Tarifas de Trump elevarão inflação no mundo e podem gerar recessão nos EUA
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O pacote de tarifas comerciais que o presidente dos Estados Unidos Donald Trump anuncia hoje deve aumentar a inflação global e pode gerar um cenário de recessão nos EUA, segundo analistas ouvidos pelo UOL.
Entenda
Tarifas vão aumentar os preços nos Estados Unidos, gerando inflação. A imposição de tarifas a produtos importados eleva os preços desses itens dentro do país, e quem vai pagar essa conta é o consumidor americano. "Isso gera inflação na economia do país. Wall Street já está com expectativa inflacionária", diz Marcio Sette Fortes, professor de relações internacionais do Ibmec.
Consumo nos Estados Unidos já diminuiu. Mesmo antes da divulgação oficial do tarifaço, os dados mostram que o consumo dos americanos já diminuiu em fevereiro, na expectativa de um aumento de preços. "Os consumidores também estão com expectativa inflacionária e isso resulta em menos consumo antes mesmo da elevação de preços", diz Fortes.
Estratégia de Trump pode levar os EUA a uma recessão, com perda do padrão de vida dos americanos. "A inflação já está perigosa nos EUA, perto de 3%. Com as tarifas, há expectativa de chegar a 6% e aí as pessoas param de comprar, o que vai levar a um quadro de recessão", diz Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM.
Há risco de perda de empregos e estagflação. Com o freio no consumo, há risco também de redução nos empregos, o que levaria a um cenário de estagflação, que é a combinação de inflação alta e estagnação econômica, diz Fortes.
Efeito internacional
O efeito inflacionário não ficará restrito somente aos Estados Unidos. O aumento de tarifas deve reduzir o comércio internacional de forma ampla e o efeito disso é aumento da inflação para diversos produtos e países, diz Trevisan. "Quando reduz o comércio, a oferta, os preços sobem, isso é indiscutível", diz.
Principais parceiros comerciais dos EUA serão os mais afetados. Segundo Trevisan, México, Canadá e China serão os mais afetados pelo tarifaço de Trump. Além da inflação, há risco também de redução da atividade econômica, em especial para o México. "No México, a recessão já chegou com o simples anúncio de que algo ia acontecer", diz.
Restrições ao comércio ameaçam atividades em diversos países. Além do aumento de preços, há riscos para atividades com forte exportação para os Estados Unidos, ressalta o professor da ESPM. No caso da Europa, um destaque é a produção de vinhos, que será prejudicada caso o produto seja taxado nos EUA. No Brasil, além de aço e alumínio, há destaque para a produção de peças para a indústria.
O Brasil vende bilhões para a indústria de transformação nos Estados Unidos. Isso tem um impacto de 200 mil empregos diretos no Brasil. Temos uma infinidade de pequenas empresas que vendem peças para a cadeia industrial americana. Tudo isso será impactado, não é só o aço e o alumínio.
Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM
Brasil também pode sofrer com inflação, especialmente se aumentar taxas a produtos dos EUA. Os países que decidirem aumentar suas tarifas a produtos dos Estados Unidos como resposta às medidas de Trump terão como efeito colateral o aumento dos preços dos itens taxados. "A retaliação de um gera a retaliação de outro e todos perdem", diz Fortes, do Ibmec.
Congresso discute reação do Brasil. Um projeto de lei aprovado ontem pelo Senado abriu possibilidades de reação do Brasil a barreiras comerciais criadas por outros países. Dentre as medidas previstas está a suspensão de direitos de propriedade intelectual, como patentes e royalties. O texto ainda precisa passar pela Câmara dos Deputados.
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