'Estamos bastante incomodados com expectativas para inflação', diz Galípolo

O presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, afirmou que os diretores da autoridade monetária estão "bastante incomodados" com as expectativas para a inflação.

O que aconteceu

Galípolo avalia que as expectativas para a inflação seguem desancoradas. "Nós estamos bastante incomodados", afirmou durante a exposição no Safra Macro Day 2025. Para o comandante da autoridade monetária, o cenário dificulta o entendimento a respeito do patamar adequado da taxa básica de juros e o período da manutenção da política monetária mais restritiva.

Presidente do BC vê resultados da recente elevação da taxa básica de juros. Galípolo disse que os índices de preços começam a dar os primeiros sinais de desaceleração. Ele, no entanto, avaliou ainda ser necessário entender o funcionamento efetivo da política monetária e o resultado efetivo da taxa Selic sobre os preços finais.

Estamos caminhando para entender se o nível [da Selic] com o qual estamos caminhando está chegando no patamar contracionista suficiente para a convergência da inflação.
Gabriel Galípolo, presidente do BC

Selic é o principal instrumento de política monetária para conter a inflação. Com o avanço dos preços e das expectativas para a inflação, a elevação dos juros é utilizada como alternativa para limitar o consumo e, consequentemente, conter a alta do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

'Brasil depende de doses maiores do remédio para fazer efeito', diz Galípolo. O presidente do BC disse entender o cenário com juros em dois dígitos e a taxa de desemprego no menor nível da série histórica como incompatível com o que é observado em outros países. "É estranho você entender como uma economia segue apresentando dinamismo tão elevado com um nível de juros que, para qualquer outra economia, seria entendido como um patamar bastante restritivo", ponderou.

Isso parece sugerir que a fluidez dos canais de transmissão da política monetária no Brasil não funciona como em alguns de nossos pares e em outras economias, o que tem historicamente demandado doses maiores do remédio para fazer efeito. Isso não vai ser resolvido com bala de prata.
Gabriel Galípolo, presidente do BC

Taxa Selic subiu para 14,25% ao ano na última reunião do Copom. A elevação dos juros ao maior patamar desde 2016 foi motivada justamente na tentativa de convergir a inflação para o centro da meta. Na ata que justifica os motivos da decisão, os diretores do BC projetam uma alta da Selic inferior a 1 ponto percentual em maio, mas não confirmam se será o fim do ciclo. O cenário evidencia as incertezas mencionadas por Galípolo.

Galípolo afirma que projeções apresentadas na ata se concretizaram. Ele destacou que as discussões da reunião de março foram tratadas em três pilares: a preocupação com a inflação corrente acima do teto da meta, a defasagem da política monetária e a incerteza sobre o cenário internacional. "Eu acho que o Banco Central e o Comitê de Política Monetária foram felizes na sua última comunicação", avaliou ele.

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