Um mês do tarifaço: bitcoin despencou e depois subiu; o que esperar agora?

O bitcoin seguiu o roteiro dos ativos de risco e desabou no início do mês após o tarifaço anunciado por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, em 2 de abril. Mas, ao longo do mês, a criptomoeda apagou as perdas, engatou uma recuperação e está terminando essas quatro semanas com alta maior que a do ouro, tradicionalmente visto como porto seguro em momentos de crise.
Turbulências ainda podem acontecer nas próximas semanas, mas a perspectiva para a criptomoeda no longo prazo é positiva, na avaliação dos especialistas.
O que aconteceu
No último mês, o preço mais baixo do bitcoin foi atingido no dia 7 de abril, data em que Trump fez mais uma ameaça de aumentar as tarifas comerciais impostas à China. A criptomoeda caiu para a faixa de US$ 74.508 — o pior preço desde o início de novembro de 2024, segundo dados da plataforma CoinGecko. Na segunda-feira (28), ele era negociado a US$ 94.908, acumulando alta de 27% desde a mínima dos últimos cinco meses. Desde o dia 2, a cripto subiu 12,2%.
Nesse mesmo período, os ativos de risco, como as ações de empresas negociadas em Bolsa de Valores, caíram. O índice S&P 500 — que reúne as ações das 500 maiores empresas dos EUA — recuou 2,5%; o da Bolsa de tecnologia Nasdaq caiu 1,34%; e o índice do dólar — o DXY, que mede a força da moeda americana frente a uma cesta de outras divisas — perdeu 4,6%.
O ouro, tido como porto seguro em momentos de crise, avançou. O metal alcançou o recorde histórico no dia 21 de abril perdeu um pouco de força mas ainda acumula alta de 5,4% desde o dia 2.
Podemos observar que tanto o ouro quanto o bitcoin são buscados como reservas de valor alternativas quando há risco de desvalorização do dólar ou de outras moedas fiduciárias. Portanto, os investidores acreditam que o dólar, atualmente, vai perder valor no curto e no médio prazo -- por causa da inflação persistente e da crise fiscal nos EUA --, abrindo espaço para ouro e bitcoin, que são hedges [proteção] clássico e moderno, respectivamente.
Matheus Gutierrez, analista de criptomoedas da Levante Investimentos
Segundo analistas, a trajetória não linear do bitcoin em abril reflete a natureza ainda em amadurecimento do ativo. A criptomoeda ora se comporta como um investimento de risco, caindo junto com as ações, ora age como um hedge (proteção), demonstrando certa resiliência a interferências externas.
É algo saudável. O bitcoin, apesar de ter caído em um primeiro momento de aversão a risco, se descolou e está subindo desde o dia 2 de abril. Acho que é o certo, porque ele é uma moeda de livre negociação, sem intermediários, totalmente descentralizada e que não deveria sofrer com tarifas comerciais.
Theodoro Fleury, diretor da gestora de investimentos QR Asset
O que esperar do bitcoin?
No curto prazo, o bitcoin deve seguir transitando dentro de uma zona de consolidação de preço. É a avaliação de Ana de Mattos, analista técnica e trader parceira da plataforma de negociação de criptoativos Ripio.
Nas próximas semanas, o preço do bitcoin pode ser impactado por três fatores, segundo os especialistas. São eles: as tensões geopolíticas, como o desenrolar da guerra entre Rússia e Ucrânia, o embate comercial e diplomático entre EUA e China, e os indicadores macroeconômicos dos EUA, especialmente a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), no dia 7 de maio.
O principal gatilho continua sendo a política comercial dos EUA. A retórica de tarifas recíprocas, embora mais moderada que o esperado, ainda tem o potencial de desorganizar cadeias produtivas e inflamar expectativas inflacionárias. A possível postergação do ciclo de cortes de juros [nos EUA] é outro fator decisivo: mais tempo com juros altos significa mais pressão sobre ativos de risco, inclusive o bitcoin.
Rony Szuster, diretor da área de pesquisa da plataforma de negociação Mercado Bitcoin
A visão de longo prazo para a cripto permanece positiva, segundo especialistas. Contribuem para essa perspectiva o fato de a oferta da moeda ser limitada e o avanço da adoção institucional, especialmente por meio de ETFs (fundos negociados em Bolsa). Os ETFs de bitcoin à vista dos EUA, lançados em janeiro de 2024, já somam US$ 103,34 bilhões em ativos líquidos totais, segundo dados da plataforma SoSoValue, o que representa 5,71% do valor de mercado total do ativo digital, de cerca de US$ 1,8 trilhão.
Além desses fatores, a consolidação da visão da criptomoeda como uma reserva de valor alternativa ao ouro, especialmente em momentos de incerteza como o que estamos vivenciando, cria corpo para uma alta crescente e relevante.
Guilherme Prado, diretor da corretora de criptomoedas Bitget no Brasil
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