Aço e alumínio não devem ter sobretaxa dos EUA, mas outros produtos, sim

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A tarifa de 10% aplicada aos produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos não deve se "somar" à taxa de 25% já cobrada pelo aço e alumínio brasileiros desde março. Entendimento é que esses produtos obedecem resoluções anteriores do presidente Donald Trump. Porém, outros produtos podem ser taxados duas vezes. "Tarifaço" entra em vigor amanhã, mas não houve ainda a publicação de qualquer documento que explique como a tarifa vai ser aplicada.
O que aconteceu
Não houve nenhuma nova publicação da Casa Branca que ajudasse a entender como será o tarifaço, que começa na madrugada de amanhã. Duas ordens executivas foram publicadas até agora: uma sobre a taxação em si, onde o Brasil é citado duas vezes, mas sem uma lista de produtos diretamente afetados —nem mesmo a tabela apresentada por Trump na quarta-feira consta no documento, e outra falando sobre o fim da isenção de impostos para pequenos produtos vindos da China.
Aço e alumínio foram taxados em 25% em 12 de março e não devem ter nova tarifa. Uma publicação feita pela XP Investimentos, assinada por Maria Irene Jordão, analista global, e Raphael Figueredo, estrategista de ações, cita um trecho da ordem executiva do "tarifaço", onde a Casa Branca afirma que estão "isentos da tarifa recíproca" artigos de aço e alumínio, automóveis e peças de automóveis —que também têm tarifas de 25% cobradas desde quarta-feira, cobre, produtos farmacêuticos, semicondutores, artigos de madeira, barras de ouro, energia e minerais que não estão disponíveis nos EUA.
Canadá e México não estão no "tarifaço", mas têm taxas individuais, enquanto China teve taxa somada. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, confirmou que a alíquota total será de 54% para os chineses: os 34% anunciados ontem serão acrescidos aos 20% já em vigor. Por isso, Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, acredita que o aço brasileiro não será duplamente taxado, mas considera que outros setores podem ser impactados. "A tarifa atinge produtos como celulose e a produção aeronáutica, tornando nossas exportações menos competitivas", afirma. "Isso também pode influenciar investimentos em setores como indústria e infraestrutura", acrescenta Pedro Ros, CEO da Referência Capital.
Produtos podem ser sobretaxados, ou seja, terão duas cobranças: a taxa cobrada anteriormente mais os 10% anunciados por Trump. Avaliação é de Jorge Viana, presidente da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), que cita os aviões, que hoje não são taxados pelos Estados Unidos, e o café, que tem taxa de 9% —podendo ir até 19% nesta teoria, como alguns exemplos de produtos afetados.
Etanol pode ser uma das principais "vítimas" O Brasil aplica uma taxa de 18% sobre o produto americano, enquanto os EUA cobram 2,5% do combustível brasileiro. O CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro, afirma que, apesar de o "tarifaço" não ter incluído nada específico sobre isso, esse tipo de diferença pode estar na mira de novas ações. "O pacote atual reforça uma estratégia de pressão generalizada que pode se intensificar sobre setores sensíveis como o agro e os combustíveis", afirma.
Se os EUA reduzirem as exportações ou aumentarem os preços, o Brasil pode ter que buscar outras fontes de etanol, ou até aumentar a produção local. Na avaliação de Thiago Oliveira, CEO e fundador da Saygo Group, isso pode significar um custo maior de produção ou um desequilíbrio momentâneo no abastecimento. "Com menos oferta no mercado ou preços mais altos para importar, é provável que o custo do etanol suba no Brasil e, como sempre, quem sente primeiro é o consumidor na bomba de combustível", afirma. Por outro lado, ele considera que pode surgir uma oportunidade para os produtores de etanol do Brasil. Com os preços internacionais mais altos, eles podem acabar ganhando mais competitividade.
Quando apresentou tabelas de taxas, Trump disse que cálculos foram feitos levando em consideração a média das taxas cobradas pelos países na importação de produtos americanos. No entanto, a conta é questionada por especialistas. A avaliação da XP Investimentos é que a regra adotada para determinação de tarifas recíprocas não foi baseada nas alíquotas cobradas por cada país às importações, mas pelo tamanho do déficit comercial dos EUA com cada país.
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