Parceria iFood-Uber e avanço de chinesas acirram guerra no delivery

Novas parcerias e negócios estão aquecendo o mercado de delivery no Brasil. O iFood anunciou ontem uma aliança estratégica com a americana Uber. Além disso, a chinesa Meituan prepara sua chegada ao Brasil, a 99Food anunciou seu retorno ao mercado nacional e a Rappi divulgou um plano agressivo para crescer nas entregas. Esses anúncios movimentam ainda mais o mercado de delivery no Brasil, que se prepara para um ponto de virada, segundo especialistas.

O que fez o iFood

Líder no mercado brasileiro de delivery, o iFood busca, com a aliança com a Uber, fortalecer sua posição. Usuários do aplicativo de entregas poderão solicitar corridas sem sair de sua plataforma, enquanto, no app de viagens, será possível acessar os serviços de entrega de comida, farmácias e conveniência do iFood.

iFood é líder nacional. Segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), o serviço de delivery da empresa tem hoje cerca de 80% do mercado.

Acordo quer simplificar dia a dia dos brasileiros. A companhia disse que o objetivo do acordo com a Uber é "simplificar o dia a dia dos brasileiros ao disponibilizar os serviços de mobilidade e entrega nos dois aplicativos mais populares do país em suas respectivas áreas". A parceria estabelece que, no aplicativo da Uber, a aba de delivery apresente as opções do iFood. Já no app da brasileira, uma nova aba de mobilidade permitirá que os usuários solicitem viagens na Uber.

Acreditamos que essa parceria vai impulsionar mais pedidos aos restaurantes, mercados, farmácias e conveniência em geral; gerar mais renda aos entregadores e motoristas e simplificar ainda mais a vida dos consumidores
Diego Barreto, CEO do iFood

A integração começará a ser disponibilizada no segundo semestre em cidades selecionadas. A expansão para todo o país está prevista em seguida. Não haverá alterações no Uber Direct e no Uber Flash e, no caso do iFood, a empresa diz que também não haverá mudanças em nenhum serviço de logística prestado aos parceiros e nem no "Sob Demanda", que oferece entrega para quem opera dentro e fora do app.

O UOL apurou que nada mudará para os motoristas que prestam serviços para a Uber e para os entregadores cadastrados junto ao iFood. Assim como para as receitas das duas empresas, que também não serão compartilhadas.

Ponto de virada no mercado de delivery

Estratégia do iFood é crescer em outras verticais e se tornar o "faz-tudo" do brasileiro. No dia 7 de maio, a companhia divulgou a campanha "o iFood é tudo para mim" com o objetivo de popularizar a entrega de itens de farmácias, pet shop, conveniência, bebidas e shopping à porta do cliente.

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O iFood quer ampliar a representatividade dessas outras categorias. Segundo a empresa, o segmento de restaurantes representa 85% do faturamento da empresa, enquanto todas as outras categorias somam apenas 15%. A meta para os próximos três anos é alterar a participação desses segmentos, presentes desde 2019, para uma proporção de 60% e 40%. O anúncio foi feito dias após novidades anunciadas pelos concorrentes, mas a empresa nega qualquer relação.

É uma frente estratégica em desenvolvimento desde 2019 e foi consolidada com o novo posicionamento de marca lançado no início de 2025. A campanha 'iFood é Tudo Pra Mim' reforça o papel da empresa como uma plataforma completa de conveniência, alinhada às necessidades dos consumidores
iFood em nota ao UOL no dia 13 de maio

99Food voltou, e Rappi faz ação

A mais recente escalada da disputa no delivery começou em abril, quando a 99Food anunciou seu retorno ao mercado brasileiro. A empresa, controlada pela chinesa Didi, divulgou um investimento de R$ 1 bilhão, sem especificar a finalidade e o período da aplicação, mas ressaltando que parte seria para o serviço de entregas. A previsão é que o 99Food volte a funcionar até junho deste ano.

O aplicativo já operou no Brasil, mas encerrou seus serviços em 17 de abril de 2023. Na época, a empresa afirmou que iria concentrar investimentos na expansão do 99 Moto e em outras modalidades, como a entrega de itens pessoais, por exemplo. Como parte de seu relançamento, a empresa também anunciou no último dia 29, a isenção de taxas para restaurantes por dois anos.

Rappi deu desconto. Na sequência a Rappi, no dia 5 de maio, também divulgou que irá zerar taxas de intermediação, mas por três anos, também como uma tentativa de atrair estabelecimentos para o seu aplicativo. A empresa, com sede na Colômbia, está no Brasil há oito anos, mas tem cerca de 8% de participação no mercado.

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Pagamento maior. À Folha de S. Paulo, Felipe Criniti, CEO da Rappi no Brasil, disse que a empresa também se prepara para anunciar um reajuste aos entregadores que trabalham no aplicativo mais alto do que o anunciado pelo iFood - R$ 7 no caso dos ciclistas e R$ 7,50 nas entregas de carro ou moto.

A disputa no delivery também vai envolver outra chinesa, a Meituan. No início desta semana, a companhia confirmou sua entrada, que já era especulada, com a marca Keeta, que já tem escritório em São Paulo. O anúncio foi feito durante a visita do presidente Lula a Pequim, onde a Meituan também divulgou o investimento de R$ 5,6 bilhões no Brasil. A marca domina o mercado de delivery da China, opera também em Arábia Saudita e Hong Kong, onde vale mais de R$ 600 bilhões na Bolsa.

O que pode acontecer agora

Para especialistas, o mercado de delivery está em um "ponto de virada" após a estabilização do setor no pós-pandemia. Dados do Instituto Foodservice Brasil apontam queda de tráfego, de -3% em 2024 na comparação com o ano anterior. O crescimento atual se sustenta quase exclusivamente no aumento do ticket médio (+4%) devido à carestia dos alimentos. Em 2024, o grupo de alimentos e bebidas do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) fechou com alta de 7,60%.

Isso indica que as plataformas agora competem não só por consumidores, mas com restaurantes e por parceiros.

Elas tentam compensar a desaceleração no consumo com estratégias de fidelização e novos serviços. O delivery vive um reaquecimento mas com uma nova racionalidade, mais centrado em rentabilidade, diversificação e diferenciação.
Ingrid Devisate, vice-presidente do Instituto Foodservice Brasil

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Os especialistas também avaliam que essas mudanças recentes deverão diminuir a concentração de mercado e levar melhores preços ao consumidor. Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, lembra que, em 2020, a Rappi abriu um pedido de investigação no Cade sobre supostas práticas anticompetitivas. A empresa argumentou que o iFood estaria sujeitando os restaurantes da plataforma a um regime de exclusividade, e que o monopólio impedia a concorrência.

O Uber Eats, divisão de delivery da Uber, encerrou suas operações no Brasil em 2022. A empresa alegou que seria a segunda maior do setor, com 10% a 15%, mas ainda distante do iFood que detinha uma fatia estimada em 80%. Um ano depois a 99Food também encerrou seu serviço no país. Ainda em 2023 o iFood teve de assinar um acordo limitando os contratos de exclusividade. Agora, principalmente com a Meituan, a concorrência deve se acirra, diz Solmucci.

Com isso ganhamos todos, os consumidores, os dons de vários restaurantes e essas empresas também. Estamos animados com esse novo momento
Paulo Solmucci, presidente da Abrasel

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