Dólar pode ficar mais fraco em negociações globais com 'tarifaço' de Trump?

Ler resumo da notícia
O "tarifaço" imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abre caminho para o enfraquecimento do dólar e o avanço de outras moedas nas negociações comerciais. Ainda assim, a perda de espaço da moeda dos EUA nos acordos de importação e exportação permanece distante.
O que aconteceu
Dólar perde força em relação ao euro. Desde o anúncio das tarifas de importação contra mais de 180 países e territórios, a moeda norte-americana acumula desvalorização de 5,55% na comparação com a divisa utilizada por 20 países da Zona do Euro e de 5,97% contra o iene japonês.
"Tarifaço" enfraquece o dólar dos EUA. "A política do presidente norte-americano busca desvalorizar a moeda nacional, com foco nos ganhos que adviriam para a exportação", explica Luciana Mello, professora de relações internacionais do Centro Universitário IBMR.
Perda das Bolsas de Valores contribui para o enfraquecimento do dólar. As recentes quedas dos índices acionários de todo o mundo deveriam manter o dólar como moeda segura. No entanto, não foi isso o que aconteceu nas últimas semanas. "Vimos o euro e o iene se destacarem", afirma André Valério, economista sênior do Inter.
O movimento sugere que a atual incerteza causada pela política tarifária tem tornado os investidores globais receosos com a economia americana, buscando maior liquidez e alternativas ao dólar.
André Valério, economista sênior do Inter
Embate com o BC dos EUA amplia incerteza. Os rumores de que Trump estuda demitir o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, também contribuem para a perda de força do dólar. A ofensiva surge após Powell afirmar que o "tarifaço" dificulta o controle da inflação e impede a redução dos juros. Para Trump, a manutenção das taxas prejudica o desenvolvimento da economia.
Real e yuan não acompanham valorização. As moedas brasileira (-2,58%) e chinesa (-0,63%) perderam valor na comparação com o dólar desde o anúncio do "tarifaço". "Nota-se que o país asiático investe muito mais em ocupar espaços no mercado de produtos mundial e talvez não tenha interesse na lacuna de poder deixada pelos EUA", avalia Mello.
Dólar será substituído?
Ameaça efetiva ao dólar permanece distante. Mesmo com a recente desvalorização ante alguns pares, a moeda da maior economia do mundo seguirá, no curto prazo, como a mais utilizada nas transações internacionais. "Ainda é cedo para afirmar que esse movimento [de desvalorização do dólar] é estrutural", diz Valério.
Zona do Euro nunca assumiu protagonismo. "Durante as últimas décadas, a Europa não demonstrou interesse em ter sua moeda como principal nas operações de comércio, possivelmente consciente do preço a ser pago por tal posição no mercado internacional", diz Mello, que vê o cenário inalterado. "A Europa tem problemas internos com os quais precisa lidar", reforça ela.
Alternativas dependem das ações de Trump. Valério avalia que a perda efetiva de espaço do dólar só acontecerá se os EUA não fornecerem a estabilidade necessária para os mercados. "Para a economia mundial, podemos ver o resto do mundo buscar cada vez mais alternativas e a persistência da atual tendência de desvalorização do dólar", prevê.
O dólar continua sendo a moeda mais importante da economia internacional, pautando o comércio mundial e os mercados financeiros. Sua força deriva do dinamismo da economia americana, do seu ambiente político-econômico estável e da ampla cooperação internacional com seus aliados.
André Valério, economista sênior do Inter
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.