De 'tênis de vovó' a 3ª maior: quem é a Skechers, que atraiu a 3G de Lemann
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Dos pés dos adultos acima de 50 anos para o radar dos bilionários. A Skechers, marca americana de calçados conhecida pelo conforto dos seus tênis e a terceira maior companhia do setor do mundo, acaba de ser comprada pela 3G Capital, gestora de investimentos dos empresários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
A aquisição sinaliza uma aposta de longo prazo do trio de bilionários. A empresa é avaliada em US$ 9,42 bilhões (R$ 53,1 bilhões), em um mercado global de calçados que segue em expansão, especialmente fora dos Estados Unidos, mas que enfrenta incertezas no curto prazo. China e Vietnã são dois dos principais polos de fabricação da Skechers.
Quem é a Skechers
A empresa foi fundada em 1992 e é conhecida por calçados focados em conforto. Sem se preocupar com tendências de moda ou performance esportiva, a ênfase da marca está na produção de produtos confortáveis e com inovação tecnológica, o que rendeu à marca o apelido de "tênis de vó".
Com modelos acessíveis e práticos, incluindo opções sem cadarço, a Skechers construiu um público fiel entre aposentados e famílias. Ao contrário da Nike, que aposta em superastros, e de marcas como Hoka ou On, que falam com nichos específicos, a Skechers mira o consumo de massa — e isso tem dado certo.
Nos últimos anos, a Skechers também começou a investir em esportes como futebol e basquete. Contratou o atacante inglês Harry Kane, do Bayern de Munique, e o pivô Joel Embiid, do Philadelphia 76ers. "Eles vêm porque o mercado não prestou atenção neles", disse David Weinberg, COO da empresa, em entrevista ao Wall Street Journal.
Gestão low profile. Sob comando do fundador Robert Greenberg, de 84 anos, e seu filho Michael, a Skechers tem gestão discreta — o CEO não dá entrevistas há mais de uma década e evita teleconferências com investidores.
Cresceu mais que a Nike e a Adidas
Em 2024, a empresa teve faturamento próximo a US$ 9 bilhões. Para 2026, a projeção é atingir US$ 10 bilhões em receitas, mas ainda abaixo das rivais Nike e Adidas, que faturaram US$ 51 bilhões e US$ 27 bilhões, respectivamente, no ano passado.
Por outro lado, o preço das ações da empresa nos últimos cinco anos quase dobrou. Enquanto as da Nike e da Adidas caíram mais de 25%. Sem edições limitadas ou campanhas mirabolantes, a Skechers foca em funcionalidade e preço. Seus tênis infantis custam por volta de US$ 50 e modelos de pickleball com sola Goodyear chegam a US$ 115.
Os detalhes do negócio
A proposta animou o mercado. Segundo os termos divulgados nesta segunda-feira (5), a 3G pagará US$ 63 por ação da Skechers, um prêmio de 30% sobre a média das últimas duas semanas. O anúncio fez os papéis da empresa saltarem 24% no mercado de ações.
O negócio deve ser concluído até o terceiro trimestre de 2025, e deixará a 3G com cerca de 80% da nova empresa. Os fundadores da Skechers, a família Greenberg, continuarão com participação próxima de 20%.
A Skechers é uma marca icônica, liderada por um fundador, com um histórico de criatividade e inovação
Sócios da 3G Alex Behring e Daniel Schwartz, em comunicado.
As apostas do trio de bilionários
A marca tem cerca de 5 mil lojas no mundo e dois terços de sua receita vêm de fora dos Estados Unidos. Em vez de abrir operações próprias rapidamente, a empresa adota um modelo com franquias e expansão gradual. Segundo executivos, já é maior que a Nike na Índia.
No Brasil, a Skechers começou a operar em 2007 e atualmente tem 15 lojas. A América Latina, junto com a Ásia, é vista como prioridade de crescimento nos próximos anos.
A aquisição é uma aposta no longo prazo. O setor de calçados esportivos vive um momento de atenção geopolítica: os EUA aplicaram tarifas de 46% sobre produtos vietnamitas em abril, em mais um capítulo da guerra comercial com países asiáticos — justamente onde a Skechers fabrica boa parte de seus produtos. Ainda assim, os Estados Unidos continuam sendo seu maior mercado, com 38% das vendas globais.
A compra da Skechers repete uma estratégia já conhecida da 3G: investir em empresas familiares lideradas por fundadores veteranos. Em 2022, o grupo comprou a fabricante de persianas Hunter Douglas em um modelo semelhante. O filho do fundador ficou à frente do negócio, e a família manteve 25% da empresa.
Criada em 2004, a 3G Capital já foi sócia da Kraft Heinz (ao lado de Warren Buffett). A gestora do trio de bilionários também é responsável pela AB InBev (controladora da Ambev) e é acionista da Restaurant Brands International, dona do Burger King. Na Kraft Heinz, a aposta perdeu fôlego com o tempo: desde a fusão em 2015, as ações caíram 33%, e a 3G deixou o negócio em 2023.
O trio também é acionista da Americanas. A varejista entrou em recuperação judicial no início de 2023 após revelar uma fraude contábil bilionária. O caso continua sendo um dos maiores escândalos do setor no Brasil.
Com a entrada na Skechers, a 3G Capital abre sua presença no setor de calçados. Agora pisando em um mercado que deve registrar US$ 503,83 bilhões em tamanho de mercado até 2028, de acordo com pesquisa da Mordor Intelligence.
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