Com alta da Selic, empréstimos e financiamentos devem ficar mais caros

O Banco Central elevou novamente a taxa básica de juros ontem, para 14,75% ao ano. Como consequência, empréstimos, financiamentos e parcelamentos devem ficar mais caros, segundo especialistas ouvidos por UOL Economia.

O que deve acontecer

Impacto direto no bolso. A Selic é a taxa básica de juros da economia: quando está baixa, favorece o consumo; quando está alta, gera efeito contrário. Esse mecanismo é utilizado para controle da inflação. "Quando a Selic sobe, o custo do dinheiro aumenta", explica João Kepler, CEO do Equity Group. "Com a Selic em patamares elevados, o crédito se torna mais caro tanto para consumidores quanto para empresas", complementa André Matos, CEO da MA7 Negócios.

Empréstimos, financiamentos e parcelamentos devem ficar mais caros. Financiamentos atrelados à taxa Selic ou ao índice dos CDIs (Certificados de Depósitos Interbancários) vão ser os mais afetados. "Para quem está pensando em comprar um carro, financiar um imóvel ou mesmo usar o rotativo do cartão de crédito, o impacto é direto no bolso. As parcelas aumentam, e o acesso ao crédito fica mais restrito", alerta Kepler. "Financiamentos, capital de giro e renegociações passam a ter um custo mais alto, o que pressiona ainda mais empresas que já operam com margens apertadas ou com algum grau de endividamento", observa Matos.

Eventuais financiamentos atrelados à Selic ou CDIs ficariam mais caros, o que levaria os empresários a postergar eventuais planos de investimentos destinados a aumentar a produção e/ou a produtividade. Esta conduta levaria a diminuição da oferta de produtos ou serviços, pressionando ainda mais o aumento de preços e o crescimento da economia (PIB). Já os consumidores tenderiam a ter que renegociar dívidas ou restringir seu consumo, ou ambas as coisas. Este fator contribuiria para esfriar a demanda, o que teria um efeito benéfico sobre as pressões inflacionárias. Ricardo Júlio Rodil, economista e líder do Mercado de Capitais da Crowe Macro Brasil

Famílias endividadas e empresas que dependem de capital de giro devem ser as mais impactadas. Entre as empresas mais afetadas estão aquelas ligadas aos setores de varejo e construção civil. Nelas, a alta dos juros compromete o fluxo de caixa dessas companhias e acelera processos de inadimplência ou reestruturação, observa Matos.

Para os consumidores, especialmente aqueles com dívidas de juros variáveis, o aumento da Selic significa parcelas mais altas e maior dificuldade em manter as contas em dia. João Kepler, CEO do Equity Group

Mais pobres devem ser os mais afetados. Famílias com renda de até três salários mínimos devem ser os mais impactados com a alta da taxa Selic, observa Alexandre Miserani, professor de Economia do UniArnaldo Centro Universitário, de Belo Horizonte. "A classe mais pobre não dispõe de dinheiro para poder investir. Com a taxa Selic mais alta, você tem maiores juros nos investimentos, então ela não vai privilegiar disso", observa.

Por outro lado, dólar pode baixar. Ricardo Júlio Rodil, economista e líder do Mercado de Capitais da Crowe Macro Brasil, observa que o aumento da taxa Selic pode provocar elevação na entrada de investimentos estrangeiros. Como consequência, o dólar pode registrar queda. "A queda nas cotações da moeda norte-americana levaria a um barateamento dos produtos importados, o que aliviaria arte das pressões inflacionárias, tendendo a manter o poder de compra dos brasileiros. Concomitantemente, os exportadores teriam menos incentivos para exportar, o que aumentaria a oferta agregada de produtos no Brasil, contribuindo também para o alívio das pressões inflacionárias", observa Rodil.

Alta da Selic também pode fazer investidores a aplicar em fundos atrelados à Selic. O movimento é conhecido por 'financismo', explica Rodil. " Haveria um encarecimento do crédito interno, o que impactaria as possibilidades e planos de empresários locais de investir em aumentos da produção e/ou da produtividade. Estes impactos teriam um efeito de contração da oferta agregada, alimentando mais uma vez as pressões inflacionárias."

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Aumento da taxa Selic já era esperada pelo mercado. Por conta da inflação elevada, uma nova alta já era prevista. "O Brasil está com uma inflação persistente, e o Banco Central tenta conter isso subindo os juros. O problema é que a estratégia não está sendo eficaz, já que a inflação segue pressionada, especialmente pelos fatores fiscais e externos", observa Pedro Ros, CEO da Referencia Capital.

Elevação da taxa básica de juros pode ser respingo de tarifaço de Trump. Miserani entende que as tarifas de importação aplicadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocaram a desestabilização da economia mundial, incluindo o Brasil. "Por conta disso, obviamente, o Banco Central (do Brasil) tem que se precaver para que nós não tenhamos um incremento na taxa de inflação. Então, o que ele tem que fazer? Ele tem que dificultar o acesso ao crédito para que não gastemos mais, tendo em vista que o cenário econômico mundial, pelo menos a curto e médio prazo, ainda está indefinido".

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