Josias: Nero pós-moderno, Trump celebra caos e dá vida nova a derretimento
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Em meio ao pânico gerado nos mercados de todo o mundo após o anúncio do "tarifaço", Donald Trump dá de ombros à confusão que ele mesmo provocou, analisou o colunista Josias de Souza no UOL News de hoje.
As principais Bolsas de Valores da Ásia e da Europa registram forte queda hoje, primeiro dia útil após o 'tarifaço' de Trump entrar em vigor. A Bolsa de Valores de São Paulo também despencou. Os índices futuros das bolsas dos Estados Unidos também apontam grandes baixas, sinalizando um dia tenso em Wall Street. O presidente dos EUA classificou o pacote tarifário como 'coisa linda'.
Trump deu vida nova ao termo em inglês 'meltdown', originalmente usado para usinas nucleares cujos reatores explodem, fogem ao controle e derretem tudo ao redor. No final da década de 90, esse termo foi adotado pelo economês para descrever a situação terminal de países com a economia desarranjada.
Com o 'tarifaço' da Casa Branca, 'meltdown' se incorporou ao catastrofês, que é o novo idioma da economia mundial. A semana está começando como terminou a anterior, com as bolsas de valores derretendo ao redor do mundo.
Em teoria, um 'meltdown' nuclear pode empurrar o reator em combustão terra adentro, saindo do outro lado. No caos do Trump, os países mais tarifados caem no colo da China, que reagiu na base do 'olho por olho'. Desde a semana passada, disseminou-se o pavor de uma guerra comercial que leve à recessão global.
Mesmo sob circunstâncias anormais, investidores e empresas costumam se adaptar às novas regras. O problema é que a regra de ouro de Trump é que não há regra. O mercado não tem parâmetro para se reacomodar. Josias de Souza, colunista do UOL
Josias ressaltou que as medidas de Trump atingem não apenas o cenário macroeconômico, mas prejudicam também as populações mais carentes ao encarecer o preço de produtos básicos.
Multidões foram às ruas no fim de semana, as perdas estão corroendo a paciência do consumidor americano e as ações de empresas dos EUA. Trump dá de ombros e se comporta como uma espécie de Nero pós-moderno e está celebrando o caos. Nessas circunstâncias, é muito difícil fazer previsões. Não há novas regras; há Trump distribuindo insensatez.
Mesmo pessoas que não tem dinheiro na Bolsa acabam sendo afetadas por isso tudo. Aqui no Brasil, o preço do dólar está subindo e acaba alcançando a turma do Bolsa Família. O dólar sobe e a consequência está na gôndola do supermercado. Mesmo quem não tem recurso na Bolsa acaba sendo afetado por esse 'meltdown' do Trump. Josias de Souza, colunista do UOL
Sakamoto: Trump aplicou remédio amargo que pode matar seu próprio governo
Donald Trump comemora a entrada em vigor do 'tarifaço', mas pode ter dado um tiro no pé e ver seu governo derreter por conta do pacote tarifário, avaliou o colunista Leonardo Sakamoto.
Trump aposta que o pessoal vai para os EUA criar empregos lá e tudo será uma maravilha; por enquanto, é apenas um solavanco. Mas isso pode mudar a política norte-americana e deixar a população extremamente insatisfeita com Trump, que prometeu leite e mel e na sequência deu uma outra realidade.
Pode mudar também a eleição de meio de turno no ano que vem, quando parte da Câmara e do Senado são renovados. Trump aplicou um remédio e disse que todo medicamento é amargo. O problema é que o remédio de Trump pode matar o seu próprio governo.
Os EUA não estão desconectados do resto do mundo como se estivessem em Marte. Eles ajudaram a criar um sistema econômico global extremamente interdependente e conectado. Mercados do mundo inteiro estão vendo a aplicação de tarifas, que na prática são bloqueios ao fluxo de produtos e a retaliação justa por parte de alguns países. O mundo inteiro está vendo que pode acontecer uma recessão global. Se isso acontecer, nenhum país complexo estará livre disso. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
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Efeitos do 'tarifaço' no comércio mundial durarão anos, diz ex-ministro
O 'tarifaço' anunciado por Donald Trump terá consequências sentidas pelo comércio mundial durante vários anos, analisou o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega.
O nervosismo deve acabar em algum momento, quando os mercados tiverem uma visão muito mais clara do que toda essa sandice vai gerar. Aí o Trump não recua, as tarifas começam a fazer efeito e, em algum momento, as consequências maléficas e crescentes do Trump chegarão a um ponto que não aumentarão mais. As bolsas, os mercados e as moedas já terão atingido suas maiores baixas e começam a se estabilizar.
Quando isso vai acontecer? Ninguém sabe, mas é possível dizer que os efeitos no comércio mundial se estenderão por anos. Isso é mais lento do que o dia a dia dos mercados. Um movimento tarifário parecido com esse foi a chamada Lei Smoot-Hawley de 1930. Os países retaliaram e isso gerou uma desaceleração gradativa do comércio mundial, que teve uma queda de dois terços em três anos. Isso é tido como um dos fatores que transformaram uma recessão na Grande Depressão.
Quando digo que o mercado se estabilizará, é porque ele pode cair o tempo todo e ir para zero. Em algum momento o mercado para, mas o efeito permanece: a incerteza, a provável queda do comércio mundial, os danos dessa maluquice à economia global e ao emprego... Os EUA vão empobrecer, apesar de Trump usar essas palavras hiperbólicas. Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda
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