BC: 'Impacto do juro alto para empresas será mais moderado do que em 2015'

O BC (Banco Central) prevê que o atual ciclo de aumento de taxa de juros terá forte impacto para as empresas não financeiras. Ainda assim, as previsões apontam para um efeito mais moderado do que durante a crise de 2015 e 2016.

O que aconteceu

Atual ciclo de alta dos juros vai prejudicar as empresas, admite BC. O diretor de fiscalização da autoridade monetária, Ailton de Aquino Santos, afirmou, durante a apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira, que os efeitos do atual patamar da taxa Selic serão sentidos pelas companhias do ramo não financeiro. Ainda assim, ele projeta um efeito menor do que o observado entre 2015 e 2016.

O aperto monetário vai ter impacto para as empresas não financeiras, mas nós estamos apontando que vai ser mais moderado que durante a recessão de 2015-2016.
Ailton de Aquino Santos, diretor do BC

Empresas menores sentem os efeitos dos juros mais rapidamente. Diogo Guillen, diretor de política econômica do BC, explica que as micro e as pequenas empresas sentiram a política monetária restritiva primeiro. "Empresas menores ou maiores vão sofrer mais, vão sofrer mais rápido", avalia. A ponderação considera a menor capacidade que elas têm para renegociar as dívidas com os bancos.

Taxa Selic alcançou o maior patamar desde outubro de 2016. O nível de 14,25% ao ano foi atingido em março, após cinco altas consecutivas da taxa básica de juros da economia. Para a próxima reunião, em maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) sinaliza para uma alta inferior a 1 ponto percentual, mas não confirma se será o fim do ciclo de aperto monetário.

Mercado financeiro prevê que a Selic vai atingir 15% ao ano. Caso a expectativa seja confirmada, a taxa básica de juros encerrará 2025 no maior patamar desde julho de 2006 (15,25% ao ano). A trajetória resulta da iniciativa do BC para direcionar a inflação ao centro da meta de 3% no acumulado em 12 meses, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

Juros elevados tornam o dinheiro mais caro e freiam a atividade. A Selic funciona como o principal instrumento de política monetária para conter a inflação no Brasil. Isso acontece porque a taxa mais alta deixa o crédito mais escasso, desestimula a produção e o consumo, prejudicando o desenvolvimento econômico.

Banco Central nega mudança de estratégia para inibir prejuízo. Mesmo diante das projeções de impacto na rentabilidade das empresas, o presidente da autoridade monetária, Gabriel Galípolo, descarta uma mudança de postura do BC. "É normal que, em um momento de aperto da política monetária, a gente consiga enxergar um maior esforço imposto do ponto de vista de resultado e de custo financeiro do sistema como um todo. Esse é um mecanismo natural de transmissão da política monetária", disse.

A gente convive com taxas de juros que são relativamente mais elevadas ou comparativamente mais elevadas e, ainda assim, segue vendo um dinamismo mais forte da economia, mesmo em níveis de juros que, para outras economias, representariam um patamar bastante restritivo.
Gabriel Galípolo, presidente do BC

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Cenário será adverso também para o consumo das famílias. O relatório apresentado pelo BC estima o aumento no endividamento com a capacidade de pagamento ainda desafiadora. "Apesar da elevação da renda, a gente não vê uma queda do endividamento", diz Galípolo ao observar o maior uso dos cartões de crédito desde a pandemia.

Com a necessidade de ter um adicional da sua renda, as pessoas passam a utilizar linhas de crédito que são muitas vezes emergenciais. [...] São linhas de alto custo, não são planejadas, que não têm garantias e, por isso, são mais elevadas. Isso tende a inserir uma dinâmica não benéfica para o endividamento das famílias.
Gabriel Galípolo, presidente do BC

BC garante não haver risco para a estabilidade financeira. O documento ressalta que o SFN (Sistema Financeiro Nacional) "permanece com capitalização e liquidez confortáveis e provisões adequadas ao nível de perdas esperadas". Também é enfatizado que os testes de estresse de capital e de liquidez demonstram a robustez do sistema bancário nacional.

Condições financeiras restritivas podem limitar avanços. A autoridade monetária avalia que a rentabilidade do SFN melhorou novamente, impulsionada pelo aumento do resultado de juros com operações de crédito e pelo recuo da materialização de risco. "Esse avanço gradual deve continuar, porém, com efeito mais moderado", diz o relatório.

Há expectativa de cautela na expansão do crédito, o endividamento de famílias e empresas está elevado, e o aperto monetário elevará o custo de captação.
Relatório de Estabilidade Financeira

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