Analistas agora apontam fim da alta de juros na próxima reunião do Copom

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) de aumentar a taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto percentual, para 14,75% ao ano, correspondeu às expectativas do mercado. Mas a maioria dos especialistas esperava que esta seria a última alta do ano. Após o comunicado do BC sobre a decisão de hoje deixar em aberto medidas futuras, analistas consultados pelo UOL dizem que o fim do ciclo de elevação pode vir na próxima reunião do comitê, em junho.
É o fim do ciclo de altas?
Antes da decisão de hoje do Copom, o mercado financeiro apostava que os juros terminariam 2025 na casa dos 14,75% ao ano. Por algumas semanas, os analistas do mercado estavam prevendo que a Selic ainda subiria até 15% ao ano nos próximos meses. Mas os especialistas reduziram sua projeção para 2025 para 14,75% ao ano, segundo a edição mais recente da pesquisa semanal Focus, feita pelo BC e divulgada na última segunda-feira (5).
No comunicado de hoje, o BC sinalizou que ainda não é possível dizer que não haverá altas adicionais de juros neste ano. "O cenário de elevada incerteza demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação", afirmou o BC no texto. "O comitê se manterá vigilante, e a calibragem do aperto monetário apropriado seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante."
Expectativas dos analistas agora variam entre mais uma alta de 0,25 ponto percentual, para 15% ao ano, e a manutenção da taxa em 14,75% ao ano na próxima reunião. "O BC deixou a porta aberta para receber novos dados, acompanhar a volatilidade internacional. E aí, na próxima reunião, ele decide se, de fato, já parou por aqui ou se precisará dar um ajuste residual. Se vier um ajuste adicional, e seria o último, seria residual, ou seja, 25 pontos, no máximo", diz Matheus Spiess, analista de macroeconomia da Empiricus Research.
Período de juros altos deve ser prolongado. Chamou a atenção do mercado o fato de o BC ter mencionado, no comunicado da decisão, um "período prolongado" de juros altos. Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, o texto indica que "o Copom prefere observar a transmissão da política monetária à frente, mantendo os juros em patamar contracionista por um longo período".
Dúvida agora é quando virá o corte de juros no futuro. "A gente pode esperar um corte de juros? Esse vai ser o grande debate agora: se o corte de juros virá no final deste ano ou no começo do ano que vem", diz Spiess, da Empiricus.
O impacto do dólar
Queda do dólar mudou cenário no Brasil e acalmou as expectativas sobre juros. Há poucos meses, o mercado previa que a Selic poderia chegar a 16% ao ano, com alta de 0,75 ponto percentual na reunião de hoje. "O que mudou foi o câmbio, que caiu bastante. O dólar chegou a ser vendido a R$ 6,20 e estamos hoje na casa dos R$ 5,70. Isso é muito bom para a inflação", diz Gustavo Jesus, sócio da RGW Investimentos.
Política tarifária de Trump deve desacelerar economia global, favorecendo a redução dos juros. "As incertezas de um mundo com mais tarifas giram em torno de uma desaceleração norte-americana, que tem potencial para levar a economia global a um menor crescimento, seja ou não uma recessão. Menos crescimento demanda menos juros", diz Helena Veronese economista-chefe B.Side Investimentos.
Inflação
A elevação da Selic em 0,5 ponto percentual ocorre após três altas seguidas de 1 ponto percentual. No comunicado da reunião de março, o Copom já sinalizou que elevaria os juros em "menor magnitude". Aquele comunicado não informou o que aconteceria depois da reunião de maio, apenas disse que a economia brasileira continua aquecida e que existem incertezas internacionais provocadas pela política comercial norte-americana.
Gabriel Galípolo disse que Banco Central está incomodado com inflação. Galípolo, presidente do BC, afirmou há alguns dias que os diretores da autoridade monetária estão "bastante incomodados" com as expectativas para a inflação. Depois das falas duras, Galípolo passou a usar um tom mais descontraído.
No boletim Focus mais recente, a estimativa para o IPCA (considerado a inflação oficial do país) em 2025 ficou em 5,53%. O número caiu em comparação à estimativa de quatro semanas atrás, quando o indicador estava em 5,65%, mas ainda representa inflação acima do teto da meta, que é 3%, com tolerância até 4,5%.
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