Economistas questionam cálculo de Trump e divergem sobre retaliação
Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Campinas (SP)
02/04/2025 18h38
O Brasil não deveria retaliar os Estados Unidos após o anúncio de cobrança de taxas de importação de 10% dos produtos exportados pelo país. A avaliação é de economistas e especialistas ouvidos pelo UOL logo após Donald Trump falar sobre o tarifaço, que entra em vigor a partir de amanhã. Eles também consideraram o cálculo que chegou a esse percentual "duvidoso".
O que aconteceu
Trump mostrou uma tabela com as taxas cobradas pelos países. Segundo o presidente, foi feito um cálculo médio de todos os valores cobrados, e esse número foi considerado para a nova taxa estipulada pelos Estados Unidos. O Brasil será taxado em 10% em todos os produtos importados pelos EUA.
Porém, descrição feita nessa tabela é contestada. Segundo o economista André Perfeito, na coluna "Tarifas Cobradas dos EUA", é possível ler a frase "incluindo manipulação do câmbio e barreiras comerciais", porém não há uma certeza sobre como esse cálculo foi feito. "Não faço a menor ideia como eles calcularam isso, me parece uma conta mal feita, mas estamos procurando mais detalhes em documentos oficiais", afirmou.
Relacionadas
Governo e setor privado também contestam a taxa. Informação é do colunista do UOL Jamil Chade, que ouviu fontes que relataram que, na avaliação do Brasil, a média de imposto cobrado dos bens americanos é, em média, de 2,7%.
Economistas divergem na avaliação do impacto da tarifa de 10%. Ronaldo Félix, especialista em comércio exterior e sócio da Saygo Comex, considera que a decisão do governo Trump foi "equilibrada". "Itens como couro e madeira, que representam pouco volume nas exportações totais, não devem impactar tanto a balança comercial", avalia. Já Juliane Furno, economista e professora da UERJ, afirma que a maioria dos produtos que o Brasil exporta para os Estados Unidos, tem tarifa zero. Ela também questiona a conta feita pelo governo Trump. "Acho que a gente vai ser ainda mais prejudicado, porque é 10% em cima de zero. Então é uma variação muito grande nas tarifas", aponta.
Brasil até pode adotar retaliação para equiparar as taxas aos 10% cobrados pelos americanos, mas decisão pode ser ruim a longo prazo. Juliana Inhasz, economista e professora do Insper, lembra que o aumento da taxa significa subida de preço dos produtos importados no Brasil. "Nós não temos muito como fugir de importar bens de lá, ao menos não no curto prazo. Então o custo seria maior, e isso me parece um tiro no pé", disse.
Negociação ainda é melhor arma que o Brasil tem. Opinião é de Fabrício Polido, advogado e sócio da área digital do escritório LO Baptista. "Empatar a tarifa seria extremamente desaconselhável. O canal negociador diplomático técnico é muito mais saudável e necessário", considera. "O mercado americano é muito importante para diferentes players no mundo, então um cenário de forte retaliação pode ser potencialmente mais negativo para quem retalha", complementa William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
Ainda há dúvidas que precisam ser esclarecidas, como se essa tarifa vai se impor a outras já anunciadas. Principal questão é o aço e alumínio exportados pelo Brasil. Em 12 de março, Trump taxou todos esses produtos em 25%. Polido ainda coloca em dúvida essa questão, mas Ronaldo Félix considera que o imposto para esses produtos vai baixar. "Eu entendo que há margem para que o governo negocie essa tarifa padrão", pondera.