Terras raras: o que é a carta na manga da China contra Donald Trump?

A guerra comercial entre Estados Unidos e China ganha novos rumos a cada medida anunciada pelos respectivos governos. Entre as restrições impostas pela China está, por exemplo, o corte na exportação dos chamados elementos de terras raras, em um movimento estratégico de Xi Jingping contra Donald Trump.

O que são as terras raras?

Os elementos de terras raras consistem em um conjunto de 17 elementos químicos. São eles: lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio, lutécio, ítrio e escândio.

Embora suas propriedades sejam diferentes, esses elementos foram agrupados sob um mesmo nome porque, geralmente, estão presentes no mesmo solo. Uma vez retirado da terra, o material passa por um tratamento de "separação" dos diferentes minerais em operações químicas, em um processo específico e com alto custo.

Esses elementos são essenciais na fabricação de diferentes produtos tecnológicos de ponta. Considerados estratégicos para a economia do futuro, eles têm seus próprios usos na indústria: európio para telas de televisão; cério para polimento de vidro e lantânio para catalisadores de motores de combustão, por exemplo.

Os elementos de terras raras são particularmente importantes para as principais tecnologias da transição energética. As substâncias são amplamente utilizadas na fabricação de carros eletrônicos e parques eólicos. Os elementos são essenciais, também, na fabricação de drones e jatos de combate, na produção de smartphones, telas de plasma, dispositivos robóticos, discos rígidos, lentes de telescópios, entre outros. A usabilidade dos elementos de terras raras, portanto, abrange diferentes setores, desde equipamentos eventualmente utilizados em conflitos militares até dispositivos utilizados no cotidiano por um cidadão comum.

Como a China pode usar suas terras raras contra os EUA?

O país asiático concentra a maior porção dos elementos no mundo. Em 2024, o Centro Geológico dos EUA estimou que há mais de 110 milhões de toneladas dos elementos de terras raras espalhados pelo mundo. Líder, a China é dona de aproximadamente 44 milhões de toneladas; seguida pelo Vietnã, com 22 milhões de toneladas; Brasil, com 21; Rússia, com 10; e Índia, com 7.

Segundo o portal Polytechnique Insights, do Instituto Politécnico de Paris (França), a China foi responsável por 69% da produção mundial de terras raras em 2023. Os Estados Unidos, por sua vez, foram responsáveis por apenas 12% da produção no segmento. Assim como diversas outras nações, os EUA têm grande dependência da exportação chinesa de terras raras.

Quanto mais alta é a demanda por esses elementos, mais eles são encontrados. O problema está mais na relação entre o custo de extração e o preço de mercado: segundo o Polytechnique Insights, a dominância no setor permite que a China "atrapalhe" o mercado, aumentando artificialmente a volatilidade dos preços desses produtos.

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Com um futuro promissor nos setores tecnológico e de energias limpas, a demanda pelas terras raras continuará aumentando. Segundo um levantamento da Universidade KU Leuven, da Bélgica, para atingir a neutralidade de carbono até 2050, a União Europeia, por exemplo, precisará de 26 vezes mais terras raras do que usa atualmente. Esse aumento previsto na demanda representa, para a China, uma frente a ser explorada comercialmente, com ampla vantagem sobre os EUA.

A atenção chinesa aos elementos de terras raras em seu território vem se mobilizando há décadas. Em 2019, por exemplo, o presidente Xi Jingping visitou uma fábrica de tratamento desses elementos em Ganzhou e afirmou que as terras raras são um "importante recurso estratégico" do país. "Apenas caso tenhamos uma tecnologia independente [na produção dos elementos], poderemos ser invencíveis", declarou à época.

China anuncia restrição a suas terras raras

No início de abril, Ministério de Comércio do país comunicou a imposição de controles de exportação a sete categorias de itens relacionados a terras raras. O comunicado oficial informou, também, que a China adicionou 11 empresas dos EUA à "lista de entidades não confiáveis" para "salvaguardar a soberania nacional, a segurança e os interesses de desenvolvimento".

As entidades na lista estão proibidas de se envolver em atividades de importação e exportação relacionadas à China ou de fazer novos investimentos em território chinês. A relação inclui, por exemplo, os fabricantes de drones Skydio e BRINC Drones, bem como a Neros Technologies.

Em dezembro de 2023, a China proibiu a exportação de tecnologia de processamento de terras raras. Em 2010, em represália a uma disputa territorial, as autoridades chinesas interromperam as exportações de terras raras ao Japão.

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*Com informações da AFP e do Estadão

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