Mercedes perde milhões por falta de estrutura para ônibus elétrico em SP

Ler resumo da notícia
A Mercedes-Benz aguarda há meses o pagamento de R$ 300 milhões, referentes a cerca de 175 ônibus elétricos encomendados para a cidade de São Paulo em 2024.
Entenda
Verba só será liberada quando todo o pacote contratado for entregue. Segundo Walter Barbosa, vice-presidente de Vendas e Marketing da Mercedes-Benz do Brasil, o modelo de subvenção da Prefeitura de São Paulo exige que toda a infraestrutura de abastecimento dos ônibus seja entregue. Só então todos os envolvidos receberão a sua parte no contrato. "Não é possível caminhar com o modelo atual de subvenção, porque não existe vínculo entre os fabricantes de chassi e a fornecedora de energia e de infraestrutura", disse ontem em evento da empresa.
A infraestrutura de carregamento dos ônibus é fornecida pela Enel e ainda não ficou pronta. Para garantir o abastecimento de uma grande quantidade de ônibus, é necessário levar linhas de média e alta tensão às garagens das operadoras de ônibus, diz a Mercedes. Com a rede comum, de baixa tensão, é possível carregar apenas algumas dezenas de ônibus, caso contrário há risco de comprometer o fornecimento de energia da cidade.
A Mercedes busca mudar a forma de contratação em São Paulo, a fim de evitar situações semelhantes no futuro. A intenção é que cada fornecedor receba conforme entrega a sua parte no contrato. Outra possibilidade é que a parte que atrasar a sua entrega pague uma multa, a fim de custear o prejuízo dos demais que precisarão esperar para receber.
Estamos propondo construir um modelo que seja viável para todos. Se sou o primeiro da cadeia e produzo o ônibus, e se tiver que esperar a infraestrutura, o custo financeiro de R$ 300 milhões numa Selic a 14,25% é R$ de 3 milhões ao mês. Esse é um modelo que necessita de melhorias.
Walter Barbosa, vice-presidente de Vendas e Marketing da Mercedes-Benz do Brasil
Sem a infraestrutura para abastecer, parte dos ônibus elétricos comprados está parada. Com isso, há risco de danos aos equipamentos, uma vez que as baterias não devem ficar paradas por muito tempo. "O elétrico é quase um produto perecível, não deixar parado em estoque, porque está contando vida da bateria", diz Barbosa.
Enquanto isso, as empresas têm rodado com veículos antigos. Isso porque, desde outubro de 2022, as operadoras de ônibus de São Paulo não podem mais comprar ônibus a diesel. Sendo assim, elas estão sem os veículos elétricos por falta de infraestrutura e não podem renovar a frota com veículos a diesel mais novos. Por isso, em dezembro de 2024, a prefeitura liberou a circulação de ônibus com mais de dez anos de uso, acima do limite estabelecido no contrato com as concessionárias.
Situação atual gera uso maior de combustível, diz executivo da Mercedes. "A intenção foi descarbonizar. Mas, com esses entraves, acabou gerando um desafio muito maior, porque os ônibus na frota estão envelhecendo e gastam mais combustível, já que são ônibus mais velhos", diz Barbosa.
O que diz a prefeitura
Frota de ônibus elétricos poderia ser muito maior se Enel fizesse a sua parte, diz a prefeitura. A Prefeitura de São Paulo disse em nota que a frota elétrica atual é de 527 ônibus em circulação e que "esse número poderia ser muito maior se a Enel estivesse cumprindo a sua obrigação de fornecer energia nas garagens para carregamento dos ônibus".
A Prefeitura aguarda que a concessionária assuma suas responsabilidades e viabilize a infraestrutura necessária para que a população possa contar o mais breve possível com mais ônibus movidos a energia limpa inseridos na frota.
Prefeitura de São Paulo, em nota
A administração municipal diz ainda que só pode pagar pelos veículos que circulam e atendem à população. A prefeitura confirmou que a compra de ônibus a diesel está proibida desde 2022, mas não respondeu a respeito da circulação de ônibus antigos na cidade.
O que diz a Enel
Responsabilidade pela compra dos ônibus é das operadoras, diz Enel. Contatada, a distribuidora disse que a responsabilidade pela aquisição dos veículos é das operadoras de ônibus. Disse ainda que entregou, desde 2024, infraestrutura com capacidade correspondente a 32,3 MW. Segundo a Enel, "a obra de infraestrutura externa das garagens é realizada pela Enel, seguindo critérios regulatórios, enquanto as obras internas são de responsabilidade dos operadores".
Cada caso exige tempo diferente de instalação, diz empresa. A distribuidora afirma ainda que "cada caso exige um tempo diferente de instalação, dependendo da complexidade e tamanho do projeto" e que os contratos são assinados apenas após "a apresentação de projeto e documentação necessários para a viabilidade da obra". Diz ainda que tem realizado reuniões semanais sobre o tema com as empresas de ônibus e a SPTrans.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.