Exportadoras, techs e aéreas são setores mais afetados pelo tarifaço

A divulgação do tarifaço americano, nesta semana, fez vários setores da economia global sofrerem com a queda de suas ações nas Bolsas do Brasil e do exterior. Por aqui, as ações de empresas exportadoras foram as que mais caíram. Nos Estados Unidos, lideraram as quedas companhias de tecnologia, de aviação —tanto linhas aéreas quanto fabricantes — e as de consumo.

O que está acontecendo?

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, divulgou na última quarta-feira a nova taxação às importações americanas. O Brasil terá uma de pagar 10% em suas exportações, enquanto para a Europa esse percentual será de 20% e para China, de 34%.

O mercado já vinha respondendo a esse movimento desde o início da semana. Com o anúncio, as quedas se intensificaram. "O impacto nos mercados foi imediato. A sinalização de uma nova fase protecionista gerou aversão ao risco, provocando recuos generalizados em ações ligadas ao comércio internacional", diz Daniela Lopes, assessora da Ébano Investimentos.

No Brasil, as ações mais afetadas na semana foram:

  1. Companhia Siderúrgica Nacional (CSNA3), com queda de 9,55%
  2. Braskem (BRKM5): - 9,30%
  3. CSN Mineração (CMIN3): - 7,30%
  4. Gerdau Metalúrgica (GGBR4): - 5,80%
  5. Gerdau (GOAU4): - 5,67%
  6. Vale (VALE3): - 4,67%
  7. Embraer (EMBR3): - 4,52%
  8. Petrobras (PETR4): - 4,11%
  9. Suzano (SUZB3): - 4%
  10. Azul (AZUL4): - 3,78%

Fonte: Economatica, de 31 de março a 3 de abril

Setores como siderurgia, empresas ligadas a produtos que têm como base o petróleo, papel e celulose, agronegócio e automotivo estão sofrendo mais. "Eles dependem das exportações e também fazem a importação de insumos", explica Elson Gusmão, diretor de operações da Ourominas.

Mesmo com o Brasil sendo tarifado em um percentual menor que outros países, o impacto foi grande e acabou atingindo a indústria de base. Braskem (BRKM5), por exemplo, caiu 9,30%, enquanto PetroRio (PRIO3) desvalorizou 8,25% e PetroRecôncavo (RECV3), 6,32%. "Essas empresas têm grande parte de sua receita atrelada ao mercado externo. Com o aumento de barreiras, cresce o receio de desaceleração nas exportações, aumento de custos e reavaliação de contratos", diz Daniela.

Até mesmo empresas com vendas mais direcionadas à China que aos EUA foram — e ainda serão — afetadas. É o caso da Companhia Siderúrgica Nacional, com baixa de 9,55%. "Como a China exporta muito para os Estados Unidos e ela foi taxada em 34%, o crescimento econômico por lá vai desacelerar e isso, consequentemente, afeta essas empresas exportadoras brasileiras", diz André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.

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O agronegócio também não escapou. A sucroalcoleira Raízen (RAIZ4) caiu 1,08%. Frigoríficos, como JBS (JBSS3), que caiu 1,23%, também sentiram reflexos negativos. "O etanol brasileiro passou a ser alvo de tarifas americanas, em resposta às aplicadas pelo Brasil sobre o etanol dos EUA e a taxação sobre diversos produtos agrícolas importados podem afetar as exportações brasileiras desses itens", diz Marcos Gimenez, presidente da Bravo, de soluções tecnológicas para as áreas fiscal e contábil.

E no exterior?

Nos Estados Unidos, as maiores quedas acumuladas na semana ficaram com empresas de tecnologia. A Dell Technologies (DELL) teve queda de 16,32% de 31 de março a 3 de abril, na Bolsa de Nova York. Outra que sofreu bastante foi a HP (HPQ), com baixa acumulada no período de 14,77%. Os dados são da Economatica. "Receio de aumento de custos de produção, especialmente com componentes vindos da Ásia, impactam a cadeia global da tecnologia, uma das mais sensíveis a políticas protecionistas", diz Daniela.

Outros setores bastante impactados foram os de fabricantes de aviões e de companhias aéreas. A fabricante Boeing (BA) caiu 12,97% na semana. Já as aéreas United Airlines (UAL), Southwest (LUV) e Delta Air Lines (DAL) tiveram tombo de 14,24%, 14,08% e 11,77% respectivamente. O encarecimento de peças importadas e a possibilidade de queda na demanda global por viagens é o que faz os investidores venderem essas ações.

Produtos de consumo também foram pegos. A rede de lojas de eletrônicos BestBuy (BBI) caiu 14,12%, Nike (NKE) acumulou baixa de 12,18%, e a marca de cosméticos Estée Lauder (EL) desvalorizou 11,05%. "O aumento de custos na produção e possíveis quedas no consumo, tanto doméstico quanto internacional afetam essas marcas", diz Daniela.

Na Europa, entre os setores mais atingidos na última quinta-feira, após o anúncio de Trump, estava o varejo de luxo, com o índice Stoxx Luxury 10 caindo 5,2% em seu pior pregão em quase quatro anos. As ações das gigantes de transporte marítimo Maersk e Hapag-Lloyd caíram mais de 9% no mesmo dia. Empresas de medicamentos também sentiram o baque. Novo Nordisk, a fabricante dinamarquesa da droga de emagrecimento Ozempic, teve queda de 2,6%. Os EUA são o maior mercado da empresa, onde as vendas passam de US$ 30,3 bilhões ao ano. "Nos EUA e na Europa, esses setores caem devido à exposição global e porque dependem de cadeias de suprimento afetadas", explica Gusmão.

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