Inflação brasileira perderá força com 'tarifaço' dos EUA, dizem economistas
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As tarifas de 10% anunciadas sobre todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos passam a valer no próximo sábado (5). As medidas aumentam as incertezas, mas tendem a limitar a inflação nacional.
O que aconteceu
EUA vão cobrar tarifa de 10% sobre as exportações brasileiras. A Casa Branca afirma que o percentual equivale a uma média das alíquotas impostas pelo Brasil ao comprar os produtos norte-americanos.
Decisão atinge produtos que atualmente estão livres de cobrança. Entre os principais bens produzidos no Brasil e enviados para os EUA aparecem o petróleo bruto, o aço (com cobrança de 25%), aeronaves e suas partes e o café torrado.
"Tarifaço" será aplicado a partir de 0h01 do próximo sábado (5). A proposta das cobranças mínimas de 10% sobre as importações realizadas é vista como um ato de "reciprocidade" contra as tarifas aplicadas sobre os produtos fabricados nos EUA. "O consumidor americano vai pagar mais caro pelo que sai do Brasil", afirma Bruno Lessa Meireles, professor da Universidade Brasil.
Peso maior deve recair sobre as famílias norte-americanas. Com as tarifas extras e eventuais retaliações, Erick Isoppo, especialista em comércio exterior da IDB do Brasil Trading, afirma que haverá um impacto direto sobre os preços nos EUA. "O cidadão norte-americano vai vivenciar o aumento da carga tributária e dos preços de produtos internacionais", diz ele.
Eles sentirão algo que o mundo tem sofrido muito e eles, pouco: o peso da inflação.
Erick Isoppo, especialista em comércio exterior
Efeitos das tarifas para os consumidores brasileiros serão indiretos. "No curto prazo, o brasileiro não deve sentir um aumento de preços por causa dessa medida, porque ela não recai nas importações que chegam ao nosso país", afirma Meireles. "Diretamente, o preço pago aqui não aumenta", complementa Gilberto Braga, professor do Ibmec.
Cenário abre caminho para reduzir ritmo da inflação brasileira. A avaliação dos economistas considera que a busca dos exportadores por outros mercados tende a estimular a distribuição dos produtos no território nacional. "Existe a possibilidade de um aumento de oferta local dessas categorias sobretaxadas pelas medidas de reciprocidade e até do preço final baixar para o brasileiro", estima Braga.
Maior oferta global é outro ponto positivo contra o aumento dos preços. Outro ponto favorável para limitar a inflação brasileira passa pela maior disponibilidade global de diversos produtos taxados pelos Estados Unidos. Tal efeito será originado pela preferência nacional para fugir das elevadas tarifas. "Os mercados europeu e asiático vão olhar para o Brasil e pensar: 'já que o meu produto vai aumentar 30%, 40% se eu mandar para os Estados Unidos, eu vou mandar para o Brasil'", pondera Isoppo.
Teremos um aumento da oferta local, com a diminuição da exportação, e um aumento da oferta internacional, com o redirecionamento de produtos importados que iriam para o mercado americano e podem vir para o Brasil. Isso ajuda na inflação.
Erick Isoppo, especialista em comércio exterior
Alerta sobre o "tarifaço" de Trump já foi avaliado pelo BC. Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), os diretores da autoridade monetária destacam o ambiente "desafiador" diante da "incerteza" a respeito da política comercial dos Estados Unidos e seus efeitos.
Esse contexto tem gerado ainda mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed e acerca do ritmo de crescimento nos demais países.
Ata da 269ª reunião do Copom
Arrefecimento maior do PIB vira realidade
A chance de maior desaceleração da economia nacional é real. A guerra comercial, somada à taxa de juros de dois dígitos, deve contribuir para a desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) — a soma de todos os bens e serviços finais produzidos no Brasil. "Qualquer barreira comercial afeta o PIB de quem exporta, porque reduz as vendas externas, diminui receita e inibe investimentos", explica Meireles.
Podemos esperar pela inflação sobre produtos hoje isentos e uma eventual desaceleração mais forte da economia.
Gilberto Braga, professor do Ibmec
Duração das medidas anunciadas por Trump será decisiva. Meireles estima um impacto "na casa de alguns décimos de ponto percentual", dependendo da quantidade de setores afetados pelo '"tarifaço" e da duração das medidas. As últimas estimativas do mercado financeiro apontam para uma alta do PIB na casa de 2% neste ano.
Não é algo que sozinho vai derrubar a economia brasileira, mas certamente atrapalha. É menos dinheiro entrando, menos potencial de expansão pra empresas que dependem do mercado dos EUA
Bruno Lessa Meireles, professor da Universidade Brasil
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