades logísticas. "Além disso, produtores continuam priorizando os embarques de soja e os trabalhos de campo, como a colheita da safra verão - que ainda é pontual, resultando em poucos lotes sendo disponibilizados no spot [nacional] - e a semeadura da segunda temporada", informa o Cepea.

Expectativa de demanda maior para soja

Soja brasileira é base para produtos como óleo de cozinha e ração animal. O principal produto de exportação do país tem tido variações importantes na cadeia produtiva, o que pode levar a uma valorização do produto no mercado internacional.

Estoques do produto devem ficar menores neste ano. Segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), isso deve ocorrer mesmo com aumento da Safra provocado pelas boas chuvas na América Latina, houve uma quebra de produção em estados como Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul e na vizinha Argentina. "Também já temos um anúncio que os Estados Unidos deve ampliar a área de milho reduzindo a área de soja. Tudo isso favorece para que os preços subam", afirma Lucas Costa Beber, produtor e presidente da Aprosoja-MT.

A guerra comercial entre EUA e China é outro fator de pressão. "Haverá mais demanda por soja brasileira", diz Beber.

Dólar alto nem sempre é lucro certo

Cepea/Esalq-USP indica que, no momento, os valores da soja variam entre estáveis e enfraquecidos. "Qualquer problema climático que aconteça, seja nos Estados Unidos, seja na Europa, na Rússia, na Ucrânia, com a produção de trigo, milho, canola, girassol, entre outros, pode interferir no mercado de commodities, principalmente de soja ou de milho", destaca técnico em agropecuária Marco Aurélio Castelli, sócio diretor comercial e trader da Agrobom.

Mesmo com o dólar perto de R$ 6,00, a logística inadequada anula parte dos benefícios. "No final das contas, esse efeito de melhoria na demanda e de uma possível melhoria dos preços, acaba não se refletindo nos [ganhos do] produtor", diz Castelli.

Para conter a inflação gerada. A Aprosoja reforça o discurso de mercado de que o governo precisa controlar os gastos fiscais para atrair mais investimentos internacionais e ter melhor manejo do dólar, moeda pela qual as commodities são avaliadas.

Inflação e desafios

A alta nos preços da soja e do milho tem efeitos em cascata. A soja é essencial para ração animal, impactando o custo de carnes como frango, suíno e bovino. Já o milho, além da alimentação animal, é usado em produtos industrializados. "A disputa entre mercado interno e exportação pode elevar ainda mais os preços", alerta Castelli.

A logística precária, centrada no transporte rodoviário, encarece o processo e reduz os ganhos. Jackson Campos, especialista em comércio exterior e diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo, pontua que a supersafra de soja, estimada em 325,7 milhões de toneladas, na verdade, pressiona a infraestrutura, "com fretes subindo até 62% no Mato Grosso."

Aumentar a produção é saída para combater a inflação e o preço alto. Estamos suscetíveis ao mercado internacional, seja para exportar ou para importar alimentos, então deveríamos ter um controle do dólar", defende Beber, da Aprosoja.

Insumos mais baratos. O resultado dessa queda da moeda norte-americana seria a redução do custo de insumos importados, que poderiam ser um incentivo para aumentar o plantio e, consequentemente, a produção, com redução do preço final dos alimentos.

Investimentos em ferrovias e portos são também essenciais. "O Brasil precisa aprimorar logística e práticas sustentáveis para manter a liderança nas exportações", diz Campos.


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