Ações da Tesla, de Elon Musk, viraram um risco? O que dizem especialistas

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No pior trimestre desde 2022, a Tesla (TSLA) do empresário bilionário Elon Musk viu seus lucros derreterem, a participação de mercado encolher e a confiança dos investidores se abalar com o resultado divulgado ontem.
O envolvimento crescente de seu CEO com o governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, agravou um processo de baixa que já vinha sendo alimentado por competição acirrada, margens mais apertadas e descontentamento entre consumidores. A empresa conhecida por seus veículos elétricos tenta agora conter danos e retomar o crescimento. Mas os sinais de curto prazo ainda são negativos e dividem analistas sobre o potencial de ameaçar aos papéis da Tesla.
O que está acontecendo com as ações
As ações da Tesla reagiram positivamente no dia seguinte à divulgação dos resultados, mesmo com o desempenho trimestral abaixo do esperado. Os papéis chegaram a subir mais de 7% na pré-abertura do mercado em Nova York, cotados a US$ 255,22. A alta pontual nesta quarta (23) é atribuída a uma promessa de Elon Musk de reduzir "significativamente" sua atuação no governo dos Estados Unidos, onde ocupa papel central no chamado Dodge (Departamento de Eficiência Governamental), criado por Trump, para coordenar o corte de gastos federais, incluindo empregos.
"Os números são ruins, mas notícias geram expectativa nas ações", analisou William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenues. Segundo o analista, o mercado está apostando que, com Musk mais focado na Tesla e com os planos de robotáxis e robôs humanoides destacados pela companhia em seu balanço no primeiro trimestre, a companhia possa voltar a entregar crescimento. No acumulado do ano, no entanto, as ações ainda acumulam uma queda de quase 40%.
Envolvimento de Musk com governo Trump prejudica empresa
Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, não acredita que essa crise na Tesla seja de curto prazo. Na avaliação de Igreja, a aproximação do bilionário com o presidente dos EUA tem custado caro à Tesla.
"Musk é CEO da Tesla, da SpaceX, do X e faz tempo que os acionistas cobram Musk pela falta de foco na empresa. Agora ele faz parte do governo e isso está se agravando. O pessoal começa a se perguntar o seguinte: será que a Tesla não é uma empresa em crise e com o CEO que mal dá atenção para ela?", afirma Igreja.
Tesla é alvo de um sentimento "anti-Musk". O CEO da big tech tem sido alvo de críticas por envolvimento em movimentos conservadores em outros países — como sua aparição em um vídeo do partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD), em janeiro. Essas ações vêm despertando reações negativas do público: protestos foram registrados em concessionárias da Tesla nos EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha e Portugal.
Veículos foram vandalizados e lojas incendiadas. "Ele é visto como símbolo do conservadorismo e da polarização, o que afasta o público progressista. Muita gente comprava Tesla por ser uma marca associada à inovação, ao progresso e à sustentabilidade. Musk brigou com sua base de consumidores mais fiéis", afirma o especialista.
Companhia se tornou um ativo de risco. Outro ponto de desgaste é a entrada dos EUA em uma guerra comercial com possíveis repercussões em produtos exportados por empresas como a Tesla. O chamado tarifaço de Trump pode impactar diretamente a cadeia de suprimentos e os custos de produção, dificultando ainda mais a recuperação da empresa.
A Tesla sofre dois efeitos. Primeiro, o CEO largar um pouco de lado a empresa para seguir uma carreira política num momento conturbado e adicionalmente que Trump também não tem ajudado muito as empresas de tecnologia, ele tem causado incerteza no mercado, o que está fazendo com que essas empresas freiem investimentos e percam muito dinheiro. Esses efeitos tornam a Tesla um investimento extremamente arriscado.
Juliana Inhasz, coordenadora do curso de graduação em Economia do Insper
Como Musk quer melhorar esses resultados para o próximo trimestre
Tombo só não foi pior porque os negócios da Tesla fora do setor automotivo registraram desempenho positivo. A área de armazenamento de energia cresceu 67% no trimestre, e os serviços de software por assinatura também mostraram expansão. A companhia também mostra priorizar os planos de uma versão acessível do modelo Y e o início da operação de uma frota de robotáxis autônomos em Austin, no Texas, prevista para junho.
Promessas são novas? A solução da Tesla parece "requentada", segundo Arthur Igreja. "Ele já falou tudo isso pelo menos umas dez vezes", disse Arthur Igreja. "Parece mais uma tentativa de acalmar os ânimos do mercado do que um plano novo de verdade."
Participação de mercado de veículos elétricos da Tesla caiu abaixo de 50% no ano passado, segundo dados da consultoria Cox Automotive. O andamento positivo das ações nesta quarta, segundo a coordenadora de Economia do Insper, pode ser explicado pela sinalização de Elon Musk de que pretende reduzir seu envolvimento político e focar mais na gestão da empresa.
Ativo arriscado. Inhasz destaca que o saldo acumulado no ano ainda é de forte queda e alta volatilidade gerada por mudanças políticas e comerciais. "Eu não acho que a Tesla está ruindo, que ela está virando pó, acredito que tem outras coisas que a gente precisa ver para ter certeza de qual deve ser o futuro dessa empresa. Mas sem dúvida ela virou um ativo arriscado."
Futuro é incerto. Pierre Oberson de Souza, professor de finanças da FGV/EAESP, também diz não descartar um crescimento futuro da empresa. "A Tesla vai continuar sendo um player super relevante, pode inclusive crescer. Vai depender muito nos próximos anos, do que esses novos serviços realmente vão virar realidade ou não".
Como foi o resultado da Tesla
O primeiro trimestre do ano foi desastroso para a Tesla. O lucro líquido reportado caiu 71% em relação ao mesmo período de 2024, totalizando US$ 409 milhões (R$ 2,3 bilhões). O lucro ajustado foi de US$ 934 milhões. Os números vieram muito abaixo das expectativas do mercado, que projetava um lucro por ação de US$ 0,41 — o real ficou em US$ 0,12. A receita também desapontou: recuou 9%, para US$ 19,3 bilhões, contra uma estimativa média de US$ 21,4 bilhões, segundo a S&P Capital IQ.
A participação da Tesla no segmento de carros elétricos diminuiu consideravelmente. A queda nas entregas globais da companhia, que já havia perdido o posto de maior fabricante de EVs para a chinesa BYD, foi 13% a menos do que no mesmo trimestre do ano anterior. Na China, o recuo chegou a 22% e foi ainda maior na Alemanha, com 62%. Nos Estados Unidos, mercado-chave da fabricante, a participação da Tesla no segmento de carros elétricos diminuiu consideravelmente.
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