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Recuo de Trump não convence, e Bolsas americanas despencam com 'incertezas'

Do UOL*, em São Paulo

10/04/2025 16h48

Adecisão do presidente americano, Donald Trump, de suspender por 90 dias a cobrança de tarifas "recíprocas" contra a importação de produtos de outros países não convenceu o mercado financeiro nos Estados Unidos. A insuficiência dessa medida, tomada ontem, aliada ao anúncio de hoje de que as tarifas comerciais aos produtos chineses somam 145% aumentou as "incertezas" sobre o futuro da economia, provocando um derretimento nas bolsas de valores americanas.

O que aconteceu

A quinta-feira foi de perdas no mercado americano um dia após a recuperação provocada pela prorrogação dos 90 dias. A Dow Jones caiu mais de 1.000 pontos, ou 2,5%. O S&P 500, um índice mais amplo, caiu 3,49%, e a Nasdaq, com empresas de tecnologia, recuou 4,31%.

Apesar do otimismo de ontem, analistas afirmam que o mercado americano ainda corre perigo. "Atrasos [na cobrança das tarifas] ajudam, mas não reduzem a incerteza", escreveu em nota Michael Gapen, economista-chefe da gestora de investimentos Morgan Stanley.

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O pessimismo aumentou após o anúncio de que as tarifas contra a China somam 145%. O percentual inclui o novo imposto de 125% sobre mercadorias mais a alíquota de 20% cobrada em resposta à crise do fentanil. Trump impôs esses 20% a produtos chineses justificando o fracasso de Pequim em impedir a exportação para os Estados Unidos de opioide, um composto químico que imita os efeitos de euforia provocados pelo ópio.

O mercado já se prepara para mais instabilidade nas Bolsas. "Esperamos que o caminho à frente seja acidentado e não prevemos uma viagem rápida de volta a novas máximas", disse Keith Lerner, estrategista-chefe de mercado da Truist Advisory Services, também em nota.

A volatilidade do mercado "se deve inteiramente à incerteza" da política tarifária de Trump. A opinião é de Mark Weinstock, professor associado de economia da Universidade Pace, ao The New York Post (NYP). "Quando os economistas não conseguem entender o que está acontecendo com a política do presidente Trump, a comunidade empresarial também não consegue. O pior para os mercados é a incerteza", disse Weinstock.

A volatilidade do mercado pode permanecer elevada, apesar da pausa de 90 dias nas tarifas.
Jeffrey Roach, economista-chefe da LPL Financial

Seria sensato reduzir a intensidade das tarifas contra nossos principais parceiros comerciais -- Canadá, México, UE, Austrália, Japão e Coreia do Sul.
Mark Weinstock, professor de economia

Recessão à vista?

Trump diz que espera um acordo com a China: 'Vai acontecer' Imagem: Reprodução/X @realDonaldTrump

Ontem mesmo o banco JPMorgan reafirmou uma previsão pessimista. Para o grupo, os EUA têm 60% de chance de passarem por uma recessão. "A economia [americana] ainda corre o risco de entrar em recessão, dado o nível de choques simultâneos que absorve", referendou o economista-chefe da consultoria RSM, Joe Brusuelas, à CNN Internacional.

Nem a desaceleração da inflação, divulgada hoje, animou o mercado. "[Os dados de inflação] são de março, o que é retrospectivo e não diz muito ao mercado sobre como as tarifas recentes estão afetando os preços ao consumidor, embora muitas delas estejam suspensas", disse Skyler Weinand, diretor de investimentos da Regan Capital, à CNN Internacional.

A economia está desacelerando, independentemente da política comercial.
Jeffrey Roach, economista-chefe da LPL Financial

A volatilidade histórica desse nível não estava exatamente nos planos (...) Estamos sentindo o alívio da mudança de rumo de Trump, mas, na nossa opinião, ainda não estamos fora de perigo. Precisamos de mais estabilização.
Ken Mahoney, presidente da Mahoney Asset Management ao NYP

Trump admitiu hoje alguns "problemas de transição". "Ontem foi um grande dia [para as bolsas]. Sempre haverá dificuldades de transição, mas, na história, foi o maior dia da história, o dos mercados. Então, estamos muito, muito felizes com a forma como o país está se saindo", afirmou.

Bolsas sobem na Europa e Japão

As Bolsas em outras partes do mundo fecharam a quinta-feira em alta. O índice de referência Nikkei 225 do Japão subiu mais de 9%, enquanto o índice Kospi, da Coreia do Sul, aumentou 6,6%. O índice Hang Seng, de Hong Kong, saltou 2,1%; o Taiex, de Taiwan, subiu 9,3%; e o ASX 200, na Austrália, fechou com alta de 4,5%.

As ações europeias também tiveram ganhos. A maioria dos índices registrou seus maiores ganhos diários desde 2022 depois da pausa na cobrança das tarifas recíprocas por Trump e da decisão da União Europeia de também suspender as tarifas retaliatórias contra os Estados Unidos.

Ainda assim, o mercado europeu está cauteloso. François Villeroy de Galhau, dirigente do Banco Central Europeu e presidente do Banco da França, afirmou que a pausa nas tarifas ainda representa "más notícias" para a Europa.

*Com agências


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