Com juros altos, consórcio cresce como alternativa ao crédito na Agrishow

A alta dos juros no Brasil mudou a estratégia dos produtores interessados em comprar máquinas e equipamentos na Agrishow deste ano. Capitalizados pela safra recorde de grãos e pela valorização de commodities como café e laranja, os empresários do campo recorreram mais a consórcios e outras modalidades fora dos financiamentos tradicionais para renovar a frota.

A vez dos consórcios

O aumento da procura por consórcios na Agrishow em 2025 era esperado em um cenário de juros altos — a taxa básica Selic subiu de 10,5% ao ano para 14,25% ao ano desde maio passado. A modalidade cobra apenas uma taxa administrativa e permite contemplação por lances ou sorteios.

Diante dessa expectativa, fabricantes de maquinário e instituições financeiras chegaram ao evento oferecendo condições especiais no produto, o que fez a fatia dessa modalidade dobrar em alguns estandes, segundo expositores.

Por exemplo, a finlandesa Valtra, de tratores, lançou neste ano um grupo especial de consórcio, chamado "Super 3000", com prazo estendido de 150 meses (antes eram 120) e maior número de contemplações — serão 800 máquinas entregues em dois anos.

A parcela acaba tendo uma redução porque o prazo é esticado. O consórcio é para o planejamento de longo prazo e acabou sendo uma ferramenta para fomentar o negócio nesse contexto de juros um pouco mais elevados.
Claudio Esteves, diretor comercial da Valtra

O executivo calcula que as vendas consorciadas da marca devem atingir cerca de 14% das transações no evento, o dobro do ano passado, quando esse índice ficou entre 7% e 10% dos negócios fechados. Nos últimos cinco anos, o consórcio nacional Valtra teve um crescimento superior a 30%. Na Agrishow, a expectativa era fechar a venda de cerca de 500 cotas.

A modalidade foi destaque neste ano na americana New Holland, também de tratores. A empresa levou à Agrishow uma linha própria de consórcio e estimou crescimento de 21% nas contratações em relação ao ano passado. As contemplações da marca também devem aumentar 15% nesse novo produto.

Adenilso Pereira dos Santos, empresário de mecanização agrícola de Minas Gerais, fechou seis consórcios na feira. Ele havia usado a modalidade antes e pretende pegar a primeira máquina por lance ainda neste ano.

Se eu fosse financiar em cinco anos, poderia pagar 60% de juros. No consórcio, pago apenas a taxa administrativa, que vai dar uns 14%. É excelente para quem quer renovar frota sem se endividar demais. No cenário atual, é a melhor saída.
Adenilso Pereira dos Santos, empresário do agronegócio

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Dados da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios) mostram que a modalidade movimenta mais de R$ 50 bilhões ao ano no país, sendo 20% disso atribuídos ao agronegócio. Desse montante, o consórcio de máquinas e equipamentos agrícolas responde por 25% do total de recursos.

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