Série da Disney com Isis Valverde é inspirada em livro de jornalista do UOL
Estreou hoje no Disney+ a série "Maria e o Cangaço". Protagonizada por Isis Valverde, a produção foi inspirada no livro "Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço", da jornalista do UOL Adriana Negreiros, e traz uma perspectiva inédita do cangaço.
A realidade das cangaceiras
Filha de nordestinos e criada em Fortaleza, Adriana cresceu ouvindo histórias romantizadas de cangaceiros, como se Maria Bonita fosse uma Joana D'arc da Catinga. Não é o caso do livro -e da série -, que além de fugir da visão simplista que dividia o cangaço entre "bandidos e mocinhos", expõe as brutalidades enfrentadas pelas mulheres.
Usualmente, a representação do cangaço trabalha muito numa leitura meio maniqueísta. Ou Lampião era um fascínora, ou ele era o Robin Hood que entregava dinheiro para os pobres depois de tirar dos ricos. A série vê esses personagens de uma maneira muito mais sofisticada e fazendo justiça à memória das mulheres do cangaço. Adriana Negreiros, jornalista do UOL
"Maria Bonita era, sim, uma mulher forte porque a vida no cangaço não é para gente fraca, mas não era uma mulher que liderasse outras contra forças policiais ou contra a opressão do patriarcado", conta. "Muitas moças entraram no cangaço por vontade própria, mas outras foram raptadas ainda meninas e estupradas -violência sexual que se repetia quando eram capturadas pela polícia."
Um dos casos mais emblemáticos foi o de Dadá, a segunda mulher mais importante do cangaço. Aos 12 anos, ela foi raptada por Corisco, e seu estupro foi tão violento que ela quase morreu. Depois, sofreu mais violências ao ter os filhos tirados dela ainda recém-nascidos.
"A questão da violência sexual, que sempre foi ignorada no cangaço, está muito presente na série, expondo como as mulheres eram subjugadas a violências sexuais constantes e à própria violência brutal do cangaço. Uma violência que parece inverossímil, mas não é."
Ainda assim, segundo Adriana Negreiros, a entrada das mulheres nos bandos foi um divisor de águas no cangaço, mudando não apenas a dinâmica dos grupos liderados por Lampião, mas também introduzindo elementos como a estética característica do movimento -marcada por cores vibrantes e detalhes ornamentados.
Inspirada, mas não baseada
Enquanto o livro de Negreiros é uma biografia jornalística, a série dirigida por Sérgio Machado, tem uma série de liberdades criativas. Não se sabe ao certo, por exemplo, como Maria Bonita e Lampião se conhecerem. Há diferentes versões sobre esse encontro, mas, para Negreiros, a série soube preencher essas lacunas de uma forma muito verossímil e artística.
"O cangaço é um tema que sempre despertou muito interesse da indústria cinematográfica, mas essa série é revolucionária porque tem nas imagens a Maria Bonita em primeiro plano, algo inédito", diz Adriana.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.