Café brasileiro conquista Chile, e exportações crescem 170% em 5 anos

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O café é cada vez mais popular entre os chilenos e essa alta demanda tem beneficiado o Brasil, que já é o maior exportador do grão para o país sulamericano e domina o mercado de café verde, que não foi torrado e nem descafeinado. Dados da aduana chilena mostram que as importações do café Brasileiro pelo Chile entre 2020 e 2024 aumentaram 171,8%, colocando o Brasil à frente de vizinhos como a Colômbia e o Peru.
Dentre as categorias consideradas pela aduana, o maior aumento ocorreu no café verde: em 2020 foram exportados US$ 16,78 milhões e, quatro anos depois, o montante foi de US$ 43,22 milhões.
A maior alta é nos cafés especiais. De acordo com o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), entre janeiro e julho de 2023 houve um aumento de 785,5% nas exportações para o Chile de "cafés diferenciados", categoria em que se enquadram os cafés especiais. Os chilenos definitivamente se encantaram com o cafezinho brasileiro.
Fator cultural

Para Paulo Pacheco, embaixador do Brasil no Chile, esse protagonismo que o café brasileiro vem obtendo no país é muito importante não apenas para o fortalecimento das relações comerciais, mas no âmbito sociocultural também. "Em particular, sobre o café verde, já temos 75% do mercado chileno. E isso nós atribuímos a uma mudança dos hábitos da sociedade, que sempre esteve mais acostumada a tomar chá", destaca.
Números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, por meio do sistema ComexVis, mostram que entre janeiro e março de 2025, a exportação de café verde e torrado para o Chile teve um crescimento de 128% em comparação com o mesmo período de 2024.
"Todos os países produtores também têm cafés de qualidade, mas o Brasil, particularmente, tem alguns diferenciais. Somos o país com o maior número de denominações de origens de cafés. Até pouco tempo atrás eram 14. Além disso, a produção acontece em regiões com características de altitudes, terroir bastante diferentes, o que nos proporciona cultivar muitas espécies e variedades. Então, produzimos cafés para todos os paladares", explica Felipe Ribeiro, chefe do Setor Econômico e de Promoção Comercial e do Setor de Agronegócio na embaixada brasileira.
Ainda segundo diplomata, outro diferencial está na sustentabilidade, tanto no pilar ambiental quanto no social. "O café do Brasil tem um índice maior de repasse do valor ao produtor se compararmos com outros países", complementa.
Mercado no foco
Fundamental na formação econômica e social do Brasil e um "queridinho" na mesa dos chilenos, o café agora enfrenta outros desafios no vizinho sulamericano. Pacheco acredita que as ações devem ser centradas na promoção do grão nacional no país. "Do ponto de vista do arcabouço jurídico-legal, não temos mais como avançar. Já temos total desgravação tarifária, além de termos um acordo de livre comércio com o Chile que está vigente desde 2002 e que remove também outros tipos de barreiras fitossanitárias", acrescenta o embaixador.
Para Ribeiro, também é importante levar marcas brasileiras para o Chile, para que a exportação não seja apenas da matéria-prima, ou seja, do grão verde. "Que as marcas brasileiras possam conhecer cada vez mais o mercado chileno, que é uma vitrine muito importante! O Chile tem acordos de livre comércio com muitos países ao redor do mundo", ressalta.

Atualmente, o país é o terceiro maior destino das exportações do café brasileiro na América do Sul, segundo dados fornecidos pela Embaixada do Brasil. Porém, per capita, o Chile já ocupa a primeira posição, pois tem uma população de 18,4 milhões de habitantes, conforme o último censo realizado em 2024.
Sotaque brasileiro
"Proveniente do Brasil, com notas de aroma floral, sabor de frutas amarelas, acidez cítrica, corpo cremoso, finalização prolongada e doce", diz a publicação da Kibou Café em seu perfil do Instagram. Surgida há um ano, a loja online vende os chamados cafés especiais, que têm conquistado cada vez mais o paladar dos chilenos. Comandada por Karina Vergara, 33 anos, natural de Santiago, a Kibou Café começou de forma despretensiosa, mas tudo mudou após ela conhecer a cafeicultura mineira Fernanda Sá, 45.
Quarta geração de produtores de café na família, Fernanda entrou no ramo há quase seis anos, após assumir a propriedade de sua mãe e dar continuidade à produção que já existia. Nessa época, ela conheceu o mundo dos cafés especiais e percebeu que o grão que produzia era de alta qualidade. Foi então que a produtora decidiu criar uma marca própria, que batizou de Café Maricota, em homenagem à sua bisavó.
Nos 13 hectares que administra, Fernanda tem aproximadamente 50 mil pés de café plantados da espécie arábica e da variedade catuaí vermelho. Para o Chile, ela envia uma média de 30 kg de café por mês. "Utilizo transporte aéreo porque como ele é torrado, eu preciso que chegue muito rápido para não perder a qualidade". Do outro lado da Cordilheira dos Andes, Karina recebe o Café Maricota e outro que é produzido especialmente para ela.

A paixão por cafés também fez Thiago Saraiva, 37, levar o grão brasileiro para o Chile. Há 12 anos, o curitibano percebeu o crescimento no consumo da bebida no país e abriu o Café Mandrake. Hoje, ele tem três lojas nas cidades costeiras de Algarrobo e Viña del Mar, e já chegou a ter unidades em Santiago. Porém, por conta dos custos de operação, preferiu seguir somente com as unidades do litoral.
Na loja de fábrica, situada em Algarrobo, Saraiva faz o processo da torra dos grãos do café que importa de produtores de Minas Gerais e do Espírito Santo, principalmente. Segundo o empresário, é um trabalho bastante artesanal, pois cada tipo de café requer uma torra diferente. "Se você tem um café e quer realçar mais a parte doce dele, vai torrar de uma forma. Se você quer realçar a característica frutal dele, precisará torrar de outra maneira", explica.
Em Valdivia, no sul do Chile, Jaqueline Orsine (57) também torra o café que traz do Brasil. Casada com um chileno, a mineira de Turmalina, cidade do Vale do Jequitinhonha, se mudou para o país de vez em 2009, já com a ideia de trabalhar no ramo. Em 2018 criou o Santo Grão e hoje conta com a ajuda do filho Bernardo no empreendimento.
Jaqueline vende quatro variedades de café, mas segundo ela, o preferido dos chilenos é o "Bendito", que tem uma torra mais escura, uma acidez mais baixa e é mais doce. O grão é cultivado na Serra do Caparaó, no Espírito Santo. "Importo o meu café direto de pequenos produtores, de agricultura familiar. O Espírito Santo, por exemplo, é um estado que tem pequenas propriedades, mas um tremendo café", destaca a mineira, que também está estudando importar café de Rondônia.
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