Por que clássico da 'Sessão da Tarde' virou meme com tarifaço de Trump?

O "tarifaço" assinado por Donald Trump anteontem levou alguns usuários das redes sociais a se perguntarem se o presidente dos EUA ou seu time econômico nunca haviam assistido ao filme "Curtindo a Vida Adoidado" (1986), clássico da Sessão da Tarde da TV Globo, com Matthew Broderick no papel do adolescente Ferris Bueller, que faz de tudo para matar aula sem os pais e professores desconfiarem.

O que "Curtindo a Vida Adoidado" ensina sobre economia?

A cena da entediante aula de economia da turma da irmã de Ferris (Jennifer Grey) acabou viralizando por ensinar uma coisa ou outra sobre políticas tarifárias. Ela resgata especialmente o risco que este tipo de medida representou ao país historicamente.

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This iconic Ben Stein scene might be almost 40 years old, but it feels like essential viewing now that Trump is tariffing the world.

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Em 1930, a Câmara dos Representantes, controlada pelos republicanos, em um esforço para aliviar os efeitos da - alguém? - o projeto de tarifa, o Ato Tarifário de Hawley-Smoot, que - alguém? Aumentou ou reduziu? - aumentou as tarifas, na tentativa de arrecadar mais receita para o governo federal. Não funcionou e os Estados Unidos afundaram ainda mais na Grande Depressão. Fala do professor do filme, interpretado pelo ator Ben Stein

O republicano Trump tenta uma manobra semelhante. Ele pretende aumentar a arrecadação do governo dos EUA cobrando mais impostos sobre itens importados de seus parceiros comerciais, para a "reconstrução da América" após anos de dura inflação. O Brasil recebeu uma taxa de 10%, mas há países como o Lesoto que pagarão 50%.

O que foi a Lei de Hawley-Smoot?

O Ato Tarifário de 1930 é conhecido pelo nome dos dois parlamentares do Congresso dos EUA que promoveram o projeto de lei: o senador Reed Smoot e o deputado Willis C. Hawley. A medida protecionista foi assinada pelo presidente Herbert Hoover em 17 de junho daquele ano, como estratégia para conter os danos da Quebra da Bolsa de Nova York em 1929 e da crise que se seguiu, período conhecido como a Grande Depressão.

Tarifas foram aumentadas em mais de 20 mil produtos importados, um esforço de proteger a indústria americana da competição com as estrangeiras. O aumento médio dos impostos foi de 20%, o terceiro maior na história dos EUA. Ela só perde para o pacote protecionista de Trump e para as Tarifas de 1828, instauradas ao longo de anos para tentar conter os efeitos da Guerra de 1812 e das Guerras Napoleônicas.

O presidente Hoover assinou a lei contrariando as orientações de diversos conselheiros econômicos experientes. Segundo historiadores, ele acabou cedendo à pressão de empresários afetados pela crise econômica e de membros de seu partido.

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Tiro saiu pela culatra. As tarifas aprofundaram a crise econômica porque os parceiros comerciais dos EUA retaliaram, impondo suas próprias tarifas aos produtos americanos. Assim, os índices de produtos americanos vendidos caiu no mundo todo e, por isso, economistas e historiadores consideram a lei um erro até hoje.

Exportações dos EUA caíram em 61% entre 1929 e 1933, estima o Censo dos EUA. Só as vendas de produtos americanos aos países que retaliaram e impuseram as próprias tarifas diminuíram cerca de 31% — uma saia justa que estudiosos chamam de Guerra Comercial de Hawley-Smoot, por ter sido consequência direta da lei.

Cenário pode se repetir. Parceiros estratégicos dos EUA como União Europeia e China anunciaram retaliações tarifárias ontem. Bolsas no mundo inteiro passaram a cair desde então. É importante notar que, após Hawley-Smoot, os EUA se viram obrigados a ceder para contornar as perdas e assinaram o Ato dos Acordos Comerciais Recíprocos de 1934, com medidas comerciais mais liberais.

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