Após falas duras sobre juros, Galípolo diz amenidades: 'cabelo desarrumado'

O presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, recorreu hoje a um tom descontraído e chegou a dizer que esperava vir de tênis e calça jeans a um evento de inovação financeira promovido pela autoridade monetária e a Fenasbac (Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central).

A fala despojada contrasta com as críticas dele à expectativa da inflação, feitas há dois dias no Safra Macro Day 2025.

O que aconteceu

Galípolo começou 'quebrando' protocolo. No início da fala, de cerca de 10 minutos, o presidente do Banco Central já alertou a equipe dele que iria ler o discurso previamente escrito. "Eu prometo, para não dar o desespero da equipe aqui, que eu vou ler, eu prometo que eu vou ler. Eu, usualmente, sou pouco disciplinado e não leio, mas em período de silêncio é importante que eu leia". A "promessa" só foi seguida minutos depois.

Presidente do Banco Central comentou sobre roupa e "cabelo desarrumado". Galípolo disse que, por estar em um evento de inovação, iria ter um "grau de liberdade maior" em relação à estética. "Eu achei que eu iria poder vir de tênis, calça jeans, para dar uma coisa mais relacionada à inovação. Infelizmente, neste primeiro ano, nem a gravata eu consegui tirar, eu só estou com meu cabelo desarrumado, mas ele é cotidianamente desarrumado. Então, não é nada especial. Mas prometo que na próxima eu vou tentar ser mais inovador e tentar vir com um traje menos formal", disse durante o Lift Day.

No evento de hoje, além de falar sobre a vestimenta, Galípolo chegou a comentar sobre o papa Francisco. O presidente do Banco Central falava sobre inovação, que, segundo ele, ocorre a partir da necessidade. "O filósofo (Denis) Diderot dizia que se você tem uma inovação - e usava a Igreja Católica como sinônimo de conservadorismo, algo que mudou bastante, recentemente, com o nosso querido papa Francisco também - mas (Diderot) dizia que se o padre fosse a favor da inovação era sinal que a inovação não era boa", disse. Para Galípolo, é importante contar com pessoas que tenham a coragem de conseguir arriscar com a inovação, enxergar nela uma oportunidade e entender como ela pode resolver problemas e atender as necessidades que vão surgindo.

Após cerca de 5 minutos de fala improvisada, Galípolo seguiu o roteiro, lendo texto previamente escrito. Na fala planejada, o presidente do Banco Central destacou a importância do Lift (Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas), uma iniciativa conjunta do Banco Central do Brasil e da Fenasbac.

Há dois dias, Galípolo disse que os diretores do BC "estão bastante incomodados" com as expectativas para a inflação. Para ele, o cenário dificulta o entendimento a respeito do patamar adequado da taxa básica de juros e o período da manutenção da política monetária mais restritiva.

Galípolo disse que os índices de preços começam a dar os primeiros sinais de desaceleração. Ele, no entanto, avaliou ainda ser necessário entender o funcionamento efetivo da política monetária e o resultado efetivo da taxa Selic sobre os preços finais. Na última reunião do Copom, a taxa Selic - que é o principal instrumento de política monetária para conter a inflação - subiu para 14,25% ao ano. "Estamos caminhando para entender se o nível [da Selic] com o qual estamos caminhando está chegando no patamar contracionista suficiente para a convergência da inflação", disse o presidente do Banco Central.

Há dois dias, Galípolo disse que o "Brasil depende de doses maiores do remédio para fazer efeito". O presidente do BC disse entender o cenário com juros em dois dígitos e a taxa de desemprego no menor nível da série histórica como incompatível com o que é observado em outros países. "É estranho você entender como uma economia segue apresentando dinamismo tão elevado com um nível de juros que, para qualquer outra economia, seria entendido como um patamar bastante restritivo", ponderou.

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Isso parece sugerir que a fluidez dos canais de transmissão da política monetária no Brasil não funciona como em alguns de nossos pares e em outras economias, o que tem historicamente demandado doses maiores do remédio fazer efeito. Isso não vai ser resolvido com bala de prata. Gabriel Galípolo, presidente do BC

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