Tarifaço de Trump pode 'desescalar' com acordos entre países, diz Galípolo

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse hoje que a guerra tarifária, promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode "desescalar" com acordos sendo firmados entre os países.

Galípolo participou hoje de uma audiência pública da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal.

O que aconteceu

Guerra tarifária pode "desescalar", com acordos sendo firmados entre os países, disse presidente do BC. "Essa desaceleração vai se esvaindo e você vai caminhando para a trajetória que já era mais ou menos aguardada e retomando a trajetória que era pensada", comentou.

Também pode ocorrer uma escalada nas tarifas, provocando desarticulações nas cadeias produtivas. "O trade-off tradicional, a troca tradicional que você está imaginando entre preços e atividade econômica, talvez não responda da maneira que a gente foi treinado para pensar num cenário como esse. Você pode ter menos atividade econômica e com preços mais elevados", observa Galípolo. Nesse caso, há a possibilidade de se importar desinflação em função de uma desaceleração global que tende a reduzir os preços de commodities.

Estados Unidos podem ainda chegar a um meio termo com a maior parte dos países que são historicamente parceiros e aliados, restringindo a disputa tarifária à China. "Estamos em um ambiente de elevada incerteza tanto sobre o que deve ocorrer quanto sobre quais são as consequências da aplicação das tarifas", reiterou o presidente do BC

Galípolo disse que, assim como ele, o mercado fez uma leitura do governo Trump em três etapas:

  1. Último trimestre de 2024: havia uma leitura de que a nova gestão do republicano seria mais pró-mercado, com redução de impostos e regulamentação sobre empresas;
  2. Primeiro trimestre de 2025: a interpretação de que o impacto das mudanças tarifárias poderia desacelerar a economia americana e, por consequência, a economia global, foi ganhando força;
  3. Momento atual: Galípolo pondera que impera a interpretação que oscila entre a desaceleração em função da incerteza e um cenário de possível aversão ao risco, indicando uma escalada na disputa tarifária com consequências mais abruptas.

Juros e economia brasileira

Papel do Banco Central é fazer política anticíclica, afirma Galípolo. O presidente do BC destacou que o Brasil cresceu pelo quarto ano seguido acima do que modelos indicam ser o PIB potencial e que esse crescimento está bastante disseminado em diversos setores da economia. Diante desse cenário da economia brasileira mostrando "dinamismo excepcional" e bastante aquecida, Galípolo disse que cabe ao BC ser o "chato da festa".

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A vida do banqueiro central sempre é uma vida de estar meio no contrapé, porque o que o Banco Central tem de fazer, se conseguir fazer bem feito, é estar numa política anticíclica ou contracíclica. Eu usei já a metáfora do chato da festa algumas vezes, mas não é o chato da festa quem tem algum tipo de satisfação em ser chato, e simplesmente porque o seu papel é, quando a economia está aquecida, tentar fazer uma política anticíclica. Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central

Aquecimento da economia pode gerar pressões inflacionárias, que indicam a necessidade de freá-la, disse Galípolo. "Você deveria tentar segurar a economia, refrear um pouquinho a economia para que essa pressão inflacionária não virasse uma espiral e, a partir daí, não se perdesse o controle da estabilidade monetária", disse.

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