'Tarifaço' derruba petroleiras e montadoras; frigoríficos nacionais avançam
Ler resumo da notícia
A guerra tarifária causou pânico nas Bolsas de Valores do mundo nos últimos dias. Apesar das perdas quase generalizadas, alguns segmentos mostraram maior resistência.
O que aconteceu
Bolsas mundiais oscilam desde a implementação do "tarifaço". O vaivém dos mercados foi enfrentado em meio à entrada em vigor das taxas impostas pelos Estados Unidos a todos os países do mundo. Os ânimos até foram acalmados após a suspensão temporária das tarifas adicionais, mas o movimento é insuficiente para reverter a queda semanal de alguns setores.
Petróleo
Petrolíferas mundiais estão entre as empresas mais afetadas. Enquanto as ações preferenciais e ordinárias desabaram 7,8% e 10,1%, respectivamente, os papéis da PetroRecôncavo recuaram 5,78%. O cenário foi acompanhado por outras gigantes do setor, a exemplo da Chevron (-5,33%) e da Exxon Mobil (-1,15%), listadas nos EUA. Na Europa, Shell e TotalEnergies amargaram perdas superiores a 8%.
Segmento é sensível às incertezas da guerra comercial. O cenário é resultado do temor por um quadro de estagflação mundial. "Essa situação tem o potencial de afetar a demanda por petróleo, uma vez que o aumento das tarifas pode desacelerar o crescimento global e elevar a inflação", explica Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
Com o menor crescimento global, haverá menor demanda por matérias-primas, afetando toda a cadeia produtiva.
Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV
Aumento da produção do petróleo contribui para as quedas. A Opep+, organização que inclui os países produtores de petróleo, elevou a produção e derrubou o preço do combustível, de 135 mil para 411 mil barris por dia. Tal decisão agravou ainda mais as perdas das empresas do setor.
Automotivas
Montadoras de veículos dos EUA e da Europa perdem valor. Na Zona do Euro, caíram as ações da Stellantis (-12,8%), do Grupo Mercedes Benz (-1,8%), da BMW (-2,4%), da Volkswagen (-2,41%) e da Ferrari (-4,4%). Já entre as norte-americanas, as perdas atingem a Ford (-2,6%) e a General Motors (-1,24%).
Setor foi amplamente atingido pelas tarifas de Donald Trump. A decisão estabeleceu tarifas de 25% sobre as importações de automóveis. As alíquotas permanecem vigentes mesmo após a suspensão temporária das cobranças adicionais. Chinchila alerta para o possível deslocamento de investimentos e elevação dos custos para as montadoras da Europa, China e Japão. "No curto prazo, a recuperação parece incerta, forçando montadoras a reconsiderarem suas estratégias de produção e investimentos", destaca.
No mundo das montadoras, existe uma integração muito grande das cadeias globais. Quando você coloca tarifas, aumenta os custos de produção. Isso é ruim para os projetos de crescimento e afeta a avaliação de valor das empresas.
Roberto Padovani, economista chefe do banco BV
Alívio no Brasil
Papéis dos frigoríficos brasileiros disparam após "tarifaço". O grande alívio para o recente desempenho Ibovespa partiu dos papéis das fabricantes de alimentos Marfrig (+8,89%), BRF (+6,7%) e Minerva (7,73%). As empresas nacionais tendem a ganhar mercado em meio ao crescimento dos indícios de guerra comercial.
Brasil pode assumir espaço deixado pelos Estados Unidos. A opinião compartilhada entre os analistas é de que a briga tarifária entre as duas maiores economias globais oferece oportunidades para os exportadores de alimentos.
Com as tarifas dos Estados Unidos sobre produtos agrícolas, como a carne, o Brasil pode se beneficiar, ocupando o espaço deixado pelos produtos americanos no mercado chinês.
Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos
"O agronegócio ganhou com essa confusão", afirma Padovani. A avaliação considera que a oportunidade não fica restrita apenas ao ramo frigorífico. "Todos os setores ligados ao agronegócio são favorecidos, porque no fechamento comercial isso pode ampliar o espaço para as vendas brasileiras", reforça.